Uma análise inédita da Carbon Brief divulgada dias antes da COP28 sobe o país do oitavo para o quarto lugar no ranking de nações com as maiores emissões históricas, se considerarmos o domínio colonial

Se considerarmos as emissões dos países que já estiveram sob domínio colonial do império britânico, o Reino Unido é responsável quase duas vezes mais pelo aquecimento global do que se pensava. Isso porque quando seu passado entra na conta, o dado de 3% do total das emissões mundiais que remontam a 1850, sobe para mais de 5%, mostra um estudo inédito do Carbon Brief que considerou 46 países que já fizeram parte do seu domínio. A análise eleva o Reino Unido do oitavo para o quarto lugar no ranking de nações com as maiores emissões históricas, atrás apenas dos EUA, China e Rússia.

A causa desse salto seria a destruição das florestas nos países colonizados, com os maiores contribuintes vindo da Índia, Myanmar e Nigéria antes da sua independência. Além disso, países como Holanda e França, também sobem no ranking de responsabilidade histórica pela crise climática. A Holanda, que colonizou a Indonésia, sobe da 35ª para a 12ª posição, com suas emissões acumuladas quase triplicando, e o total da França sobe 50%.

A organização também calculou as emissões acumuladas por pessoa por cada nação a partir de 1850, com base na população atual, e concluiu que a Holanda tem as maiores emissões históricas per capita, seguida pelo Reino Unido — entre os países com população de pelo menos 1 milhão

Dr. Simon Evans, da Carbon Brief, disse ao The Guardian, que as emissões históricas são significativas porque há uma relação direta entre a quantidade de dióxido de carbono liberada ao longo do tempo e o nível de aquecimento na superfície da Terra. Isso implica que os gases estufa liberados há 170 anos atrás continuam contribuindo para o aquecimento do planeta.

“Nossas descobertas reforçam a significativa responsabilidade histórica dos países desenvolvidos pelo aquecimento atual, particularmente as antigas potências coloniais na Europa. Muitos desses países agora têm emissões em declínio. No entanto, sua riqueza relativa hoje – e suas contribuições históricas para o aquecimento atual – são reconhecidas dentro do regime climático internacional como estando ligadas a uma responsabilidade de apoiar a resposta climática em países menos desenvolvidos”, destacou Evans.

Zahra Hdidou, da ActionAid UK, disse ao The Guardian que a análise é “particularmente condenatória” para o Reino Unido: “Como o quarto maior emissor histórico de carbono do mundo, tem uma responsabilidade histórica de lidar com as mudanças climáticas, mas atualmente suas ações não correspondem às suas palavras”.

Em 2022 durante a COP27, as nações ricas desenvolvidas concordaram em estabelecer o fundo de perdas e danos. Um ano depois, a questão da responsabilidade deve ser retomada nas negociações internacionais da ONU sobre o clima na COP28, que tem início nesta quinta-feira (31) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

“Os impactos das mudanças climáticas são responsáveis por perdas e danos devastadores em muitos antigos territórios coloniais britânicos”, disse Nfamara Dampha, cientista gambiana da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. “Por exemplo, a capital da Gâmbia, Banjul, deverá estar completamente perdida até 2100 se medidas agressivas não forem tomadas”, disse ao The Guardian.

Em sua defesa, um porta-voz do governo britânico respondeu: “Esta análise ignora o fato de que o Reino Unido está tomando medidas decisivas para reduzir as emissões muito mais rápido do que qualquer outra grande economia. Atualmente, o Reino Unido é responsável por apenas 1% das emissões globais anuais”.

Texto: Um só Planeta