De acordo com dados do Data Favela, 21% dos entrevistados têm o desejo de abrir um negócio. Em primeiro lugar, aparece o sonho de ter uma casa própria
Ter emancipação econômica por meio do empreendedorismo é o segundo maior sonho dos moradores das favelas brasileiras. É o que mostra a pesquisa Favela Empreendedora, divulgada nesta sexta-feira (1/12), durante a abertura da Expo Favela Innovation Brasil 2023, na capital paulista. O estudo é uma compilação de diversos levantamentos realizados pelo Instituto Data Favela ao longo do ano, a partir do mapeamento de mais de 11 mil favelas brasileiras.
De acordo com o levantamento, a vontade de empreender foi mencionada por 21% das pessoas ouvidas. Ela só perde para o desejo de ter uma casa própria, citado por uma parcela de 27%. A motivação para querer abrir um negócio tem relação com a dificuldade de empregabilidade dessa parcela da população. Entre os respondentes que já são empreendedores, três em cada dez afirmaram que o principal motivo para abrir o próprio negócio foi a perda do emprego anterior.
“Essas pessoas empreendem porque sabem que, para ganhar mais do que dois salários mínimos vivendo no CEP em que nasceram, precisam ser donas do próprio negócio”, explicou Renato Meirelles, fundador do Data Favela, durante a apresentação da pesquisa. “Eles empreendem para ter dignidade”.
Outro aspecto apontado pela pesquisa é que o empreendedorismo periférico tem longa duração. A maioria dos empreendedores (33%) tem o próprio negócio há mais de cinco anos. Na avaliação de Meirelles, isso se deve ao fato de que oito em cada dez empreendedores tiveram de abrir negócio mais por necessidade do que por oportunidade. Isso faz com que eles aprimorem continuamente a capacidade de se reinventar para manter o empreendimento funcionando por mais tempo.
“Na prática, o que a gente vê é que a favela é o celeiro da inovação, porque nela ou você inova, ou está fora do jogo. A favela tem uma tecnologia social própria, o ‘sevirômetro’, muito mais presente do que em qualquer outra região do país”, afirmou Meirelles a PEGN. “Enquanto fora da favela os negócios morrem, dentro dela os negócios se transformam. Eles não podem se dar ao luxo de falir”.
Dificuldades
O levantamento também apontou alguns desafios enfrentados pelos empreendedores da periferia. Apesar do empreendedorismo ser alternativa para geração de renda nas favelas, a maior parte dos negócios (57%) não é registrada com CNPJ. A ausência da formalização, segundo Meirelles, tem relação direta com o medo de que o empreendimento seja alvo de fiscalização crescente ou de que autoridades o relacionem com o crime, uma vez que 92% dos empreendedores alegam já terem sofrido abordagens policiais.
“São trabalhadores que muitas vezes não conseguem ver seu negócio crescer por causa do estigma relacionado às favelas. Por isso, combater estigmas é fundamental para manter a matriz econômica desses locais”, disse.
O Brasil possui mais de 16 milhões de pessoas vivendo em regiões periféricas, de acordo com informações mapeadas pelo Data Favela. Essas pessoas movimentam R$ 200 bilhões por ano, formando a 6ª maior massa de renda do país.
Texto: Shagaly Ferreira