Segundo a empresa, a semelhanças genéticas com o lobo-cinzento permitiram recriar o lobo-extinto. Porém, a comunidade científica questiona as diferenças genéticas.
Na última segunda-feira (7), a empresa norte-americana de biotecnologia Colossal Biosciences afirmou ter ressuscitado uma espécie de lobo extinta há mais de 10 mil anos
O lobo-terrível — que em inglês é “dire wolf”, ou “lobo-gigante” — leva esse nome pelo seu tamanho, que chegava a ter 1,25 metro. Ou seja: ele era mais próximo do lobo-cinzento que habita atualmente o Hemisfério Norte do que os ‘pets’ de “Game of Thrones”.
A espécie, cujo nome científico é Aenocyon dirus, está entre os animais das Américas extintos após a última Era do Gelo. Aliás, estava. Isso porque, de acordo com a Colossal Biosciences, os três filhotes de lobo-terrível são os primeiros animais “deextintos da história”.
A empresa revelou os três animais com os sugestivos nomes de Rômulo, Remo e Khaleesi em vídeos nas redes sociais.
Os dois primeiros homenageiam os irmãos fundadores de Roma, que, segundo a lenda, foram amamentados por uma loba.
Khaleesi, por sua vez, é uma referência ao universo de “Game of Thrones”, já que a empresa sabia das comparações devido ao nome do lobo em inglês.

Como foi o processo para ressuscitar o lobo extinto?
Para ressuscitar o lobo-terrível, a empresa realizou a edição de 20 genes de lobos-cinzentos para imitar características importantes do lobo-terrível com base em amostras de DNA do animal extinto.
Em 2021, a Colossal conseguiu obter um dente de 13 mil anos do lobo-terrível. Dois anos depois, a empresa localizou materiais genéticos bem preservados em dois fósseis, permitindo uma melhor reconstrução do genoma do lobo terrível.
Os lobos-cinzentos compartilham 99% do mesmo DNA do animal extinto, mas 80 genes apresentaram diferenças significativas, sobretudo os genes relacionados ao tamanho e ao pelo.
Portanto, para realizar a “deextinção” do lobo-terrível, a Colossal precisou usar técnicas avançadas, como a CRISPR, realizando mutações genéticas em 15 genes. Além disso, a empresa encontrou métodos alternativos de mutação para cinco genes, evitando que a edição genética direta ocasionasse cegueira ou surdez.
Após a edição genética, a empresa iniciou um processo de clonagem inserindo embriões em cadelas domésticas.
Desse modo, a empresa conseguiu recriar quatro embriões, resultando no nascimento dos três filhotes que, supostamente, são da mesma espécie do lobo extinto há 10 mil anos. Veja:
Atualmente, os filhotes que nasceram entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, estão em uma instalação privada de 8 km² no norte dos Estados Unidos.
A empresa não revelou a localização, mas a parceria da Colossal com entidades indígenas da Dakota do Norte pode dar uma pista.
Apesar de ser capa da revista Time, a comunidade científica contesta a afirmação da Colossal sobre ressuscitar ao lobo-terrível 10 mil anos após o animal ser extinto.

O que diz a ciência
Uma matéria da New Scientist, publicada nesta terça-feira (8), explica como os filhotes não são da mesma espécie do lobo extinto há 10 mil anos.
A revista cita um estudo de 2021, que identifica que o lobo-cinzento e o lobo-terrível compartilharam um último ancestral comum há seis milhões de anos.
Por sua vez, a diretora de ciência da Colossal Bioscience, Beth Shapiro, afirmou que a empresa conseguiu sequenciar o genoma completo do lobo-terrível. Segundo Shapiro, a empresa divulgará o resultado em breve.
No entanto, a executiva não conseguiu citar a diferença de pares de bases entre DNA do lobo-terrível e do lobo-cinzento, já que há milhões de diferenças com base no genoma da espécie existente.
Além disso, cinco das 20 edições genéticas se baseiam em mutações para criar pelugens brancas em lobos-cinzentos, conforme afirma Shapiro. Desse modo, somente 15 se baseiam diretamente no genoma do lobo-terrível e visam alterar o tamanho dos animais.
Se a empresa conseguiu ou não ressuscitar o lobo extinto há 10 mil anos, a resposta é “como definimos espécies”, explica Shapiro. A executiva destaca que o conceito de espécie é um sistema de classificação humana.
Ao New York Times, o geneticista Adam Boyko e a paleontóloga Julie Meachen enfatizaram que os filhotes não são da mesma espécie do lobo extinto devido à falta de continuidade comportamental, ecológica e microbial.
No caso de Rômulo, Remo e Khaleesi, o comportamento se forma no cativeiro, em vez de ambientes naturais, e o mundo é bem diferente do seu extinto antepassado que dominava a Era do Gelo.
Por: Pablo Nogueira