Primeira usina comercial nos EUA a capturar e armazenar permanentemente o CO2 oferece serviço de remoção de carbono para outras empresas
No Vale Central da Califórnia, uma nova e reluzente estrutura de três andares retira silenciosamente CO2 do ar. Operada por uma startup chamada Heirloom, esta é a primeira instalação comercial de “captura direta” dos EUA.
A usina é capaz de capturar até mil toneladas de gás carbônico da atmosfera por ano, e, futuramente, a empresa pretende alcançar a marca de milhões de toneladas. Para armazenar permanentemente o CO2, ele será injetado em concreto fresco – uma abordagem que também reduz a pegada de carbono do concreto. A startup está oferecendo o serviço de remoção de carbono para empresas, incluindo gigantes como Microsoft e Stripe.
Enquanto o mundo se esforça para reduzir as emissões, é cada vez mais necessário combinar diferentes abordagens para termos alguma chance de atingir as metas climáticas.
“No final das contas, é realmente uma questão matemática”, diz o CEO da Heirloom, Shashank Samala. O mundo já emitiu tanto CO2 que, para atingir emissões líquidas zero, “também precisamos remover carbono da atmosfera na ordem de bilhões de toneladas”, afirma.
O sistema da Heirloom acelera algo que acontece naturalmente: a absorção de CO2 pelo calcário durante sua formação. Primeiro, a empresa aquece a pedra calcária em um forno movido a energia renovável.
Este processo extrai o carbono e deixa para trás um pó mineral, que, em seguida, é colocado em bandejas ao ar livre, onde atua como uma esponja, absorvendo CO2 e transformando-o em calcário.
Um sistema automatizado monitora e move as enormes pilhas de bandejas. Quando prontas, as pedras calcárias retornam ao forno, onde o CO2 é extraído e pode ser armazenado permanentemente. Este processo pode ser ampliado adicionando mais pilhas de bandejas.
O mundo extrai bilhões de toneladas de calcário todos os anos para produzir cimento. Para capturar um bilhão de toneladas de CO2, a empresa precisaria de menos de 0,1% da produção anual. Além disso, a pedra calcária é uma rocha barata, o que pode ajudar a reduzir o custo de todo o processo.
Vários outros projetos de captura direta de ar também estão em andamento. Um projeto em construção na Islândia planeja capturar várias megatoneladas de CO2 até o final da década.
Outro, no Texas, espera capturar 500 mil toneladas de carbono por ano, com potencial para atingir até um milhão de toneladas. Em Wyoming, há planos de capturar cinco milhões de toneladas de CO2 por ano até 2030. Cada um desses projetos planeja armazenar o carbono capturado no subsolo.
Na usina da Califórnia, a Heirloom fez parceria com a CarbonCure, uma empresa que desenvolve tecnologia para tornar o concreto mais sustentável, adicionando CO2 capturado.
A startup também planeja armazenar carbono no subsolo, mas este é um processo mais demorado, que requer licenças e mais infraestrutura. A abordagem com concreto pode ser implementada agora e, devido à enorme escala da produção, tem muito espaço para crescimento – além de ser uma solução duradoura.
“Mesmo que um edifício seja demolido, o CO2 que armazenamos no concreto permanece lá”, afirma Samala. “É durável e permanente.”
Adicionar carbono deixa o concreto mais resistente, tornando-o um material de construção melhor. Além disso, isso significa que pode ser produzido com menos cimento, o que ajuda a reduzir as emissões durante a fabricação.
Samala argumenta que a captura direta do ar precisa ser expandida tanto quanto a energia eólica e solar, mas em uma fração do tempo. Para alcançar esse objetivo, os mercados de carbono terão que continuar a crescer.
Já existe demanda por remoção permanente de carbono de empresas como a Microsoft, que recentemente se comprometeu a comprar até 315 mil toneladas da Heirloom.
O apoio federal do governo norte-americano está ajudando a empresa a crescer, incluindo o financiamento para um novo centro na Louisiana e o crédito fiscal 45Q para empresas que sequestram carbono.
Samala está confiante de que a Heirloom atingirá sua meta – remover um bilhão de toneladas de CO2 até 2035. “Basta olhar o que conseguimos fazer nos últimos dois anos: capturávamos um quilo em uma placa de Petri e hoje temos uma instalação com capacidade de captura de um milhão de quilos. Estamos fazendo tudo o que podemos para chegar lá.”
Texto: Adele Peters