De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma das principais causas de morte no mundo é o suicídio, superando até mesmo doenças como câncer de mama. A cada ano morrem mais de 720.000 pessoas, sendo que, entre jovens de 15 a 26 anos, a morte por suicídio só fica atrás dos acidentes de trânsito.
Desde 2003 o mês de setembro é marcado por campanhas de prevenção e combate ao suicídio e em 2014 essa prática chegou ao Brasil.
Medo, vergonha e culpa costumam ser um grande impeditivo. Além destes fatores, distúrbios emocionais ligados a crises de ansiedade, estresse excessivo ou depressão, bem como dependência química e alcoolismo, causam danos severos, por isso é importante atuar na prevenção e falar sobre como detectar, oferecer e receber ajuda especializada para essas questões.
Para falar sobre isso, o 360 News convidou a psicóloga clínica Bruna Gouveia, palestrante, host do PodCast Psicast, hipnose, formada em gestão de RH/Gestão de Pessoas, hipnose e abordagem de terapia do esquema.
360 News: Como familiares e amigos podem identificar e abordar alguém que pode estar considerando o suicídio?
Psicóloga Bruna: A pessoa sempre apresenta sinais. Ela pode, por exemplo, demonstrar mudanças de comportamento, como alterações de humor, afastamento tanto da família quanto dos amigos e isolamento. Também pode deixar de realizar atividades que anteriormente lhe traziam prazer, como exercícios físicos ou sair com amigos. De repente, você percebe que ela já não faz mais essas coisas. Outro indício relevante é quando, além de aparentar tristeza, a pessoa verbaliza que não está bem. Muitas vezes, ela expressa desespero ou desesperança. Existem também sinais mais graves, como quando alguém começa a dizer que sua vida perdeu o sentido.
Uma pesquisa realizada em 2016 apontou um aumento de 49% nos casos de suicídio entre jovens. Isso destaca a importância do papel da família, especialmente dos pais, em estar atentos, acompanhar e conversar com seus filhos, já que o número de jovens que cometem suicídio é alarmante.
360 News: Quais são os sinais mais comuns de que alguém pode estar com sua saúde mental comprometida?
Psicóloga Bruna: Os fatores de risco incluem pessoas que já possuem diagnósticos de transtornos como depressão, ansiedade, bipolaridade ou transtornos de personalidade. O uso de substâncias, como álcool e drogas, também é um sinal de alerta, mesmo que a pessoa não tenha um diagnóstico formal, mas apresente sintomas depressivos.
Um dado importante é que entre 50% e 60% das pessoas que cometeram suicídio nunca procuraram um profissional de saúde mental. Nunca buscaram uma consulta. Imagine quantas vidas poderiam ter sido salvas se essas pessoas tivessem pedido ajuda. Precisamos falar mais sobre o assunto para encorajar as pessoas a buscar apoio, seja conversando com um amigo ou familiar.
360 News: Como amigos e familiares podem apoiar alguém enfrentando transtornos mentais ou com risco de suicídio?
Psicóloga Bruna: Muitas vezes, as pessoas querem ajudar, mas acabam fazendo comentários que agravam a situação, como “você precisa ser forte” ou “saia de casa e você vai melhorar”. Esses conselhos não ajudam uma pessoa que está emocionalmente abalada. A melhor maneira de auxiliar é ouvir com empatia, sem julgamentos ou tentativas de dar soluções prontas. Além disso, é importante divulgar o CVV (Centro de Valorização da Vida) e seu número, 188, e falar sobre o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), sugerindo que a pessoa procure ajuda profissional, seja de um psicólogo ou psiquiatra. Acompanhá-la em todo o processo pode ser essencial, além de garantir que ela não fique sozinha.
360 News: Como as empresas podem promover um ambiente de trabalho que favoreça a saúde mental?
Psicóloga Bruna: As empresas, dentro de suas possibilidades, podem promover a saúde física e mental dos colaboradores. Atividades como sessões de mindfulness, yoga, palestras sobre gestão de estresse e workshops voltados à saúde mental podem ser de grande ajuda na prevenção do burnout. Algumas companhias também oferecem apoio psicológico, e até mesmo pequenas ações, como ginástica laboral ou criar um espaço de convivência, onde os funcionários possam socializar em pausas, são importantes. Dependendo do ambiente, mesas de bilhar, pingue-pongue ou um local confortável para relaxar também fazem diferença. O essencial é que essas pausas sejam incentivadas para melhorar a qualidade de vida no trabalho.
360 News: Quais são os principais fatores de estresse no ambiente corporativo e como eles afetam a saúde mental dos funcionários?
Psicóloga Bruna: O principal fator de estresse é a sobrecarga de trabalho, especialmente quando o funcionário leva o trabalho para casa, tornando isso um hábito. O Brasil é um dos países com os maiores índices de burnout no mundo, o que é preocupante. Conflitos interpessoais no ambiente corporativo, seja com colegas, supervisores ou subordinados, também contribuem significativamente para o estresse. A falta de comunicação clara e um ambiente tóxico, marcado por atitudes negativas e excesso de competitividade, também são grandes fontes de tensão, além do assédio moral, que é algo que infelizmente ainda acontece com frequência, elevando o nível de estresse.
O suicídio é uma questão complexa que vai além da perda trágica de um ente querido, afetando profundamente familiares e amigos. Apesar do impacto devastador, o estigma em torno da saúde mental ainda impede muitas pessoas de buscarem o apoio necessário, seja por meio da família, da comunidade ou de profissionais de saúde. É crucial quebrar os preconceitos e estereótipos associados ao tema, promovendo diálogos abertos e naturais sobre a importância de pedir ajuda. A empatia, a escuta atenta e a divulgação de recursos como o CVV e CAPS são passos fundamentais para salvar vidas e fortalecer redes de apoio.