Neste ano, bancos e fintechs devem testar as operações financeiras e propor aplicações práticas para a plataforma; lançamento para o público deve ser em 2026

Em 2025, após testes que devem durar até o segundo semestre, o Drex – a nova moeda digital do Brasil – deve começar a ser implantado no país. “O foco é na democratização do acesso aos produtos financeiros e na criação de novos serviços”, diz Fabio Araujo, coordenador do projeto no Banco Central (BC).

Inicialmente o Drex foi chamado de Real Digital, o que fez muita gente pensar que ele seria apenas uma versão da moeda nacional em um ambiente online. O Drex, no entanto, vai muito além: trata-se de uma plataforma blockchain que servirá como base para que empresas, instituições e pessoas físicas possam trocar ativos digitais por meio de contratos inteligentes.

O novo sistema tende a gerar mais eficiência, reduzir a burocracia e os custos, o que pode baratear as taxas cobradas pelos bancos e também criar novos modelos de negócio. Para acessar a Plataforma Drex, os usuários precisarão de um intermediário autorizado, como um banco, que fará a transferência de valores para suas carteiras digitais.

Manter a privacidade dos usuários é crucial para o lançamento do Drex. Não à toa, o assunto foi tema da primeira fase do projeto-piloto, que ocorreu no ano passado. Durante os testes, foram detectados problemas de segurança – o que acabou atrasando o cronograma do projeto. A previsão para o fim da segunda fase era até o fim deste semestre, mas especialistas apontam que a etapa pode se prolongar até o final deste ano.

Segundo Fabio Araujo, o maior desafio para a implantação da plataforma é encontrar uma solução escalável que combine privacidade e velocidade. “O ambiente que estamos construindo deve trazer a facilidade e segurança para os ativos digitais”, afirmou no Criptorama.

Para Julierme de Souza, executivo de tecnologia do BB, pesquisas em torno do blockchain devem ser prioridade no Drex, uma vez que a privacidade é componente fundamental para a escalabilidade do projeto. “A oportunidade de experimentar casos reais de tokenização, com a participação de outras instituições, cria um cenário bastante promissor, impulsionando modelos de negócios que promovem uma maior inclusão financeira em um ambiente mais eficiente e seguro”, avalia.

Lançamento ao público

O Banco Central não revela quando as primeiras operações por Drex devem ser, de fato, liberadas. Mas Wagner Martin, mentor do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) do BC, acredita que isso só ocorrerá no início do ano que vem.

“É um pouco complicado fazer uma previsão porque dependemos também do Legislativo, mas devemos ter uma estrutura completa e alguns casos de uso este ano. Então, a plataforma deve estar pronta em 2026”, afirma Martin, que é vice-presidente de relações institucionais da empresa de tecnologia Veritran.

De acordo com o BC, 16 consórcios estão trabalhando na segunda fase do piloto do Drex, desenvolvendo a plataforma em parceria com a instituição. Entre as aplicações que já estão sendo testadas e devem chegar ao usuário até 2026 estão compra e venda de carros, imóveis e investimentos, afirma Carla Beni, economista e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Minha esperança é ter todo dinheiro público em Drex. Não há transferência em Drex que o Banco Central não saiba”, avalia a especialista.

Alguns bancos já estão fazendo testes com a plataforma, entre eles a Caixa e o Inter. No início de janeiro, as instituições financeiras fizeram a primeira transferência em Drex de um banco para o outro.

Caixa Econômica Federal (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) — Foto: Epoca Negocios
Caixa Econômica Federal (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) — Foto: Epoca Negocios

Confira o estágio atual dos bancos em relação ao Drex*:

  • Caixa: está implementando o primeiro pagamento digital offline do Brasil em Drex e desenvolvendo tokenização para o setor imobiliário, em parceria com a Elo e a Microsoft.
  • BB: está desenvolvendo certificados de depósito bancário (CDBs) tokenizados como garantia de operações de crédito e tokenização para o setor imobiliário.
  • Santander: está criando tokenização de automóveis, debêntures (títulos de dívida privada) e CBIO (créditos de descarbonização).
  • Bradesco: está desenvolvendo certificados de depósito bancário (CDBs) tokenizados e transações com debêntures tokenizadas.
  • Inter: está testando o Trade Finance, aplicação baseada em blockchain que visa diminuir riscos e reduzir custos em transações internacionais.

*Itaú, Nubank e C6 não informaram os projetos que estão desenvolvendo. Segundo o site do BC, o Itaú deve trabalhar com crédito colateralizado em CDB e o Nubank, com otimização do mercado de câmbio. Não há informações sobre o C6.

Por Patrícia Basilio