A fome no mundo cresceu nos últimos dois anos, alcançando quase 10% da população. Mesmo assim, cerca de 17% dos alimentos produzidos no planeta são desperdiçados.

O relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022, da Organização Mundial da Saúde (OMS), trouxe dados preocupantes. O índice de pessoas que passam fome no mundo cresceu, depois de ficar em estabilidade desde 2015.

Atualmente, estima-se que 828 milhões de pessoas no mundo passam fome, e outras 2,3 bilhões sofram com a insegurança alimentar. O crescimento do número de pessoas abaixo da linha da pobreza está diretamente ligado aos efeitos econômicos causados pela pandemia de covid-19 e do conflito Rússia-Ucrânia.

Apesar do grande drama que é a fome mundial, mais um item contribui para piorar a situação: o desperdício de alimentos. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontou que 931 milhões de toneladas dos alimentos que chegam aos varejistas, consumidores ou restaurantes são desperdiçados.

O dado está no relatório Índice de Desperdício de Alimentos, que analisou 152 unidades de observação em 54 países. A descoberta é mais assustadora por mostrar que o fenômeno ocorre tanto em países ricos, quanto em países em desenvolvimento, que convivem com altos índices de fome.

Quando se considera também os alimentos em sua forma bruta e sua cadeia produtiva, a situação é pior. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que até 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente no mundo. Isso corresponde a cerca de 1/3 de tudo o que é produzido.

Além do problema da fome, o desperdício de alimentos piora a situação da poluição e do aquecimento global. Os processos para a produção desses alimentos desperdiçados correspondem a 8% das emissões de gases causadores do efeito estufa no mundo. Caso o desperdício de alimentos fosse um país, ele seria o terceiro maior poluidor do mundo.

Como combater o desperdício de alimentos?


Melhorar esses números e esse cenário aterrador é possível, mas o engajamento da sociedade civil, dos governos e dos produtores do agronegócio é necessário.

A nível dos consumidores, existem medidas simples e práticas que podem ser tomadas para evitar o desperdício. Elas começam na hora de trazer os alimentos para casa: o ideal é comprar conforme a necessidade, e não para sobrar. Além disso, muita atenção aos prazos de validade e a quantidade de alimentos perecíveis comprados, é melhor comprar aos poucos do que jogar fora.

Muitas vezes descartamos alimentos como frutas e verduras pelo seu aspecto visual. Para evitar esse comportamento, o ideal é congelar os alimentos que começaram a demonstrar aspecto de envelhecimento, pois no geral eles ainda estão bons e conservam suas propriedades nutritivas.

Outra dica é ficar atento ao congelador. Especialistas indicam que ele mantenha a temperatura de pelo menos 5ºC, mas muitos refrigeradores trabalham acima da temperatura indicada.

A nível governamental, é preciso muita mudança para garantir a otimização da produção de alimentos. Um dos grandes gargalos produtivos no Brasil é a infraestrutura para escoamento da produção. Sendo um País dependente do modal rodoviário, a qualidade das estradas afeta diretamente a velocidade e a quantidade de alimentos que chega para a comercialização interna e exportação.

Para se ter ideia, em 2020, 1,58 milhão de toneladas de soja e 1,34 milhão de toneladas de milho caíram nas estradas e nas esteiras transportadoras, segundo um estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqLog). A qualificação da infraestrutura rodoviária e investimento em outros modais é fundamental para garantir a otimização da produção brasileira.

Outra medida necessária vinda do governo é a retomada de programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que foram desmontados nos últimos anos. Esses programas compram alimentos principalmente de pequenos produtores e agricultores familiares, e o destinam para a produção de merenda, doação para população carente e para reserva de mercado, impedindo altas bruscas nos preços de alimentos básicos.

Outras medidas que podem ser tomadas contra o desperdício envolvem empresas e produtores, é o caso da iniciativa da marca Sazón, relatada em notícia do Estadão. A marca, em conjunto com startups, criou a campanha “Somos Todos Esquadrão do Amor SAZÓN®” e comprou excedentes alimentares de pequenos produtores.

Esses excedentes foram recolhidos pela startup social Comida Invisível, que conecta quem precisa de alimento com quem tem alimento sobrando. Assim, os produtos chegaram a instituições que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social em várias cidades. A campanha atendeu 52,7 mil pessoas entre agosto de 2021 e janeiro de 2022.