Incidentes com cabos submarinos na Europa elevam preocupação sobre potencial apagão global. Estruturas de fibra óptica são responsáveis por grande parte do tráfego de dados entre continentes

Uma série de incidentes que envolvem danos a cabos submarinos na Europa levou grandes empresas de telecomunicações a emitir um alerta sobre o risco de um potencial apagão global. Isso porque os danos causados supostamente por ataques da Rússia ameaçam 95% do tráfego internacional de internet.

À medida que a demanda por largura de banda continua a crescer, esses cabos se tornaram uma infraestrutura fundamental para manter o mundo conectado ao oferecer uma maneira eficiente e confiável de transmitir grandes volumes de dados em longas distâncias.

Capazes de transmitir múltiplos terabits de dados por segundo, tais estruturas de fibra óptica permitem o funcionamento de serviços essenciais como comércio, transações financeiras, atividades governamentais, saúde digital e educação. Sem eles, a comunicação global seria muito mais lenta, cara e instável.

Comparados a outras tecnologias, os cabos de fibra ótica submarinos ainda oferecem algumas vantagens em relação a desempenho – a largura de banda e a taxa de transferência são melhores –, capacidade de trafegar grandes volumes, alta latência e menor custo.

No mundo, existem cerca de 500 linhas, totalizando 1,4 milhão de quilômetros de cabos cruzando os oceanos e interligando os continentes. A maioria das conexões está localizada no Oceano Atlântico, entre a Europa e a América do Norte, e no Pacífico, entre os EUA e a Ásia Oriental.

No Brasil, os cabos submarinos são utilizados em sistemas de telecomunicações desde 1857 e foi na década de 1990 que foram inaugurados os primeiros de fibra óptica no país. Atualmente são 16 cabos submarinos espalhados por Santos-SP (Praia Grande), Rio de Janeiro-RJ, Salvador-BA e Fortaleza-CE, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

O que pode acontecer se os cabos submarinos forem danificados?

De acordo com o Comitê Internacional de Proteção de Cabos (ICPC), danos a cabos submarinos não são incomuns e as principais causas incluem atividades humanas acidentais, como pesca e ancoragem, além de riscos naturais, abrasão e falhas de equipamentos.

Todos os anos são registradas, em média, 150 a 200 falhas – o que resulta em cerca de três reparos de cabos a cada semana. Só no Mar Báltico, foram 11 cabos danificados desde outubro de 2023. Outros incidentes foram registrados no Mar do Norte.

Operadoras de telecom costumam utilizar mais de uma estrutura para fornecer conexão aos seus usuários. Mas com um cabo danificado, pode haver um congestionamento na rede, causando lentidão e possíveis quedas aos clientes.

Em carta aberta enviada na semana passada à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), operadoras como Vodafone, Telefónica e Orange pediram que autoridades do Reino Unido, da União Europeia e da própria Otan classifiquem toda a rede de cabos submarinos como infraestrutura crítica, para garantir maior proteção e investimentos em segurança.

“As consequências de danos a cabos submarinos vão muito além da Europa, podendo afetar a infraestrutura global de internet e energia, as comunicações internacionais, transações financeiras e serviços críticos em todo o mundo”, diz o documento.

Por: Fabiana Rolfini