Segundo a Comissão Europeia, a iniciativa pretende transformar as tradicionais indústrias da Europa e seu conjunto de talentos em potentes motores de inovação e aceleração em IA

A União Europeia quer se tonar líder global em inteligência artificial. E, para atingir este objetivo, a Comissão Europeia lançou na quarta-feira (8) o Plano de Ação Continente da IA.

Em comunicado, o órgão executivo informou que a “iniciativa ambiciosa pretende transformar as tradicionais indústrias fortes da Europa e seu excepcional conjunto de talentos em potentes motores de inovação e aceleração em IA”. Também destacou que o cenário europeu de IA é “dinâmico, impulsionado por pesquisa, tecnologias emergentes e um ecossistema vibrante de startups e empresas em crescimento”.

O plano se baseia em 5 pilares principais:

1) Construção de uma infraestrutura de dados e computação em larga escala para IA

Uma das principais apostas é a criação de uma rede de fábricas de IA, para reforçar a infraestrutura europeia de IA e supercomputação. Treze dessas fábricas já estão sendo implementadas em torno dos supercomputadores de classe mundial da Europa. Elas darão suporte a startups, indústrias e pesquisadores do bloco no desenvolvimento de modelos e aplicações de IA.

Além disso, serão estabelecidas Gigafábricas de IA. Essas instalações em larga escala contarão com aproximadamente 100 mil chips de IA de última geração e vão integrar poder computacional massivo e centros de dados para treinar e desenvolver modelos complexos de IA.

“As Gigafábricas de IA liderarão a próxima geração de modelos de fronteira e ajudarão a manter a autonomia estratégica da UE em setores industriais e científicos críticos”, disse a Comissão no comunicado. “O investimento privado nessas Gigafábricas será impulsionado ainda mais por meio do programa InvestAI, que pretende mobilizar € 20 bilhões (aproximadamente R$ 131,4 bilhões) para até cinco Gigafábricas de IA em toda a União.”

Para estimular o investimento privado em capacidade de nuvem e centros de dados, também será proposto o Ato de Desenvolvimento da Nuvem e da IA. O objetivo é triplicar, no mínimo, a capacidade de centros de dados da UE nos próximos cinco a sete anos, priorizando centros altamente sustentáveis.

2) Aumento do acesso a dados em grande escala e de alta qualidade

Um elemento central do plano é a criação de Laboratórios de Dados, que irão reunir e organizar grandes volumes de dados provenientes de diferentes fontes nas fábricas de IA. Uma estratégia para uma união de dados será lançada ainda em 2025, visando criar um mercado interno de dados que possa escalar soluções de inteligência artificial.

3) Desenvolvimento de algoritmos e promoção da adoção de IA em setores estratégicos da UE

Para desenvolver soluções personalizadas de IA, impulsionar o seu uso industrial e garantir a sua adoção total nos setores público e privado estratégicos do bloco, a Comissão Europeia lançará, nos próximos meses, a “Estratégia Aplicar IA”.

A infraestrutura europeia de inovação em inteligência artificial –sobretudo as fábricas de IA e os Centros Europeus de Inovação Digital (EDIHs)– terá papel fundamental nessa estratégia.

4) Reforço das competências e talentos em IA

Um dos desafios do setor é atender a crescente demanda por talentos em IA. Focada nisso, a Comissão Europeia informou que facilitará o recrutamento internacional de especialistas altamente qualificados e pesquisadores por meio de iniciativas como o Talent Pool, a ação Marie Skłodowska-Curie ‘MSCA Choose Europe’ e os programas de bolsas de estudo da futura Academia de Competências em IA.

“Essas ações contribuirão para criar vias legais de migração para profissionais altamente qualificados de fora da UE e para atrair de volta os melhores pesquisadores e especialistas europeus em IA. Também serão desenvolvidos programas educacionais e de capacitação em IA e IA generativa em setores-chave, preparando a próxima geração de especialistas e promovendo a requalificação e atualização de profissionais”, informou a CE.

5) Simplificação regulatória

Após a entrada em vigor da Lei da IA em agosto de 2024, a Comissão agora quer garantir que empreendedores e investidores tenham segurança jurídica para escalar e implantar soluções de IA em toda a Europa. Um novo serviço será lançado para ajudar nesse processo: o AI Act Service Desk, um canal único de orientação sobre a aplicação da nova lei.

UE enfrenta críticas

O anúncio do plano se dá em um momento em que a União Europeia enfrenta críticas de líderes de tecnologia de que suas regras dificultam a inovação e a operação de startups na região.

Durante a Cúpula de Ação para a IA, realizada em Paris, na França, em fevereiro, Chris Lehane, diretor de assuntos globais da OpenAI, disse a CNBC que os líderes políticos e empresariais europeus temem cada vez mais perder o potencial da IA e querem que os reguladores se concentrem menos em lidar com os riscos associados à tecnologia.

“Há quase uma bifurcação na estrada, talvez até uma tensão agora entre a Europa, a nível da UE… e alguns países”, ele salientou. “Eles estão buscando talvez seguir uma direção um pouco diferente, que realmente queira abraçar a inovação.”

No mesmo evento, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, também criticou a abordagem regulatória da Europa à IA. “Precisamos que nossos amigos europeus, em particular, olhem para essa nova fronteira com otimismo em vez de apreensão”, enfatizou.

Por: Renata Turbiani