Um dos ganhadores do prêmio deixou o Google em 2023 para poder falar sobre os perigos da inteligência artificial

O cientista norte-americano John Hopfield e o britânico-canadense Geoffrey Hinton foram laureados, nesta terça-feira (8), com o Prêmio Nobel de Física de 2024. Segundo a Real Academia Sueca de Ciências, que concede a honraria, o motivo foram as descobertas e invenções que serviram como base para a tecnologia de machine learning.

Os dois não trabalhavam em dupla. Hopfield, 91, é professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e foi reverenciado por criar uma memória associativa que pode armazenar e reconstruir imagens e outros tipos de padrões em grandes bases de dados. Hinton, 77, por sua vez, trabalha na Universidade do Canadá e inventou um método que pode encontrar propriedades em dados de forma autônoma e, assim, executar tarefas como identificar elementos específicos em imagens de maneira autônoma.

“Os dois ganhadores do Prêmio Nobel de Física deste ano usaram ferramentas da física para desenvolver métodos que são a base do poderoso aprendizado de máquina de hoje”, disse o órgão que concedeu o prêmio em um comunicado.

“O aprendizado de máquina baseado em redes neurais artificiais está atualmente revolucionando a ciência, a engenharia e a vida cotidiana.”

IA emula o funcionamento do cérebro

inteligência artificial é um machine learning que usa redes artificiais neurais, que é uma tecnologia desenvolvida por Hopfield e Hinton.Play Video

Enquanto o cérebro tem neurônios, uma rede neural artificial tem nós com valores diferentes. Enquanto os neurônios do cérebro se comunicam entre si por meio de sinapses, os nós artificiais se influenciam por meio de conexões. É possível treinar uma rede neural artificial desenvolvendo conexões mais fortes entre os nós, assim como é possível treinar o cérebro.

Assim como podemos forçar o cérebro para lembrar uma palavra ou fato que raramente usamos e apenas vagamente lembramos, redes neurais artificiais também podem procurar nos padrões que salvaram – graças à invenção da rede de Hopfield em 1982.

“A rede que Hopfield construiu tem nós que estão todos conectados por meio de conexões de diferentes intensidades. Cada nó pode armazenar um valor individual – no primeiro trabalho de Hopfield, isso poderia ser 0 ou 1, como os pixels em uma imagem em preto e branco”, disse o comitê, detalhando o trabalho da dupla.

Depois que Hopfield publicou sua pesquisa, Hinton expandiu-a usando ideias da física estatística e desenvolveu a forma mais primitiva de aprendizado de máquina, chamada “máquina de Boltzmann”.

Desde os anos 1980, as redes aumentaram de tamanho. Enquanto Hopfield usava uma rede com apenas 30 nós – com menos de 500 parâmetros ligando-os – as redes de hoje podem conter mais de um trilhão de parâmetros.

Diferente do software tradicional, que é como seguir uma receita para fazer um bolo, uma rede neural artificial é capaz de aprender por meio de exemplos – usando conhecimentos anteriores para criar novas “receitas”.

Preocupações com o futuro das máquinas

Pioneiro da inteligência artificial, Hinton deixou o Google em 2023 e disse que fez isso para falar livremente sobre os perigos da tecnologia, depois de perceber que os computadores poderiam se tornar mais inteligentes do que as pessoas muito antes do que ele e outros especialistas esperavam.

“Sou apenas um cientista que de repente percebeu que essas coisas estão ficando mais inteligentes do que nós”, disse Hinton à CNN no ano passado. “Quero meio que dar um sinal e dizer que devemos nos preocupar seriamente sobre como impedir que essas coisas nos controlem.”

Ele alertou que a IA “sabe como programar, então ela descobrirá maneiras de contornar as restrições que colocamos nela. Ela descobrirá maneiras de manipular as pessoas para fazer o que ela quer.”

Quais prêmios o Nobel ainda entregará este ano?

O prêmio de Física do ano passado foi concedido a Pierre Agostini, Ferenc Krausz e Anne L’Huillier por seu trabalho na criação de pulsos ultracurtos de luz que podem fornecer uma visão das mudanças dentro dos átomos, melhorando potencialmente a detecção de doenças.

Esse é o segundo Nobel a ser concedido nesta semana, depois que os cientistas norte-americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun ganharam o prêmio de Medicina por sua descoberta do microRNA e seu papel na regulação dos genes, esclarecendo como as células se especializam.

Ainda serão entregues, ao longo desta semana, os prêmios de Química, Literatura, Paz e Economia.

*Com informações da CNN Internacional e da Reuters