domingo,24 novembro, 2024

Escola tem papel fundamental no combate à homofobia, defende especialista

Imagine esse cenário: um garoto de 11 anos é discriminado e ofendido na escola pelos próprios colegas por brincar mais com meninas do que com meninos. O que os pais devem fazer? Qual é o papel da escola nesse contexto?

Em entrevista à CNN Rádio, o médico psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Daniel Mori, explica que, se o comportamento da vítima mudou após as agressões – está mais introspectiva, mais isolada, desatenta -, a primeira coisa que os pais devem fazer é procurar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. “A gente fala muito sobre depressão em adultos, mas crianças e adolescentes também deprimem”, afirmou Mori.

Para o psiquiatra, os pais e educadores precisam ter cuidado na condução do problema. “Precisamos tomar cuidado extremo para não cometermos o erro mais clássico, de penalizar a vítima”. Essa penalização acontece quando os responsáveis pela criança pedem para que a vítima mude o seu comportamento, por exemplo, o que também pode levá-las ao isolamento e à depressão.

Na avaliação do especialista, assim como a família, a escola tem papel fundamental no combate à homofobia. Em relação à vítima, é preciso ajudá-la com suporte psicológico e orientar os pais ou responsáveis sobre o que está acontecendo. Por outro lado, quanto ao agressor, “é preciso ouvir a família [dele], tentar entender em que contexto aconteceu agressão”, explicou ele.

O que não pode, segundo Daniel Mori, é a vítima ser punida pelo colégio. “Já vi casos em que a criança que foi vítima do bullying foi convidada a se retirar da escola porque não fazia parte do ‘perfil do colégio’.

Nesse caso, a escola está deixando um recado e isso é absolutamente ruim, quando deveria ser o contrário”, afirmou. De acordo com o psiquiatra, a escola precisa deixar clara quais são as suas políticas de combate a qualquer tipo de discriminação.

“A criança tem que entender o que significa a palavra diversidade no seu conceito mais amplo, como a gente lida com a pessoa que é diferente da gente. É preciso deixar claro, quais são as palavras que a gente pode usar, quais não são legais de serem usadas”, disse. “Isso é trabalho sim da escola, principalmente quando isso não é feito em casa”, concluiu ele.

“A sociedade brasileira é extremamente binária, tem comportamentos bastante estereotipados do que é esperado de um menino e do que é esperado de uma menina. E parece que qualquer expressão de gênero que vai numa direção diferente do estereótipo, acaba gerando um certo desconforto, enquanto a criança e o adolescente estão no período de criar, de construir identidade, construir seus próprios gostos”, completou Mori.

Por: Nicole Fusco e Talita Amaral da CNN

Redação
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