Empresas brasileiras começam a desenvolver ferramentas proprietárias de inteligência artificial para otimizar diferentes atividades
Assim como em diferentes setores, a inteligência artificial começa a ser utilizada na indústria de alimentos e no setor de alimentação, auxiliando na criação de novos produtos e novas experiências. Com impactos em toda a cadeia produtiva, do campo à mesa, a ferramenta já vem influenciando o modo como produzimos comida e nos alimentamos.
No Brasil, algumas empresas já se destacam pelo uso dessa tecnologia. No caso da Diferente, foodtech de assinatura de alimentos orgânicos, ela tomou forma como a PitaIA, a ferramenta capaz de sugerir ao usuário receitas em tempo real de cada alimento recebido na cesta, além de indicar receitas com três ou mais itens combinados.
“Nossos modelos de machine learning começaram a ser desenvolvidos no momento que iniciamos a empresa”, conta Paulo Monçores, cofundador e CTO da Diferente. “Por isso, desde o primeiro dia de operação dentro do time de pesquisa e desenvolvimento, 30% da capacidade operacional foi investida na construção dos nossos modelos.”
Segundo Monçores, a empresa tem como objetivo dar acesso a alimentação combatendo o desperdício de alimentos, otimizando uma cadeia de produção que não favorece o pequeno produtor e o consumidor final.
“Para resolvermos esse problema de maneira efetiva, os clientes não escolhem todos os itens que vão na cesta. Por isso, precisamos de uma inteligência que descubra, com base em inúmeras variáveis (preferência, restrição, frequência, sazonalidade, preço, similaridade com outros itens etc..), o que deve ir na cesta de cada um”, explica. “Esse é um modelo que está em constante evolução, baseado no engajamento do cliente com nossos produtos digitais.”
A DIFERENTE CRIOU A PITAIA, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CAPAZ DE SUGERIR AO USUÁRIO RECEITAS EM TEMPO REAL DE CADA ITEM RECEBIDO NA CESTA DE ALIMENTOS.
O segundo motivo para a criação de uma ferramenta como a PitaIA é ajudar os clientes a evitar o desperdício dos itens que recebem na cesta. “Trabalhamos com centenas de produtos e a cada mês estamos ampliando nossa oferta. Recorremos à IA generativa para geração de conteúdo de receitas, como aumentar a durabilidade dos itens e como armazenar os itens corretamente.”
Monçores afirma que o modelo de recomendação é treinado semanalmente. Baseado no feedback, o modelo precisa entender se o que foi sugerido para a cesta era realmente o mais indicado para aquele cliente.
IA E ALTERNATIVAS PARA A CARNE
Já a NotCo, conhecida por recriar alimentos de origem animal, mas com ingredientes de origem vegetal, conta com a IA proprietária Giuseppe. Ela explora uma vasta base de dados com informações sobre diferentes plantas e seus componentes para encontrar as combinações de vegetais que resultarão em alimentos com sabor, textura, aroma e aparência idênticos aos dos alimentos de origem animal.
“O Giuseppe é usado diariamente para acelerar o processo de desenvolvimento de receitas e produtos. Todos os produtos da NotCo, em todos os países, foram criados com o auxílio da IA”, conta Cynthia Pereira, diretora de pesquisa e desenvolvimento da NotCo Brasil, e do Giuseppe.
A empresa começou em 2015 e levou seis meses para criar a primeira versão do Giuseppe. Desde então, continua lançando atualizações feitas com base no feedback e na experiência do uso da ferramenta.
A inteligência artificial opera como um sistema alimentado por uma ampla base de dados que inclui receitas disponíveis na internet, bancos de dados acadêmicos complexos, análises físico-químicas internas, a experiência dos chefs da NotCo e milhares de plantas e vegetais.
“O Giuseppe utiliza essas informações para identificar combinações ideais de vegetais em sabor, textura, aroma e aparência de alimentos, feitos 100% de vegetais. Ele é utilizado não apenas para aprimorar alimentos já existentes, mas também para diversos casos, como substituir proteínas de origem animal por fontes vegetais e aprimorar a qualidade de variados tipos de alimentos”, explica a executiva da NotCo.
DESAFIOS DA IA NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Cynthia Pereira acredita que um dos principais desafios ao se trabalhar com inteligência artificial no mercado de alimentos é que nem todos os problemas estão abrangidos no banco de dados da empresa.
“Isso inclui questões relacionadas à garantia da segurança alimentar, aos processos produtivos, especialmente quando envolvem a geração de subprodutos, como no processo de fermentação”, aponta.
COM IMPACTOS EM TODA A CADEIA PRODUTIVA, A IA JÁ VEM INFLUENCIANDO O MODO COMO PRODUZIMOS COMIDA E NOS ALIMENTAMOS.
Além disso, ao lidar com uma variedade de ingredientes que podem variar dependendo do tipo de processo de obtenção, eles podem resultar em um produto final diferente da matéria-prima original. Isso ocorre em meio à competição com a indústria tradicional de alimentos.
Já para Monçores, usar IA passa por pontos que vão desde a infraestrutura tecnológica, mantendo os modelos sempre atualizados; pela busca de profissionais capacitados e experientes em escala; até o esforço de regionalizar/ personalizar a ferramenta de IA.
“Nosso modelo precisa entender que os hábitos e preferências de consumo dos clientes da região Sudeste é diferente da região Sul. No do Sul, o hábito dos clientes do Paraná são diferentes dos do Rio Grande do Sul. Atingir esse nível de granularidade é desafiador”, reconhece.
Texto: Rafael Teixeira Farias