Desde os filósofos gregos, a busca pela felicidade é a questão chave do ser humano. Aristóteles dizia que “a felicidade é o significado e o propósito da vida, todo objetivo e fim da existência humana.” Ou seja, quando buscamos uma relação, sucesso, prosperidade, um propósito, conforto, poder, na verdade estamos sempre buscando a felicidade.
Mas afinal, será que podemos ser felizes neste mundo desafiador? Nunca se falou tanto na busca pelo bem-estar, por uma vida mais plena, com saúde mental e emocional, de forma positiva. Porém, os indicadores atuais apontam o oposto: somos, no Brasil, segundo a OMS, o país mais ansioso do mundo, o segundo em síndrome de burnout e o quinto em depressão.
Talvez, um ponto importante para entendermos essa infelicidade é que talvez a nossa sociedade esteja buscando a felicidade da forma errada. Nossa sociedade acredita que seremos felizes quando alcançarmos um objetivo e conquistas materiais.
Esse é o grande mito da felicidade: serei feliz quando casar, comprar uma casa maior, ganhar meu primeiro milhão, ficar famoso, comprar um carro importado, uma bolsa desejada ou quando tiver o corpo perfeito.
Então, focamos todos os nossos esforços para adquirir o máximo no menor tempo possível. Porém, para quem tem as necessidades básicas atendidas, as circunstâncias externas não serão determinantes para a felicidade.
Claro que não podemos romantizar, pois pessoas em situação de vulnerabilidade não têm essa opção, infelizmente. Para grande parte das pessoas que não têm as condições básicas, as circunstâncias externas são muito relevantes. Mas, para quem já tem as necessidades básicas atendidas, felicidade não virá somente da vida hedônica de prazeres e conquistas materiais.
É preciso entender que felicidade vem também da vida que Aristóteles chamava de eudaimônica, de uma vida de virtudes, auto realização e significado. Segundo o cientista comportamental Paul Dolan, “felicidade são experiências de prazer e propósito ao longo do tempo”.
SEGUNDO A OMS, O BRASIL É O PAÍS MAIS ANSIOSO DO MUNDO, O SEGUNDO EM SÍNDROME DE BURNOUT E O QUINTO EM DEPRESSÃO.
Precisamos, então, equilibrar esses dois pilares. Felicidade é construção e depende de autoconhecimento, auto responsabilidade e disciplina. Tem mais a ver com a jornada do que com um momento específico.
Mas que escolhas, hábitos e atitudes podem nos trazer mais felicidade? Martin Seligman, pai da psicologia positiva, criou um modelo de cinco pilares chamado PERMA, que mensura o bem-estar subjetivo e apresenta um caminho de quais são as atividades intencionais que nos trazem uma vida mais plena e realizada.
PRIMEIRO PILAR: EMOÇÕES POSITIVAS
O primeiro pilar do PERMA são as emoções positivas, que é ter uma vida agradável. Realmente, uma parte da nossa felicidade vem dessa vida de busca pelos prazeres. Afinal, diversos estudos científicos comprovam que as experiências que nos trazem prazer – como passear, namorar, estar com amigos, meditar, rir – produzem um efeito positivo no cérebro, o que aumenta o humor e o estado de bem-estar.
SEGUNDO PILAR: ESTADO DE FLOW
O segundo pilar é o estado de flow, que é quando realizamos ações em que nos sentimos engajados e não percebemos o tempo passar. O estado de flow vem quando buscamos atividades que nos desafiam, mas que estão dentro de nossas capacidades.
Se são muito simples, sem desafios, nos entediamos. Se são muito difíceis, nos trazem ansiedade. Precisamos de autoconhecimento para saber o que de fato amamos fazer e no que somos bons. Foque em suas paixões, em seus talentos, foque em ser autêntico e encontrar o que te traz engajamento.
TERCEIRO PILAR: RELAÇÕES POSITIVAS
Ter um grupo de apoio é uma forma de nos sentirmos seguros neste mundo inseguro. Apesar de sermos uma sociedade hiperconectada, nunca nos sentimos tão solitários. Temos milhares de seguidores e ninguém nos dando a mão quando precisamos. Construa e valorize suas relações. Este é o maior preditivo da felicidade.
QUARTO PILAR: SIGNIFICADO
Todos precisamos de um chamado, uma missão na vida, um porquê. Só que, muitas vezes, temos a ideia de que só alcançaremos isso quando mudarmos de trabalho, quando abandonarmos nossa empresa, quando encontramos algo nobre. A verdade é que o sentido da vida talvez seja mais simples e tenha mais a ver com a jornada do que com uma grande chegada.
QUINTO PILAR: REALIZAÇÕES
De nada adianta sonhar e idealizar novas atividades e não realizá-las. Há um estudo de pessoas que receberam salário sem fazer nenhuma atividade. Parece o emprego dos sonhos acordar, receber salário e não ter que fazer nada? Nossa, maravilhoso, não é?
Na verdade, não. Os participantes se sentiram completamente entediados e pediram para sair do estudo. Nós, seres humanos, precisamos de metas e objetivos. Precisamos nos sentir realizados. E, claro, precisamos celebrar essas conquistas e realizações.
FELICIDADE É CONSTRUÇÃO E DEPENDE DE AUTO CONHECIMENTO, AUTO RESPONSABILIDADE E DISCIPLINA.
A verdade é que felicidade é simples. Tem a ver com o dia a dia, em sermos verdadeiros com nós mesmos e nos conhecermos. Tem a ver com termos o que sonhar, fazermos atos de bondade constantes, sermos mais positivos, cuidarmos do nosso emocional, espiritual, intelectual, físico e das nossas relações.
O mundo não será perfeito nunca. É um mundo ansioso, frágil, inseguro. A vida trará desafios. As relações não são fáceis. E nós, como seres humanos, temos desafios emocionais. Temos um viés negativo, uma mente divagante, temos medos e ansiedades.
Mas podemos buscar autoconhecimento para olharmos tudo isso e escolhermos ser felizes. Viver o aqui agora, com conexões profundas, emoções positivas e, claro, uma jornada com significado. Depende de nós.
Texto: Renata Rivetti