Já pensou em um material de construção feito com organismos vivos? A designer Laura Maria Gonzalez criou um biocimento a partir de micróbios, sendo uma alternativa sustentável capaz de substituir o concreto tradicional – isso porque o seu processo de fabricação não utiliza calor e é, portanto, neutro em carbono.

Para criar esse biocimento, Laura Maria Gonzalez introduziu bactérias nutritivas em moldes 3D, que foram preenchidos com uma mistura de minerais agregados. Com a adição de uréia e cálcio, um ambiente propício é criado e cristais de carbonato são formados, resultando em um biocimento que pode assumir diferentes formatos. “A mágica acontece quando alimentamos os micróbios residentes; eles respondem criando cristais crescentes, o que aumenta a força geral do material”, comenta a designer.

Designer cria biocimento sustentável a partir de micróbios. — Foto: Laura Maria Gonzalez

Designer cria biocimento sustentável a partir de micróbios. — Foto: Laura Maria Gonzalez

O biocimento compartilha as mesmas características do concreto tradicional, porém apresenta uma qualidade única: é vivo e interativo. “Nosso objetivo não é apenas igualar a resiliência do cimento comercial, mas também nos esforçamos para superá-lo, minimizando nossa pegada de carbono”, ressalta Laura.

Laura Maria Gonzalez é arquiteta e designer multidisciplinar cujo trabalho abrange os campos de design generativo, computação, biologia sintética e manufatura aditiva. — Foto: Laura Maria Gonzalez

Laura Maria Gonzalez é arquiteta e designer multidisciplinar cujo trabalho abrange os campos de design generativo, computação, biologia sintética e manufatura aditiva. — Foto: Laura Maria Gonzalez

Atualmente, o material está em uma fase de testes que irá qualificar sua resiliência – tanto em dureza quanto em resistência a diferentes condições climáticas. Além disso, a designer explica que estão sendo feitos estudos com objetivo de analisar a possibilidade de realizar um “boost” no biocimento, já que ele é feito de um organismo vivo: “Pense nisso como adicionar fertilizante a um jardim, mas, no nosso caso, adicionaríamos mais nutrientes para os micróbios aumentarem o crescimento de cristais, aumentando assim o força ou cura do material à medida que ele envelhece e erode”.

Testes estão sendo realizados para atestar sua resiliência. — Foto: Laura Maria Gonzalez

Testes estão sendo realizados para atestar sua resiliência. — Foto: Laura Maria Gonzalez

A ideia é que, no futuro, o biocimento seja utilizado em construções de fato, contribuindo para a criação de modelos que respeitem e funcionem em harmonia com o meio ambiente. “No entanto, é um ato de equilíbrio delicado – estamos tentando alinhar as necessidades de um sistema vivo com processos normalmente projetados para materiais inanimados”, diz Laura. “Com a pesquisa global neste campo ganhando impulso, acredito que em breve veremos um aumento desses materiais vivos sendo usados ​​na indústria da construção”, completa.

No momento, o biocimento está em exibição na Keller Gallery do MIT, em uma exposição chamada Microbes Make Mountains. As instalações presentes no espaço foram inspiradas em formações minerais encontradas no Rio Tinto, na Espanha, e na Depressão de Danakil, na Etiópia – nestes locais, as comunidades microbianas contribuem significativamente para a criação de impressionantes padrões minerais.

Além disso, Laura Maria Gonzalez apresenta dois protótipos de esculturas na exposição, que possuem o objetivo de demonstrar os papéis do ferro e do cobre no processo de biocimentação, revelando a complexa interação que existe entre os micróbios e os minerais. A mostra Microbes Make Mountains é financiada por bolsas do Council for the Arts do MIT (CAMIT) e do Departamento de Arquitetura do MIT, e conta com apoio do Huang-Hobbs BioMarker Space.

Fonte: Laura Raffs/ Casa vogue