segunda-feira,30 setembro, 2024

ESG não é bondade, é sobrevivência

Ultimamente, uma das frases que mais tenho ouvido, quando se fala de temperaturas é: “o mundo está mesmo ficando louco”. E isso não é à toa. Há cerca de um mês, quem vive no Sudeste, como é meu caso, tem sentido na pele aquele calor bem diferente do que se esperaria para a temperatura de inverno. Mas, do ponto de vista prático, o que isso tem a ver com você, comigo ou com as empresas?

Quem acompanha as discussões e atualizações do mundo empresarial tem visto o fortalecimento cada vez maior de três letrinhas: ESG, ou ASG, na versão em português. A sigla foi mencionada pela primeira vez em 2004 na publicação “Who Cares Wins” (“Quem se importa ganha”) do Pacto Global das Nações Unidas, uma iniciativa que tem como objetivo engajar o setor empresarial mundial para que desenvolva ações que contribuam para o alcance da Agenda 2030. De acordo com o site oficial, mais de 23 mil empresas no mundo já assinaram o documento – e este número tem crescido a cada dia.   

De forma geral, ESG fala sobre a importância do engajamento de investidores com as empresas para melhorar práticas nas esferas ambiental (environmental, em inglês), social e de governança (ou gestão), influenciando positivamente a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa. Mas você sabe por que as empresas são tão importantes? Uma razão, mais óbvia, é pela possibilidade de realizar mudanças de forma rápida, ou, pelo menos, muito mais rápida do que o setor público.  Outra é pelo seu poder econômico, que é maior do que o de vários países. Para ter uma ideia, das 200 maiores entidades econômicas do mundo, 157 são empresas, não governos. Este dado foi divulgado pela organização britânica Global Justice Now em um relatório de 2018 analisando a receita anual das empresas e dos países e até hoje é citado no site do Pacto Global das Nações Unidas como prova do poder e da responsabilidade do setor corporativo.

A sociedade, principalmente os consumidores também entendem, esperam e confiam que as empresas cuidem do meio ambiente e das pessoas quando produzem e comercializam seus produtos. Entendem que as empresas precisam entregar algum retorno para a sociedade e, cada vez mais, cobram suas marcas sobre isso. Veja um exemplo: a pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2020: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor” mostra que mais de 70% dos consumidores esperam que as empresas não agridam o meio ambiente e mais de 60% esperam que as companhias estabeleçam metas para tornar o mundo melhor.

Porém, a matemática é muito mais simples e nem precisa envolver consumidores ou acionistas: vale lembrar que nós vivemos em um mundo de recursos escassos, muitos deles finitos, e as empresas precisam desses recursos para sua produção e comercialização. Ou seja, se você, empresário, quer continuar produzindo, precisa de matéria-prima, de recursos naturais – e, para isso, precisa investir na conservação deste planeta.

Produção aliada à manutenção dos recursos naturais não é sonho, muito menos utopia.

Nas últimas décadas, vários líderes e suas companhias adotaram uma abordagem ESG como uma parte de suas estratégias de negócio. Essas pessoas e empresas já reconhecem que práticas sustentáveis e responsáveis não apenas atendem às expectativas das partes interessadas, mas também podem levar a uma maior resiliência e desempenho a longo prazo. Um exemplo é o setor de bebidas, cujas grandes marcas estão cada vez mais envolvidas em projetos de preservação e, principalmente, de restauração ambiental, promovendo ações que garantam um fornecimento de água, insumo fundamental para a produção de seus produtos

Já na produção de alimentos, a questão fica ainda mais séria, já que o cultivo sem os devidos cuidados pode intensificar os efeitos das mudanças climáticas, que, por sua vez, impactam diretamente na produção. Quer entender como? Enquanto o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que as mudanças do clima têm efeitos diretos na agricultura, a equipe do WWF produziu uma nota técnica para a COP27 mostrando que a cadeia de produção de alimentos contribui com um terço do total de emissões de gases de efeito estufa.

Para diminuir os danos à sua própria cadeia, as empresas agropecuárias (e seus representantes) precisam se comprometer com critérios que reduzam o desmatamento como forma de limitar o aquecimento do planeta.

Porém, além de produtores e consumidores, há uma outra parte interessada muito importante neste jogo, que são os bancos e entidades financeiras. As organizações que financiam determinadas atividades por meio de concessão de crédito financeiro são, direta ou indiretamente, responsáveis pelo resultado das ações apoiadas e precisam, de uma vez por todas, considerar o risco das emissões e desmatamento financiados e incorporar indicadores ESG em suas análises de crédito.

Você, empresário ou gestor, pode fazer a diferença simplesmente decidindo qual negócio vai apoiar. Se optar por iniciativas insustentáveis, poluentes ou causadoras de desmatamento, você e sua instituição tornam-se corresponsáveis pelos impactos nocivos que tais empreendimentos provocam no meio ambiente e na sociedade. Ao mesmo tempo, investindo em iniciativas e práticas sustentáveis, como energia limpa, cadeias de sociobiodiversidade, vocês têm o poder de contribuir positivamente para conservar a vida no nosso planeta e das pessoas, melhorando a força de sua marca e o seu legado .

A adoção de práticas verificáveis de ESG, aquelas em que há mais investimento em ações consistentes do que em narrativas e divulgações, funciona quase como um sinal de que as empresas, as organizações financeiras e os seus gestores estão entendendo que a responsabilidade vai além do lucro, incluindo o impacto ambiental positivo e o desenvolvimento sustentável.

WWF-Brasil acredita que o engajamento e ações conjuntas de todos os setores é fundamental para obtermos mudanças profundas e reais, reduzindo finalmente as emissões de carbono, e você pode fazer parte disto! Nós trabalhamos em parceria com empresas de diversos setores, e em diferentes cadeias de produção, sempre em busca das grandes mudanças de que precisamos para o Brasil e o mundo. Os detalhes de várias dessas nossas iniciativas estão disponíveis no Relatório Anual 2022, acessível a partir do nosso site.

Nosso objetivo é implementar soluções concretas e inovadoras para transformar a maneira como os negócios são usualmente conduzidos e, com isso, aumentar sua contribuição positiva para as pessoas e a natureza. E, aí, vamos juntos ? Essas mudanças podem não ser fáceis, mas são necessárias, permitindo não só um ganho para a sociedade, mas para as organizações, que terão como benefício a própria sobrevivência de seu negócio.

Por Daniela Teston , Diretora de Relações Corporativas no WWF-Brasil

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