Recentemente, o Índice de Progresso Social (IPS) de 2023, estudo produzido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e pelo projeto Amazônia 2030, lançou luz sobre um histórico problema na Amazônia brasileira: o desmatamento está fortemente ligado ao baixo desenvolvimento.
Ao analisar 47 indicadores de qualidade de vida relacionados à saúde, educação, segurança e moradia, o estudo desmonta uma falácia muito comum, a de que o desmatamento gera riqueza. O que os dados provam é que os municípios que mais devastaram a floresta nos últimos três anos estão entre os piores em termos de indicadores sociais.
A correlação é assustadora. Os lugares que tiveram as melhores notas no IPS desmataram uma média de 20 km² entre 2020 e 2022, enquanto os municípios com as piores avaliações derrubaram mais de 86 km² no mesmo período. Esse dado é um grito de alerta para a urgência de ações que detenham essa degradação ambiental.
A Amazônia, com sua imensa biodiversidade, enfrenta grandes desafios, especialmente o aumento do desmatamento. É perturbador perceber que essa expansão não resultou em desenvolvimento para a região, ao contrário, deixou os 28 milhões de habitantes da Amazônia Legal em condições sociais precárias. Além disso, a Amazônia também se tornou a maior emissora de gases do efeito estufa no país.
A comparação internacional feita pelo IPS também é chocante. Se a Amazônia fosse um país, seu desenvolvimento social seria comparável ao de Malawi, uma nação africana classificada como a 125ª entre 169 países avaliados no último IPS Global de 2022. Isso significa que a Amazônia estaria entre os 50 piores locais para se viver. A situação piora quando vemos que nenhum dos estados da Amazônia Legal superou a média nacional.
O IPS Amazônia 2023 mostrou que a dimensão “Oportunidades” teve o pior desempenho, indicando deficiências em aspectos como vulnerabilidade familiar, violência de gênero, acesso à educação superior e transporte público. Isso destaca a necessidade de abordagens abrangentes para enfrentar esses desafios complexos.
Para promover o progresso social na Amazônia, é crucial reduzir drasticamente o desmatamento e as atividades ilegais associadas a ele como grilagem, extração irregular de madeira e garimpo ilegal. Essas práticas prejudicam o ambiente econômico, inibem investimentos sustentáveis e retardam a marcha da prosperidade na região.
É preciso investir em alternativas econômicas sustentáveis, como a bioeconomia e o pagamento por serviços ambientais, para equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. Conforme outro estudo do projeto Amazônia 2030, a região morde uma fatia de menos de 0,2% de um mercado de produtos compatíveis com a floresta, que movimenta mais de 200 bilhões de dólares, mesmo concentrando 30% das florestas tropicais do mundo.
A situação em municípios como Jacareacanga e Faro no Pará exemplifica as disparidades existentes na região. Jacareacanga, marcada pelo desmatamento e conflitos sociais, apresenta baixo desenvolvimento, enquanto Faro, mesmo com um baixo PIB per capita, oferece uma melhor qualidade de vida, especialmente em termos de segurança pública.
A série histórica do IPS destaca que a Amazônia permanece estagnada em seu desenvolvimento social, variando apenas nas casas decimais. Isso indica que é necessário repensar as estratégias atuais e implementar políticas que abordam efetivamente as lacunas sociais e ambientais, promovendo um desenvolvimento genuinamente sustentável.
A preservação da Amazônia não é apenas uma questão ambiental, é uma necessidade urgente para garantir o bem-estar da população amazônica e contribuir para um futuro sustentável para todo o planeta.
Texto: Gustano Nascimento