A cervejaria Carlsberg produziu uma garrafa a partir de fibras naturais (Carlsberg/Divulgação)
Como em todos os setores, o universo cervejeiro também tem demonstrado, cada vez mais, compromisso com a redução do seu impacto ambiental. Não faltam notícias de grandes players anunciando a adoção de energia limpa nas fábricas ou de logística reversa de suas embalagens, por exemplo.
Mas as boas iniciativas não se limitam a isso. Diversas cervejarias mundo afora, ainda que de pequeno porte, vêm usando a criatividade para colocar novas soluções em prática, desde os ingredientes até a embalagem.
Cerveja em pó
Basta misturar com água em casa e a cerveja está pronta – com colarinho e tudo. Da mesma forma que se prepara um shake de proteína ou café solúvel. Essa é a proposta da Neuzeller em pó, da cervejaria alemã Neuzeller Kloster-Brau, que desenvolveu o produto após dois anos de pesquisa.
Do estilo Dryest Beer ou IDA (Imperial Dry Ale), a novidade tem uma importante vantagem ambiental: uma significativa economia no transporte e logística.
“Bilhões de litros de água são transportados para consumidores em todo o mundo, porque a cerveja consiste em até 90% de água. Do ponto de vista ambiental, economizamos nos transportes, mas ainda não na utilização de recursos e nos custos de produção”, ressalta Helmut Fritsche, sócio da cervejaria, de quase 500 anos.
A ideia agora é aperfeiçoar a produção para que nas etapas anteriores não seja mais necessário fabricar a cerveja convencional e depois transformá-la em pó solúvel. “O objetivo é economizar o máximo de custos e recursos no processo de fabricação do produto básico, como materiais de entrada, mão de obra, energia etc”, declara a cervejaria.
O próximo passo é também inserir o álcool à cerveja, porque até agora só existe a versão zero. A Neuzeller em pó ainda não é comercializada oficialmente, mas deve entrar no mercado em breve.
Bebo até a latinha
Nos packs de seis latinhas da Salt Water Brewery, cervejaria americana da Flórida, os anéis que sustentam a embalagem são comestíveis. O motivo: evitar que animais marinhos morram ou se intoxiquem caso esses itens parem no oceano.
Os anéis, geralmente de plástico, aqui são feitos de subprodutos do processo de fermentação da cerveja, como cevada e trigo, sendo seguros para consumo até dos humanos.
Segundo estimativas da ONU, 13 milhões de toneladas métricas de plástico acabam nos oceanos todos os anos. O material mata 100 mil animais marinhos anualmente. Por isso o valor da iniciativa.
Garrafa de fibra natural
A dinamarquesa Carlsberg criou uma garrafa inteiramente à base de matérias-primas naturais, como fibras de plantas. Ela é compatível com os sistemas de reciclagem de plástico, mas caso acabe no meio ambiente, pode degradar-se rapidamente sem poluir.
Pão amanhecido
Algumas cervejarias estão combatendo o desperdício de alimentos usando pão em suas receitas. Uma delas é a britânica Toast. A empresa faz acordos com estabelecimentos comerciais, que repassam o pão que seria jogado fora, e o ingrediente entra no lugar de 25% da cevada maltada.
Ao fazer essa substituição, é utilizado menos terra, água e energia, além de evitar emissões de carbono. Desde 2015, quando a Toast nasceu, mais de 60 mil toneladas de carbono deixaram de ir para a atmosfera e 380 mil litros de água foram economizados, segundo a empresa.
“As fábricas de sanduíches descartam pontas de pão porque não são usadas, padarias produzem em excesso para garantir a procura (que é tão imprevisível quanto o clima), os supermercados querem prateleiras cheias e há desperdício pela indústria hoteleira com cestas de pães não consumidos e buffets de café da manhã”, explica o site.
No Brasil, a Bread IPA, da Cervejaria D’alaje, é feita com sobras de pão de fermentação natural da padaria Artesanos Bakery, ambas do Rio de Janeiro.
E o fluxo circular vai além. O bagaço do malte utilizado na cerveja também é reaproveitado: volta para a Artesanos e vira um novo pão, o pão de malte, ou alimenta animais de fazendas parceiras.
Dessa água beberei
A Epic OneWater Brew, da Califórnia (EUA), tem um ingrediente realmente peculiar: água reciclada de chuveiros, lavadoras e pias do Fifteen Fifty, um edifício residencial de luxo em São Francisco.
Lançada no fim do ano passado, a bebida, do estilo Kölsch é uma produção da Epic Cleantec, empresa de tratamento de água na cidade, em parceria com uma cervejaria local. O objetivo foi chamar a atenção para a escassez de água e a importância da reutilização.
A Epic Cleantec implementa em prédios sistemas de reciclagem de água residuais, evitando que sejam despejadas no esgoto e levadas para uma estação de tratamento. A companhia informa que a solução pode reduzir a demanda de água em até 95% de um edifício.
Os idealizadores garantem que a cerveja é segura para beber, porque passam por diversos tratamentos, como filtração por membrana, tratamento UV e desinfecção com cloro. Mas ainda não está à venda, pois a legislação americana proíbe águas residuais recicladas em bebidas comerciais.
Em Portugal, mais um exemplo: uma companhia de saneamento, uma empresa de tratamento de água e a fabricante da cerveja artesanal Lince se uniram para produzir a Vira, cerveja feita de água reciclada.
Para isso, a água passa por tratamento complementar, através de ozonização e osmose inversa, e fica 100% segura, de acordo com os idealizadores do projeto.