O Dia Internacional dos Trabalhadores é oportuno para trazer visibilidade a um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável que costuma ser debatido apenas quando ocorrem violações, mas que deveria estar presente com maior frequência. Afinal, desenvolvimento sustentável é aquele capaz de atender as necessidades da sociedade contemporânea sem comprometer as possibilidades das próximas gerações atenderem às suas próprias necessidades. E é no acesso ao trabalho digno que esse objetivo se materializa de forma mais direta e visível, ao menos para a maior parte dos habitantes do planeta.
Além disso, a agenda do trabalho digno pode beneficiar a economia e sociedade como um todo. As externalidades positivas vão desde produtividade, inovação e redução de impactos, aspectos relevantes para o atingimento de diversos ODS, até melhoria em aspectos sociais como violência e criminalidade.
Para pensar o assunto, a agenda de metas das Nações Unidas fornece um parâmetro interessante de onde estamos e queremos chegar. O ODS 8 propõe “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”. Apesar de algumas tentativas de partidarizar a conversa, me parece pouco razoável que alguém questione a legitimidade de tal objetivo que deve nortear tanto a formulação de políticas públicas quanto práticas empresariais privadas, que ainda precisam avançar na conciliação entre maximização de retorno financeiro e impacto social.
Na agenda 2030, um dos objetivos é “alcançar o emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas as mulheres e homens, inclusive para os jovens e as pessoas com deficiência, e remuneração igual para trabalho de igual valor”. Contudo, pesquisas que analisam a disparidade salarial entre gêneros ou etnias evidenciam como estamos distantes de atingir tal aspiração.
Se analisarmos o outro aspecto deste ODS, que trata do pleno emprego, teremos uma situação ainda mais preocupante, dado o cenário de precarização e redução do poder de compra, que empurra as pessoas para a pobreza apesar das excessivas horas de trabalho realizadas. Em um mundo que diz buscar trabalho digno e qualidade de vida universais, é como se todos estivessem exaustos de trabalhar, inclusive quem não tem emprego formal. Isso sem falar nas parcelas da sociedade que tentam relativizar a relevância (e a legitimidade!) de pautas como promoção dos direitos trabalhistas e combate ao trabalho forçado, escravidão moderna e trabalho infantil.
É um cenário que pede por reformas profundas. É comum dizer (como pessoas físicas) que precisamos repensar nossa relação com o trabalho. Mas como empresas também precisamos repensar nossa relação com os trabalhadores. Não há negócios sustentáveis sem trabalho digno, salário justo, equidade e respeito.
Fonte: Exame