sexta-feira,22 novembro, 2024

Criptogames, metaverso e e-sports: as novas economias do mundo gamer

São várias as cifras que dão dimensão do tamanho e crescimento da indústria de games no Brasil. Somente um número, o da Newzoo, por exemplo, estima que a receita de games no Brasil foi de mais de R$ 12 bilhões no ano passado. A Pesquisa Game Brasil (PGB) mostra que 74,5% da população brasileira se reconhece como gamer. Já a Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames) identificou, nos últimos quatro anos, um crescimento de 169% na movimentação dos estúdios.

Todo esse potencial se reflete em um movimento: o surgimento de empreendedores e jovens talentos de negócios, conteúdo e marketing. Os modelos de negócios são variados e a demanda aumenta diariamente por projetos customizados. Durante a Brasil Game Show (BGS), uma das maiores feiras de games da América do Sul, a Forbes conversou com quatro jovens empreendedores desta indústria. De perfis e negócios distintos, mas com um elemento em comum: a paixão por um segmento que vem crescendo sem precedentes nos últimos anos.

Amanda Toledo: “Não foi fácil chegar até aqui sendo mulher em um universo predominantemente masculino, mas o cenário mudou e podemos dizer que os games hoje estão muito bem representados por nós”

Claudio Prandoni, analista de produtos digitais do Terra , que acompanhou a evolução da indústria gamer no Brasil nos últimos anos, explica que, do ponto de vista de negócios, o mercado brasileiro vive em constante reinvenção. “É um mercado com muitas dificuldades para manter crescimento constante e previsível, mas que acaba também sendo terreno fértil para muita criatividade e experimentação. Por parte do público, sinto que há maturidade e diversidade cada vez maiores, o que é muito saudável para esse mundo crescer e florescer aqui no Brasil. Para mim, o momento atual é muito especial pela grande atenção e investimento de marcas não endêmicas, o que ajuda a consolidar uma cultura gamer no Brasil e tornar o segmento cada vez mais interessante e sustentável.”

Natural do Rio de Janeiro, Lucio dos Santos Lima, conhecido como Cerol, viu nos games, e em especial na prática do streaming, onde milhares de pessoas acompanham um atleta jogando, uma forma de manter sua paixão, mas evoluir como empreendedor. Em 2019, Cerol foi eleito o melhor streamer do Brasil pelo Prêmio eSports Brasil. Em 2021, junto com seu sócio Nobru, eleito Forbes Under 30 no ano passado, fundou o Fluxo, uma organização que mescla time de e-sports, produção de conteúdo e eventos.

João Borges: “O mundo dos games está cada vez mais associado às oportunidades das criptomoedas”

“O Fluxo surgiu como uma forma de contribuir para que outros jovens, como eu e o Nobru, também tivessem oportunidade de ascender na carreira. Ao fundar a organização, vivemos sim o desafio da cobrança, até então, pelo número de pessoas que atingíamos e pela confiança da nossa comunidade, sem dúvida existia uma pressão quanto aos resultados. Mas em pouco mais de um ano, estamos colhendo muitos resultados importantes”, destaca Cerol. O Fluxo está entre as maiores organizações de e-sports da América do Sul reunindo mais de 6 milhões de seguidores em suas redes sociais.

Amanda Toledo, streamer da organização B4, representa um perfil cada vez mais significativo neste ecossistema: de mulheres em ascensão nos games e e-sports. De acordo com a PGB, a presença feminina nos games já é maior que masculina quando considerado o mobile. Amanda começou cedo a produzir conteúdo e juntar paixão com uma estrutura profissional de produção de conteúdo. Hoje, ela atua não só se relacionando com suas comunidades, mas com um número cada vez maior de empresas. “Não foi fácil chegar até aqui sendo mulher em um universo predominantemente masculino, mas o cenário mudou e podemos dizer que os games hoje estão muito bem representados por nós”, diz Amanda.

Metaverso: um conceito em construção

Dentro da indústria gamer dois novos conceitos ganharam popularidade recentemente. E eles são cada vez mais representados por negócios. A Outplay, por exemplo, uma agência voltada a conteúdo e influência gamer, criada por Paulo Benetti, jogador profissional de games mobile, tornou-se referência nos últimos anos no auxílio a marcas e empresas em desenvolvimento de projetos em plataformas imersivas como o Cidade Alta, por exemplo. De acordo com Paulo, o grande desafio da indústria é entender que ela vai muito além da tecnologia, mas está associada à estratégia, narrativas e, sobretudo, negócios.

Paulo Benetti: “Existem cada vez mais oportunidades das marcas no metaverso e a relação desse mundo com o ecossistema gamer é direta porque ela vai além da tecnologia”

“Existem cada vez mais oportunidades das marcas no metaverso e a relação desse mundo com o ecossistema gamer é direta porque ela vai além da tecnologia. O crescimento da Outplay está baseado em olhar essa indústria em sua complexidade. Ela não se resume aos jogos, mas conecta servidores, organizações de e-sports, streamers, naturalmente isso gera muitos desafios, mas, sobretudo, oportunidades para muitas empresas”, destaca Paulo.

O metaverso neste caso também tem relação direta com o mundo dos criptogames. João Borges, cofundador da Bayz, explica que, atualmente, educar o mercado é um dos grandes desafios de negócios. “O mundo dos games está cada vez mais associado às oportunidades das criptomoedas, da blockchain e de tudo que vem sendo construído a partir da Web3, isso faz com que haja sim um período de educação. Neste momento, atuamos com o B2B, desenvolvendo vários projetos com empresas e presenciando um interesse cada vez maior das empresas endêmicas e não endêmicas”, destaca. A Bayz é representante no Brasil da plataforma The Sandbox e, recentemente, fechou uma parceria com a Wildlife, primeiro unicórnio gamer da América do Sul.

Por: Luiz Gustavo Pacete

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