sexta-feira,22 novembro, 2024

Fazenda autônoma permite que cliente ‘colha’ a própria alface em supermercado de SP

Máquina foi criada pela agtech 100% Livre, que trabalha com fazendas verticais na capital paulista

Uma máquina de autoatendimento que permite ao cliente “colher” uma hortaliça livre de agrotóxicos na hora, como se estivesse em uma fazenda. Essa é a proposta da máquina Mini Fazenda Vertical, desenvolvida pela empresa 100% Livre, que está em funcionamento em uma loja do Pão de Açúcar, em São Paulo.

Diego Gomes, 37 anos, CEO da agtech, conta que a ideia surgiu no ano passado. O objetivo era levar um pouco da experiência de uma fazenda para mais perto do consumidor. Ele calcula que o investimento para o desenvolvimento tenha ficado na casa dos R$ 10 mil. “Passamos de quatro a cinco meses desenhando a máquina e buscando fornecedores para concretizar”, diz.

O equipamento foi instalado há cerca de 15 dias, a princípio com três tipos de hortaliça: alface lisa, mimosa e frisée. “É possível colher na hora e ir direto para o caixa. O cliente consegue ver, em tempo real, a iluminação, a troca de ar, a temperatura ideal, ter uma experiência próxima ao que fazemos nas fazendas”, explica. Até o momento, a reposição tem sido feita a cada dois dias, em média. “A gente já leva no ponto da colheita, em um tamanho entre 120 e 140 gramas, que seria uma boa quantidade para duas pessoas consumirem em até três dias”, diz.

O consumidor seleciona suas hortaliças e realiza o procedimento de compra e colheita sem precisar tocar nos vegetais – como em uma vending machine. Gomes conta que, nos primeiros dias, os clientes achavam que a máquina era só para ser observada, como um totem. Foram necessários alguns ajustes na comunicação visual para encorajá-los a interagir com o equipamento.

O empreendedor adianta que já está conversando com redes de restaurantes e escolas para instalar máquinas nos locais. Outros supermercados também podem receber a novidade que, segundo ele, sai mais barata para o consumidor, inclusive em comparação com outros produtos de hortifruti da marca. “O outro [produto] já é embalado, fechado, com um controle maior de temperatura, além de ser higienizado. O produto da máquina precisa ser lavado, pois tem mais contato humano”, diz.

Diego Gomes, CEO da 100% Livre — Foto: Divulgação
Diego Gomes, CEO da 100% Livre — Foto: Divulgação

A 100% Livre surgiu a partir de uma preocupação do próprio empreendedor e de sua esposa com a alimentação do primeiro filho, que nasceu em 2014. “Começamos a ir a feiras de orgânicos, mas não era fácil de encontrar como hoje em dia”, diz.

Ele lembra de ter visto uma reportagem em 2018 sobre o conceito de produção de hortaliças em ambiente controlado, e foi buscar mais informações. Gomes encontrou um pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que tinha algumas análises sobre o tema, que foram o pontapé inicial para ele começar suas pesquisas. “Junto com isso começamos a equipe da 100% Livre”, conta.

A empresa desenvolveu um sistema de produção mais curto, com várias safras ao ano, para diferentes espécies de hortaliças, como alface, agrião, manjericão, coentro, tomate e morango. Recentemente, iniciou a produção de trigo indoor. As vendas para pessoas físicas são feitas pelas plataformas digitais da empresa e por meio da distribuição para redes de supermercados, hortifrutis, restaurantes e até hospitais da capital paulista. Nesses casos, os produtos são vendidos embalado.

Gomes conta que a empresa começou em um contêiner. Com o tempo, instalou uma torre de produção vertical, chegando depois a um total de seis. No ano passado, a 100% Livre recebeu um aporte de R$ 10 milhões da BMPI Venture, braço de Venture Capital da BMPI Infra, para acelerar sua expansão, e agora chegou a 33 torres. Para este ano, a previsão de faturamento da 100% Livre é de R$ 3 milhões.

As duas fazendas verticais da 100% Livre, localizadas no Ipiranga, zona sul de São Paulo, têm capacidade de produzir até 40 toneladas de alimentos por mês. “Já começamos também a construção da segunda fazenda, que será em Osasco.” A expectativa é que, com isso, a empresa consiga quintuplicar a capacidade de produção.

Texto: Paulo Gratão

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