Cientistas avaliaram, em laboratório, os efeitos do óleo diesel na germinação de espécies de plantas de mangue – análise importante para entender a sensibilidade às fontes poluidoras na costa
As sondagens para a possível exploração de petróleo e gás na Bacia do Pará-Maranhão e na foz do Rio Amazonas têm se intensificado na última década, aumentando o risco de vazamentos de derivados do petróleo nestas regiões. O diesel, por exemplo, está presente em todo o processo de extração: no transporte, na carga, nos equipamentos. Pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) testaram em laboratório os efeitos da presença do combustível na germinação de plantas de mangue e concluíram que a Laguncularia racemosa, conhecida como mangue-branco, sofre intensos efeitos do contaminante.
Em experimento, os especialistas observaram que o contato com crescentes volumes de óleo diesel na água matou 80% dos propágulos da L. racemosa, que são estruturas que se desprendem de uma planta adulta e funcionam como sementes. A velocidade de germinação também diminuiu à medida que a quantidade do contaminante aumentou. Outra espécie estudada, a Avicennia germinans, não apresentou mortalidade significativa no mesmo contexto. As conclusões estão publicadas na edição desta sexta-feira (27) da revista “Acta Amazônica”.
Os propágulos das duas espécies foram mergulhados em uma emulsificação do óleo em água de mangue com diferentes percentuais de óleo diesel e comparados com uma amostra de controle, sem o óleo. Após o tempo característico de germinação de cada espécie, foi verificada a taxa de propágulos germinados, indicador do impacto da contaminação.
Os manguezais não apenas mitigam os impactos negativos das mudanças climáticas, regulando o clima e estocando carbono, como também ajudam as comunidades locais a se adaptarem aos seus efeitos, funcionando como uma barreira para protegê-las de enchentes, erosão, elevação do nível do mar e outros eventos climáticos extremos. Os mangues são ainda fonte de uma enorme biodiversidade, que se converte em alimentos e outros recursos naturais. Além disso, cerca de 70% das espécies comerciais marinhas realizam pelo menos uma etapa do seu processo de reprodução nesse ambiente.
Segundo Josélia Martins, primeira autora do artigo, o diferencial da pesquisa da UFMA é mostrar o efeito da poluição por óleo diesel no processo de germinação enquanto os propágulos estão imersos nas águas de estuário. “O conhecimento do que ocorre na fase de germinação dos propágulos é muito importante, pois é uma fase primordial. Sem ela, as demais não são possíveis. O que nos surpreendeu foi a ausência de resposta significativa da espécie Avicennia germinans durante a germinação em contato com o óleo diesel nos volumes utilizados neste estudo, ao contrário do que ocorreu com a Laguncularia racemosa. Esse resultado denota maior resiliência da outra espécie”, comenta Martins.
Os pesquisadores apontam que o conhecimento de que uma ou mais espécies de mangue não consegue germinar adequadamente na presença de óleo emulsificado na água estuarina pode auxiliar na formulação de políticas públicas de conservação e restauração do manguezal, ecossistema importante para manter a qualidade da zona costeira para a população e para os animais e também para a absorção de carbono. Os resultados também podem orientar profissionais em situações de desastres com derramamento de óleo. Neste caso, saber quais espécies são mais afetadas pode mudar a forma de atuação dos especialistas durante os esforços para a limpeza da área atingida.
O próximo passo do grupo de pesquisadores será plantar os propágulos das duas espécies — a que obteve sucesso na germinação e a que teve uma alta taxa de mortalidade — enquanto mergulhados em água e óleo diesel e acompanhar o seu desenvolvimento. Com esse processo, eles vão poder observar os efeitos do óleo durante o crescimento das plantas.
“Também queremos dar continuidade aos estudos com outros tipos de derivados de petróleo, como o óleo diesel marítimo e o óleo bunker”, conclui Martins.
Texto: Um só Planeta