Remuneração adicional pode permitir sua transformação em 2024: em vez de devedor, você será investidor

O pagamento da primeira parcela do 13º salário aos trabalhadores formais da iniciativa privada e aos servidores públicos ocorre nesta quinta-feira, portanto, este é o momento de falarmos de consumo consciente e planejamento financeiro.

Segundo pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais brasileiras, 29% das pessoas pretendem investir o 13º, 21% devem pagar dívidas, 25% irão gastar nas comemorações de Natal e Ano-Novo.

Do total dos entrevistados, 33% afirmaram que irão comprar presentes de Natal.

Esses números, a meu ver, dizem muito sobre o quanto ainda temos um longo caminho até que a educação financeira consiga ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos de forma planejada e inteligente.

Uma conta que não fecha
Quero trazer para você os dados de outra pesquisa, realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), até agosto deste ano, 77,4% das famílias brasileiras estavam endividadas e, dentro desse número, 38,6% estavam inadimplentes.

Naturalmente, ninguém fica endividado porque quer. Recorrer ao crédito, que no Brasil é tão caro, é algo que as pessoas fazem por falta de alternativas. Entretanto, a discrepância nessas duas informações – grau de endividamento versus planos para o uso do 13º – demonstra a dificuldade das pessoas em fazer escolhas que as ajudem a viver melhor.

Sabemos que a situação econômica nunca foi simples no Brasil, especialmente para famílias com menor renda, porém, não são apenas fatores externos que comprometem o orçamento familiar, e é sobre isso que eu quero refletir junto com você.

Pagar dívidas é o primeiro passo
Sair do endividamento não é fácil. Além de condições financeiras favoráveis, é algo que requer planejamento e organização E isso não tem nada a ver com aqueles conselhos absurdos sobre economizar no cafezinho, porque na verdade isso não vai ajudar em nada. Economizar moedinhas não vai sanar dívidas e nem enriquecer ninguém, mas a mudança de hábitos tem esse potencial.

O que vai te ajudar a sair das dívidas e virar o jogo são ações práticas que envolvem foco e disciplina. O compromisso que você assume consigo em realizar pequenas mudanças é que surtirá grandes efeitos no longo prazo.

Como educador financeiro, eu fico realmente preocupado em ver que a maioria das pessoas privilegia apenas o momento presente, sem qualquer planejamento que as coloque numa situação financeira mais confortável, em que a realização seja decorrente da tranquilidade e da segurança financeira, e não apenas da alegria momentânea de uma compra.

O 13º pode ajudar e diminuir o endividamento
Se você recebe o 13º salário e possui dívidas, esta é uma oportunidade importante para começar a mudar a sua história e preparar um 2024 em que você deixe de ser alguém que deve e passe a ser alguém que investe.

O primeiro passo é fazer um planejamento realista quanto ao uso do 13º. Sugiro que você divida o dinheiro em partes: 1. pagamento de dívidas; 2. despesas de final de ano, como as festas, férias ou compras que não possam esperar as habituais liquidações de janeiro ou algum outro momento; 3. despesas de início de ano, como IPVA, IPTU etc.; 4. investimento.


É possível que o percentual destinado a cada categoria não cubra integralmente a despesa correspondente. Porém,  você está administrando um orçamento e, ao definir quanto gastar em cada item e as respectivas datas para usar esses recursos, você poderá combiná-lo com outras entradas financeiras, como a segunda parcela do 13º, o salário de janeiro, etc.

O percentual a definir para cada uma dessas categorias só você pode determinar, afinal, isso depende da sua dinâmica de vida. Minha sugestão é que você destine o maior percentual possível para quitar ou pelo menos abater parte de suas dívidas, especialmente aquelas mais caras, como o cartão de crédito, por exemplo.

Compreendo que abrir mão de compras ou atividades de final de ano é bem difícil, e por isso mesmo é que sugiro essa divisão do dinheiro em partes, pois não adianta você abrir mão de 100% das coisas, se isso for te deixar desconfortável.

A proposta é mudar hábitos e tornar sua relação com o dinheiro algo mais planejado e consciente. Esse esforço de adiar algumas coisas, e administrar a forma como usar suas receitas, vai te trazer um ano novo muito mais cheio de oportunidades.

Investir o 13º é necessário
Como eu disse acima, pelo menos um pequeno percentual do 13º salário precisa ser destinado a investir. Mesmo que nesse momento esse valor seja muito pequeno – afinal, se você tem dívidas, a prioridade é pagá-las – faça esse esforço e comece a investir.

Inicie com o que for possível, pois mais relevante que o valor é a mudança de hábito, é reposicionar sua conduta de forma a enviar para o seu cérebro a mensagem de que sim, é possível.

No meu canal do Youtube, eu publiquei essa semana um vídeo ensinando como começar a investir com R$ 50 e esse pode ser um bom ponto de partida.

Todos nós temos necessidades básicas sem as quais não há dignidade e, em paralelo, todos temos desejos: uma roupa de determinada marca, um celular moderno, uma viagem, a reforma da casa, etc.

A lista de desejos é infinita e não há nada de errado nisso, ao contrário! O erro está em não planejar sua vida de forma a transformar os desejos em metas a serem alcançadas gradativamente, e os investimentos podem te ajudar muito nisso.

Comece agora pelo mais difícil: organizar as contas, olhar de forma realista para seu comportamento de consumo e traçar um plano para realizar as mudanças necessárias, eliminar dívidas e passar a investir mensalmente.

Depois que vencer esta etapa, você vai perceber que não existem metas impossíveis, e estará muito mais motivado para planejar seu futuro financeiro.

Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.

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Texto: Eduardo Mira/ Forbes