Pesquisa na estratosfera mostra que metal das estruturas espaciais se decompõe ao entrar de volta na atmosfera, liberando materiais estranhos à essa região da Terra
O chamado “lixo espacial” vem sendo alvo de pesquisas e reportagens, porém a agência federal norte-americana para o clima e os oceanos (NOAA) divulgou neste mês uma pesquisa com dados inéditos sobre partículas microscópicas de metal que pairam sobre a humanidade na estratosfera.
Investigando moléculas de ácido sulfúrico, substância que compõe a maior parte desta camada da atmosfera, cientistas encontraram partículas de outros materiais “pegando carona”. São metais como alumínio, ferro, cobre, cromo, prata e lítio, entre muitos outros, usados na estrutura de foguetes e satélites.
O objetivo inicial da NOAA foi investigar o estado dos aerossóis, gases que refletem a radiação solar e compõem a chamada camada de ozônio, que protege a vida na Terra de um calor exacerbado vindo do Sol. A pesquisa foi publicada no jornal acadêmico “Proceedings of the National Academy of Sciences“.
Os detritos microscópicos se formam quando esses equipamentos entram de volta na atmosfera, no caso dos foguetes, peças dispensadas no momentos da subida ao espaço, por exemplo, e no caso dos satélites, no momento de descida que ocorre quando o equipamento chega ao fim de sua vida útil. A fricção com os gases da estratosfera esquenta e dissolve os metais em partículas minúsculas, que então se agarram às moléculas de ácido sulfúrico.
“Dois dos elementos mais surpreendentes que vimos nessas partículas foram o nióbio e o háfnio”, afirma o pesquisador Daniel Murphy, que liderou a equipe da NOAA em voos científicos sobre o Ártico, a bordo de um avião especial da NASA, a agência espacial americana.
Nióbio e háfnio não ocorrem como elementos livres na natureza, mas são refinados a partir de minérios e usados em semicondutores e superligas utilizadas na fabricação de foguetes e satélites. Além destes dois elementos incomuns, as partículas analisadas continham cobre, lítio e alumínio em concentrações muito superiores à abundância encontrada na poeira de meteoritos, algo também presente na estratosfera. “A combinação de alumínio e cobre, além de nióbio e háfnio, que são usados em ligas de alto desempenho resistentes ao calor, apontou para a indústria aeroespacial”, disse Murphy.
No momento, a concentração de metais nesta camada da atmosfera ainda é considerada normal, afirma a NOAA, afetando cerca de 10% das moléculas de ácido sulfúrico analisadas durante os voos exploratórios do time de pesquisa. Contudo, a crescente evolução das viagens espaciais e o contínuo lançamento de satélites gera uma previsão de muitos detritos, o que deve ser monitorado de perto.
Há cerca de 8.700 satélites atualmente em órbita na Terra, sendo que quase 7.900 estão destinados a queimar na reentrada na atmosfera, liberando partículas metálicas.
“Com 10%, a fração atual de aerossol estratosférico com núcleos metálicos não é grande”, afirma o coautor do estudo Martin Ross. “Mas, mais de 5.000 satélites foram lançados nos últimos cinco anos. A maioria deles retornará nos próximos cinco anos, e precisamos saber como isso poderá afetar ainda mais os aerossóis estratosféricos.”
Texto: Marco Britto, para o Um Só Planeta