Expectativa é que a inteligência artificial seja aplicada em todas as etapas do negócio – da avaliação de desempenho à análise de dados

A inteligência artificial deixou de ser uma escolha no ambiente corporativo. Cada vez mais empresas estão tornando o uso da IA uma exigência para executivos e equipes de diferentes áreas. A mudança, em curso, por exemplo, na big tech Meta, no negócio de aprendizagem de idiomas Duolingo, no e-commerce Shopify, reflete uma transformação estrutural no mundo do trabalho, impulsionada por ganhos de produtividade, cortes de custos e uma crença crescente no potencial das ferramentas generativas.

“À medida que a IA se torna mais popular e as empresas investem mais pesadamente… as ferramentas começarão a ser incorporadas ao trabalho que [as pessoas] já realizam”, disse Emily Rose McRae, analista da consultoria Gartner, ao Washington Post. “O trabalho que elas realizam mudará.”

Em memorandos internos e declarações públicas, CEOs e diretores vêm deixando claro que esperam que seus funcionários dominem as ferramentas de IA e as apliquem em todas as etapas do trabalho – da avaliação de desempenho à análise de dados.

Todos setores serão impactados

Na Meta, o plano é substituir humanos por IA para avaliar riscos relacionados às análises de privacidade de seus produtos. Ao Post, a gigante da tecnologia relatou que está implementando automação para “decisões de baixo risco”, como exclusão e retenção de dados, para permitir que as equipes se concentrem em decisões mais complexas.

Tobi Lütke, CEO da Shopify, escreveu em um comunicado interno, datado de 7 de abril, que esperava que todos aprendessem a aplicar a IA em seus trabalhos, e que a tecnologia também faria parte de questionários de prototipagem, desempenho e avaliação por pares.

“A IA mudará completamente a Shopify, nosso trabalho e o resto de nossas vidas”, afirmou o executivo. “Estamos todos envolvidos nisso!”

No Duolingo, o CEO Luis von Ahn avisou sua força de trabalho há dois meses que a inteligência artificial agora é uma prioridade. Ele informou que a empresa deixaria de contratar terceirizados para trabalhos que a IA pudesse executar e buscaria habilidades em IA na contratação.

Após duras críticas, ele postou o seguinte no LinkedIn: “Para deixar claro: não vejo a IA substituindo o que nossos funcionários fazem (na verdade, continuamos contratando na mesma velocidade de antes). Vejo-a como uma ferramenta para acelerar o que fazemos, com o mesmo nível de qualidade ou até melhor. E quanto mais cedo aprendermos a usá-la, e usá-la com responsabilidade, melhor será para nós a longo prazo”.

Natalie Glance, diretora de engenharia do Duolingo, posteriormente compartilhou, também no LinkedIn, que a IA deveria ser o padrão para a resolução de problemas e as expectativas de produtividade aumentariam à medida que a tecnologia lidasse com mais trabalho.

Ela ainda aconselhou a equipe a dedicar 10% do seu tempo experimentando e aprendendo mais sobre as ferramentas de inteligência artificial, tentando usá-las para cada tarefa primeiro e compartilhando os aprendizados. “Ainda não temos todas as respostas — e tudo bem”, escreveu.

Outra empresa que tem a IA como foco é a Box, que atua com armazenamento em nuvem. Ao Post, seu CEO e cofundador, Aaron Levie, disse que espera que a empresa use a IA para eliminar tarefas que congestionam os fluxos de trabalho das pessoas, automatize mais para que possa reinvestir as economias para obter mais resultados e promova mais experimentação.

Ele também quer treinar os funcionários para que sejam proficientes em IA. “Na engenharia, provavelmente estamos na última geração em que é possível entrar em uma empresa sem experiência em codificação de IA”, salientou. “O que descobrimos internamente e com cada vez mais clientes é que a IA está realmente ajudando a acelerar a produção, a execução de trabalhos melhores e a resolução de problemas mais rapidamente.”

Cautela nunca é demais

Mas a pressão pela adoção de IA tem encontrado resistência. Críticos temem que o entusiasmo exagerado leve à substituição de profissionais qualificados por ferramentas ainda imperfeitas. “IA primeiro = Funcionários por último”, escreveu Chris Craig, CEO Deckly, marketplace para colecionadores de Pokémon, nas redes sociais.

E McRae, da Gartner, alertou que acelerar a adoção de inteligência artificial sem fazer mudanças estruturais e determinar fluxos de trabalho provavelmente não acarretaria retorno sobre o investimento e, ao mesmo tempo, geraria frustração entre os funcionários.

A Klarna, uma fintech sueca, sabe bem o que apostar em IA e se arrepender. Dois anos atrás, ela firmou uma parceria com a OpenAI, criadora do ChatGPT, para automatizar tarefas de marketing e atendimento ao cliente, e reduziu seu quadro de funcionários em 38%.

Mas, agora, a empresa quer ter funcionários de carne e osso de volta. Ao Post, reconheceu as limitações da IA, especialmente em interações complexas, e relatou que planeja recrutar mais trabalhadores humanos para projetos temporários.

“Aprendemos que uma implementação bem-sucedida depende de uma implementação criteriosa”, afirmou a porta-voz Clare Nordstrom. “Uma experiência de qualidade para o cliente exige equilíbrio, e é por isso que estamos investindo em tecnologia avançada com um toque humano.”

McRae complementou que a IA chegará gradualmente a alguns locais de trabalho, independentemente das exigências. Isso porque, cada vez mais, a IA generativa será integrada ao arsenal dos trabalhadores. Porém, até que isso aconteça de fato, “todos precisam entender que as ferramentas que estamos usando são novas e nossa compreensão delas mudará”.

Fonte: Época Negócios