Atualmente, a região aquece quase quatro vezes mais rápido do que a média do restante do mundo

Com sua superfície branca refletindo a luz solar recebida, o Ártico tem papel vital no sistema climático da Terra, ajudando no resfriamento do clima. Quanto menor a extensão desse manto de gelo no Polo Norte, mais prejuízo ao equilíbrio climático. Na ausência de gelo, o oceano escuro passar a absorver mais energia do sol, o que leva a mais aquecimento e, consequentemente, mais derretimento, em um ciclo perigoso que se retroalimenta.

Um estudo de modelagem de dados liderado pela University College London (UCL) alerta que o aquecimento seguido de degelo no Ártico serão responsáveis por um aumento global da temperatura de 2ºC, atingido oito anos mais cedo do que se a região estivesse aquecendo à taxa média global. Atualmente, a região aquece quase quatro vezes mais rápido do que a média do restante do mundo.

Publicado na revista Earth System Dynamics, o novo estudo estimou o impacto deste aquecimento na rapidez com que os limites de temperatura global de 1,5ºC e 2ºC, estabelecidos no Acordo de Paris, poderão ser ultrapassados. Para fazer isso, a equipe criou diferentes projeções de mudanças climáticas em que o Ártico não estaria aquecendo mais rápido. Compararam então as temperaturas neste mundo hipotético com as dos modelos do “mundo real”, onde o ritmo de aquecimento é maior, e examinaram o momento em que os limites críticos do Acordo de Paris de 1,5ºC e 2ºC foram violados.

Descobriram que, nos modelos sem aquecimento rápido do Ártico, os limiares foram ultrapassados ​​cinco e oito anos mais tarde, respectivamente, do que as datas projetadas para o “mundo real” de 2031 a 2051. Além disso, a pesquisa sugere que o aquecimento desproporcionalmente rápido da região, conhecido como amplificação do Ártico, acrescentou uma incerteza desproporcional às previsões, uma vez que a variação nas projeções do modelo para a região é maior do que para o resto do planeta. As projeções variaram mais substancialmente entre os modelos para a região do que para outras partes do globo, representando 15% da incerteza nas projeções, apesar de a região representar apenas 4% da área de superfície global.

“Estas descobertas sublinham a necessidade de uma monitorização mais extensa das temperaturas na região, tanto in situ como através de satélites, e de uma melhor compreensão dos processos que aí ocorrem, o que pode ser usado para melhorar as previsões do aumento da temperatura global”, disse Alistair Duffey (UCL Earth Sciences), autor principal do estudo.

Um mundo mais quente implica também um Ártico mais aquecido. “Um aumento de 2ºC na temperatura a nível mundial resultaria num aumento médio anual de 4ºC no Ártico e num aumento de 7ºC no inverno, com consequências profundas para as populações e ecossistemas locais”, acrescentou a coautora, professora Julienne Stroeve, da UCL Earth Sciences, no Canadá. Em quatro décadas, o Ártico perdeu aproximadamente 3,5 milhões de km2 – uma área sete vezes maior do que a Espanha.

Texto: Um só Planeta