Estudo americano aponta que apenas 23% dos postos de trabalho são viáveis de ser substituídos pelas máquinas
Desde o princípio do avanço da tecnologia, a máquina já apontava como uma ameaça aos empregos das pessoas. Atividades repetitivas, como empacotar alimentos em grande escala ou mesmo cobrar passagens de ônibus, foram automatizadas ao longo do tempo. Com o desenvolvimento da IA (inteligência artificial), a evolução de aplicativos como o ChatGPT trouxe a possibilidade antes inimaginável de substituir funções como laudar um exame de tomografia e ainda sugerir tratamentos. Isso é um susto para muitos especialistas. Estudos internacionais apontam que essa nova tecnologia pode realizar ao menos 50% das habilidades exigidas nos trabalhos. Quatro pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) resolveram medir se isso é de fato viável. Com o título “Beyond A.I. Exposure” (Além da exposição à IA), um paper de 45 páginas, eles afirmam que, por uma questão de custo, apenas 23% da mão de obra será impactada por essa transformação, porque a força do trabalho humano ainda é mais barata.
O estudo levou em consideração três pilares. Primeiro, identificou quais tipos de atividades poderiam ser automatizados. Depois, checou se haveria ou não melhora da performance com a inclusão da tecnologia. Por último, o custo da transformação. O estudo foi financiado pelo MIT-IBM Watson AI Lab e utilizou pesquisas online para coletar dados sobre cerca de 1.000 tarefas assistidas visualmente em 800 ocupações. Um dos casos hipotéticos analisados foi, por exemplo, de uma pequena padaria, onde 6% das funções de um padeiro poderiam ser automatizadas. Isso traria uma economia de US$ 14 mil por ano, um valor muito pequeno comparado com o custo da implementação e manutenção do sistema ao longo dos anos. A padaria tomada como modelo funciona com cinco funcionários que recebem salário anual típico da categoria de US$ 48 mil cada um. A automatização cabe apenas no orçamento de empresas de grande escala em que os custos se diluem, segundo a pesquisa.
E como apenas parte das funções pode ser substituída, essa transição do homem para a máquina promete ser muito gradual, à medida que a tecnologia for barateando. Isso já é uma realidade percebida pela empresas do setor. “Neste momento, nem todas as empresas têm flexibilidade financeira para adotar de forma rápida soluções de inteligência artificial”, confirma Jaime Bustamante, desenvolvedor regional de Negócios da Mauve Group na América Latina. “Ainda há uma forte procura de mão de obra humana.” Entre os clientes do grupo, os que mais investem nessa transição são as empresas com serviços financeiros, de cuidados da saúde, gestão de pacientes e de importação e exportação.
No Brasil, a demanda por profissionais de tecnologia é evidente, com projeções indicando déficit de mais de 300 mil profissionais em 2024. “Por isso, as organizações buscam profissionais qualificados investigar e desenvolver tecnologias, com o objetivo de aumentar a eficiência ao longo do tempo, mesmo que a transição imediata seja limitada por questão de custo ou de conformidade”, analisa Bustamante.
Os pesquisadores do MIT acreditam que até 2030 devem ocorrer melhorias na tecnologia e nas reduções de custo. Essa mudança vai aumentar de 23% para 40% a viabilidade de substituição da mão de obra humana. O estudo abre caminhos para direcionar políticas públicas que amorteçam o impacto socioeconômico que essa nova realidade trará para as nações em um futuro não tão distante.
Fonte: Veja