O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou nesta terça-feira (18), no depoimento à CPI da Covid, que o Itamaraty buscou ajuda no exterior para importação de insumos da cloroquina a pedido do Ministério da Saúde. Abandonado pelo governo, sua estratégia de defesa é responsabilizar o ex-ministro da Saúde Pazuello.
A CPI da Covid apura ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia da Covid e eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios. Uma das linhas de investigação da Comissão é apurar atos do governo que incentivaram o uso da cloroquina. O remédio é cientificamente comprovado como ineficaz contra a doença. A Associação Médica Brasileira (AMB) condena o uso do medicamento.
“Em função de um pedido do Ministério da Saúde foi que nós procuramos ajudar a viabilizar uma importação de insumos para farmacêuticas brasileiras produzirem hidroxicloroquina”, disse Ernesto. O ex-chanceler disse ainda que a importação “já estava contratada”, mas que a Índia “havia bloqueado as exportações”.
“Já estava contratado, mas a Índia, justamente como havia uma procura mundial, não se sabia se a cloroquina teria uma procura ainda maior, havia bloqueado exportações”, afirmou.
Questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), se houve participação do presidente Jair Bolsonaro, Ernesto respondeu: “Sim”.
“O Presidente da República, em determinado momento, pediu que o Itamaraty viabilizasse um telefonema dele com o primeiro-ministro [da Índia]”, disse Ernesto.
Ernesto Araújo disse ainda que em março de 2020 “houve uma grande corrida aos insumos da hidroxicloroquina”.
“Naquele momento, em março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos da hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina. Fomos informados por isso pelo Ministério da Saúde no Brasil”, disse o ex-chanceler.
Este é o sétimo dia de depoimentos na CPI. Ernesto foi chamado à CPI na condição de testemunha, na qual o depoente se compromete a dizer a verdade, sob o risco de incorrer no crime de falso testemunho.
Embaixador paciente
Enquanto o ex-chanceler prestava depoimento na CPI, o embaixador da China no Brasil Yang Wanming publicava nas redes sociais nesta terça-feira (18) uma mensagem em que fala em “exercitar a paciência”.
A relação entre o governo federal e autoridades chinesas é turbulenta. O instituto Butantan e o governador de São Paulo João Doria (PSDB) atribuem as falas do presidente Jair Bolsonaro contra o país asiático como o motivo pelo atraso de insumos para a produção da CoronaVac no Brasil.
Durante oitiva no Senado, Ernesto Araújo admitiu que pediu a demissão de Wanming do cargo de diplomata no Brasil, e argumentou que fez o pedido a um interlocutor da diplomacia chinesa “em nome das boas relações” entre os dois países.
Ernesto Araújo negou que tenha feito declarações antichinesas: “Jamais promovi atrito com a China”, disse. Na sequência, o ex-chanceler foi acusado de mentir pelo presidente da CPI: “Faltou com a verdade”.
Apesar de negar os atritos com a China”, o histórico de Ernesto mostra ao contrário. Em abril de 2020, ainda no início da pandemia no Brasil, o então chanceler publicou um texto com o título: “Chegou o comunavírus”, onde afirma que o vírus faz parte de um plano comunista.
Ameaças a senadores
Senadores da CPI da Covid encaminharam hoje à Polícia Federal, pedido de investigação das ameaças que receberam por mensagem desde o início dos trabalhos do colegiado. Segundo o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) , os casos estão “virando uma rotina”.
“Alguns colegas desta Comissão Parlamentar de Inquérito, eu creio que não devam ser todos, têm recebido nas suas comunicações pessoais, têm recebido no seu WhatsApp, e de diversas formas, diferentes tipos de ameaças, o que me parece ser claramente uma ação coordenada, Presidente”, disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no início da sessão.
Randolfe citou a Lei 1.579, de 18 de março de 1952, que estabelece como crime “impedir, ou tentar impedir, mediante violência, ameaça ou assuadas, o regular funcionamento de Comissão Parlamentar de Inquérito”.
“Diante da Lei 1.579, Presidente, acabei de oficiar a Vossa Excelência que encaminhe para a Polícia Federal o conjunto de ameaças que os membros desta CPI têm recebido para as providências devidas, nos termos da lei”, pediu Randolfe.
Em seguida, Omar Aziz acatou o pedido e disse que vai encaminhar o pedido de investigação à Polícia Federal: “Será encaminhada hoje mesmo, Senador Randolfe. Isso daí está virando uma rotina, mas o papel nosso é continuar trabalhando aqui”.
Além de Randolfe, há relatos de que outros membros da CPI receberam ameaças. Entre eles, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL). Da ala governista, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) disse ao GLOBO que solicitou apoio à Polícia Legislativa para contar com segurança quando circular pelo seu Estado.
Fonte: G1