Para quem acredita que o Brasil tem alguma mínima chance de cumprir os compromissos internacionais estabelecidos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ou as metas relacionadas à agenda ESG, aqui vai um desafio: pegue o carro e viaje pelo País. Mas prepare-se: o que você vai ver pelo caminho pode doer aos olhos.
Somos um País de pessoas pobres que vivem — ou sobrevivem — em cidades precárias, mal cuidadas, sem estrutura, inseguras e feias. Sim, isso é importante. Como afirmou o redator-chefe da IstoÉ Dinheiro, Edson Rossi, no artigo Um País liderado por gente assustadora, “estética é ética e é técnica”.
Em algumas regiões de diversos estados, inclusive os turísticos como o Rio de Janeiro, os ricos pelo agronegócio como o Mato Grosso ou os supostamente desenvolvidos como São Paulo, o comércio e as casas se amontoam em quase favelas. Fica evidente observando a população local que a preocupação ali é vencer o dia, fazer o que dá e repetir tudo de novo no dia seguinte.
Diante da realidade imposta é quase automático questionar se todo esse debate sobre boas práticas ESG (ambiental, social e de governança) é realmente prioritário. Para a grande parte dos CNPJs do Brasil a discussão ainda é tão básica como fechar o mês, pagar os impostos, remunerar os funcionários e manter a operação rodando. ESG? Isso é coisa de gente grande, dos bancos, da indústria. Isso não é bom, mas ao menos é um caminho.
Ao se inserir na economia verde, o Brasil teria a chance de mudar a realidade econômica social que impera no modelo atual. Conceitos como economia circular, consumo consciente, empreendedorismo social podem abrir espaços para a inclusão de um contingente de trabalhadores que hoje estão subocupados.
Além disso, o interesse de europeus, americanos, asiáticos endinheirados pela natureza é uma porta para que o Pantanal, as praias da costa brasileira, os cânions da região Sul, o Jalapão no Cerrado e a Amazônia tragam milhares de dólares para as economias locais. Além disso, tem a bioeconomia com capacidade de movimentar bilhões e bilhões de dólares por ano.
Mas essa jornada só acontecerá se a agenda ESG estiver na pauta. Se houver pressão para que o empresariado mude suas empresas, a cadeia de fornecedores e também a ponta final que comercializa seus produtos. E só acontecerá se o governo também for pressionado com as metas sociais e ambientais. E essa pressão tem que vir do capital e da sociedade.
Então, assim como política e religião, ESG se discute sim, justamente para que um dia as boas práticas sociais, ambientais e de governança se tornem, enfim, prioridade no País.
Por: Lana Pinheiro