Popular domínio de território britânico no Oceano Índico é usado por startups de tecnologia. Reino Unido passará controle do território e .io pode acabar
Um acordo entre o Reino Unido e as Ilhas Maurício pode acabar com o domínio .io — muito popular com startups e empresas tech. O Território Britânico do Oceano Índico (BIOT em inglês), composto pelo Arquipélago de Chagos, que é controlador do .io, terá sua soberania entregue para as Ilhas Maurício. Assim, o sufixo será removido pela ISO e, provavelmente, pela IANA, órgão que controla os domínios de topo.
Ou seja, a manutenção do .io não depende das Ilhas Maurício, que podem lucrar milhões de dólares com o uso do domínio por empresas estrangeiras. Essa também não seria a primeira vez que um domínio seria excluído da internet.
Com o fim da Iugoslávia, a IANA realizou um processo de transição e aposentadoria do .yu. A diferença é que a internet não estava em todos os cantos e, principalmente, não gerava milhões em receita para o proprietário do domínio. O .su, da União Soviética, segue sob controle da Rússia e é usado, geralmente, para fins ilícitos. Era esperado que o país realizasse um processo de aposentadoria do sufixo.
Futuro do .io envolve política, história e colonialismo
A dúvida sobre o futuro do .io é um dos casos em que o jornalismo de tecnologia precisa falar de política e história. E como estamos falando do Reino Unido, colonialismo. O Arquipélago Chagos era habitado por mais de 1.000 pessoas do povo chagossiano, que foi totalmente expulso das ilhas na década de 60.
Hoje, a única ilha habitada é Diego Garcia, onde o Reino Unido e os Estados Unidos operam uma base aérea. O acesso é exclusivo para militares, mas alguns civis foram autorizados a visitá-la em setembro. No acordo, a base aérea será mantida por mais 99 anos.
As Ilhas Maurício administravam o arquipélago quando eram uma colônia francesa. Depois, a França cedeu o território para o Reino Unido. Segundo as Ilhas Maurício, os britânicos exigiram a entrega das Ilhas Chagos em troca da sua independência.
Em 2020, o povo chagossiano reivindicou a propriedade do domínio .io. Segundo os chagossianos, a propriedade vale US$ 50 milhões (a ilha de Anguila faturou mais de US$ 25 milhões com seu .ai). Parte dessa nação sem país não está contente com o acordo, já que a negociação envolveu apenas o governo da Ilhas Maurício e Reino Unido.
Com todo esse histórico e disputa em potencial, a IANA tem um grande abacaxi na mão. Na teoria, ela não terá motivos para manter o .io — cuja origem é o “Indian Ocean” do nome em inglês do território. Na prática, as Ilhas Maurício e Reino Unido podem querer “herdar” a propriedade do sufixo, assim como aconteceu com o .su com a Rússia.
Além disso, há milhares de empresas no mundo usando o .io. O processo de aposentadoria desse domínio pode ser trabalhoso e quem já é conhecido com o .io pode reclamar. O fator dinheiro vai pesar nessa história. Preparem o estoque de pipoca para os próximos anos.
Popularidade do domínio .io com startups
Se você não entende por que esse domínio é tão popular com startups, deixe-me explicar. Conforme apurado em diferentes fontes, a cultura startup gosta do .io porque serve como sigla para Input/Output (Entrada/Saída), processo da computação de receber e entregar algo para um usuário.
Como o conceito dessas empresas é entregar um produto moderno, tecnológico e revolucionário, o .io se tornou o padrão da indústria (“você entrega um problema e eu devolvo com a solução”). E claro, influenciou as startups e empresas tech que surgiram após a primeira onda do SaaS, praticamente virando sinônimo de site de companhia tech.
Se o cliente confiava na empresa famosa X que usava o .io, natural que as startups recém-criadas adotassem o domínio — adotando o startupês: “monkey see, monkey do”.
Com informações: Every e The Verge