domingo,22 setembro, 2024

Estudantes usam rede social para promover informações seguras sobre psicologia e saúde mental

É fato que atualmente os debates em volta do tema saúde mental se intensificaram em comparação aos últimos dez anos. Um dos principais fatores responsáveis por essa transformação é a presença e popularidade das redes sociais. Além das danças e memes, assuntos mais sérios também tem ganhado destaque nas plataformas digitais. Elas se tornaram palco para inúmeras discussões, proporcionando para todos aqueles que tenham acesso à internet a oportunidade de publicarem livremente sobre o assunto.

Essa liberdade ao mesmo tempo que oferece benefícios também pode ser danosa. Informações falsas e falas preconceituosas estão presentes em todos os lugares da web.  Pensando em tornar as informações seguras mais acessíveis para as pessoas, as estudantes de psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, Maires Santos e Hanna Kuhnem, administram uma conta no Instagram onde entregam conteúdos sobre psicologia e saúde mental baseados em dados científicos. Nomeada como “Que Bom Que Veio”, a conta existe desde 2020 e segue trazendo postagens de fácil entendimento para o público sem fazer o uso de linguagem acadêmica.

Ambas as jovens relatam que psicologia não foi a primeira opção para a graduação, mas que após algumas tentativas falhas de seguirem por outras áreas, acabaram se encontrando dentro do universo de estudo da mente humana.  “Eu sempre gostei de ajudar as pessoas, mas senti o desejo de me aprofundar sobre os pensamentos delas. Hoje eu consigo compreender que não se trata somente sobre a vontade de ajudar, envolve muito estudo por trás, tenho certeza de que estou no caminho certo”, comenta Maires.

Já Hanna explica que sempre se interessou por temas relacionados à saúde mental e que também conviveu com pessoas que tinham alguns transtornos psicológicos, fazendo com que se desse conta que psicologia seria o curso ideal. “Fiz um ano de designer gráfico, mas acabei parando. Acredito que o meu objetivo na vida é ajudar pessoas e mostrar para elas que é possível ter uma vida mais agradável”, diz. As estudantes afirmam se interessarem bastante pela abordagem terapêutica conhecida como Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) que consiste, basicamente, em observar a forma como o ser humano interpreta os acontecimentos e de que forma aquilo o afeta.

Reprodução Hanna e Maires.

Que bom que veio

Segundo Hanna, o perfil do Que Bom Que Veio foi criado com o objetivo divulgar de uma forma objetiva, sem estereótipos e de uma maneira científica sobre transtornos e danos psicológicos. “Na época que ele foi criado éramos eu e uma antiga colega que administrávamos, mas ela acabou se formando e seguindo o caminho dela na profissão. Eu não queria parar com o projeto, mas sabia que não conseguiria tocá-lo sozinha, foi quando a Maires entrou e hoje nós administramos juntas. Sabemos que uma grande parte da internet divulga conteúdo sobre psicologia sem objetividade, abrindo espaço para inúmeras interpretações e isso pode ser prejudicial. Queremos que as pessoas busquem ajuda estando mais orientadas”, explica.

A saúde mental é determinada por uma série de fatores, podendo ser socioeconômicos, profissionais, biológicos ou ambientais. Dessa forma, podemos afirmar que sim, as redes sociais exercem uma grande influência sobre a saúde mental das pessoas.

Referente ao processo de criação de conteúdo, relatam: “Nós fazemos bastante pesquisas, vamos atrás de diversos artigos para sempre trazermos um caráter científico. Queremos transmitir informações e fazer com que as pessoasfiquem mais conscientes sobre o que acontece, ou pode acontecer, com elas. Nós duas produzimos os textos e buscamos sempre dividir de uma maneira que fique equilibrada para as duas. A Hanna fica responsável por produzir as artes e todo o layout”, diz Maires. Elas procuram se manter atentas a assuntos que estão recorrentes na internete montam postagens que sejam interessantes sobreessetema, dizem as jovens.

As redes sociais podem surtir um efeito nocivo em todas as faixas etárias, mas não podemos negar que os adolescentes acabam sendo um alvo maior. Com músicas dramáticas e tristes, os usuários compartilham histórias, relatos e até mesmo resultados de “testes” para ansiedade, depressão, bipolaridade ou outros transtornos feitos online. É importante lembrar que, obrigatoriamente, só é possível obter diagnósticos após avaliações médicas. Muitos desses relatos, aparentemente, são publicados com o intuito de ajudar outras pessoas que talvez estejam passando por situações semelhantes, mas isso pode dar errado. Além de espalharem ideias superficiais sob um filtro de parcialidade, explicam as estudantes.

Maires afirma que as pessoas que produzem esse tipo de conteúdo precisam estar cientes do que estão falando, porque quem acompanha pode acabar se baseando em uma informação que não é totalmente real.

“Há um tempo que li um artigo muito interessante sobre pessoas que tiveram transtornos alimentarese começaram a divulgar vídeos sobre a recuperação delas na internet, mostrando como estavam antes e após o processo de melhora. A intenção dessas pessoas era mostrar que é possível melhorar, mas o efeito que isso gerou nos expectadores foi completamente o oposto do que esperavam. Diversas pessoas que consumiram aquele conteúdo começaram a pensar que antes de conseguirem melhorar precisariam ficar tão doentes quanto, ou até mais, que a pessoa do vídeo. Isso provocou uma onda de competitividade, e de piora, entre as pessoas daquele ciclo que possuíam os transtornos, transformando essa tentativa de ajudar em um dominó horrível. Esse acontecimento exemplifica bem como nós podemos ter a melhor intenção, mas se não estudamos sobre como promover essa informação as pessoas que estão assistindo podem ser afetadas de maneira negativa”, conta Hanna.

As futuras psicólogas dizem receber uma quantidade considerável de mensagens no perfil do projeto, mas sempre buscam lembrar aos seguidores que ainda são estudantes, portanto não podem dar conselhos, pois foge do código de ética da profissão

“Nós recebemos muitas mensagens de gente desabafando, algumas são bem alarmantes, até mesmo com falas suicidas. Nós não deixamos ninguém desamparado, fazemos um acolhimento inicial que consiste em indicar a ajuda profissional. Se a pessoa aparece com alguma dúvida que não envolvam informações pessoais nós sempre respondemos. Em relação ao conteúdo das mensagens, na faculdade nós aprendemos meios para não nos afetarmos com esse tipo de coisa. Deixamos claro nas postagens que não estamos ali para atuarmos como psicólogas, nosso conteúdo é apenas de cunho informativo”, reforçam.

Divulgação Que Bom Que Veio.
Divulgação Que Bom Que Veio.

Em alerta

Existem alguns sinais que são dados por pessoas que estão passando por um período depressivo, ansioso ou algum outro transtorno, que podem ser observados. Geralmente, mudanças bruscas de comportamento podem indicar que algo não está normal. Por exemplo, quando a pessoa passa a dormir mais que o comum, passa a ter comportamentos mais irritadiços ou agressivos, começa a se isolar, faltar muitos compromissos entre outros. Isso serve para qualquer faixa etária. Qualquer mudança repentina de humor precisa ser observada, as vezes só prestamos atenção quando a pessoa demonstra estar triste, mas comportamentos exageradamente agitados e erráticos também podem ser um sinal, afirma Hanna.

Éimportante ter em mente que nem todas as pessoas demonstram tanto assim, para que não gere culpa nas pessoas que estão ao redor. Às vezes acontece dos familiares ou amigos não notarem, mas é importante ficarmos atentos e nunca culpar a pessoa que está passando por um problema”, informa Maires.

No final das contas, o importante mesmo é se manter bem informado por meio de uma fonte segura e procurar um acompanhamento terapêutico. É preciso quebrar esse estigma de que somente pessoas com graves transtornos precisam passar pela terapia, quando na verdade, todo ser humano deveria ir em busca de um tratamento para equilibrar questões pessoais, se autoconhecer, crescer e superar possíveis traumas ou assuntos mal resolvidos. Os conteúdos do Que Bom Que Veio podem ser acessados pelo Instagram @quebomqueveio.

Por: Victória Oliveira

Victória Oliveira
Victória Oliveirahttp://www.360news.com.br
Victória Oliveira é jornalista e estudante de cinema integrante do time 360 News. Especialista em escrever sobre atualidades, tecnologia, cultura e entretenimento.

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