Debate durante encontro da ONU sobre mudanças climáticas mostrou a importância do monitoramento do gás

O Brasil é um dos principais emissores de metano no mundo, ocupando o sexto lugar em emissões totais de gases causadores das mudanças climáticas e o quinto em emissões específicas de metano. Em 2030, se nada for feito, a emissão de metano pode chegar a 23,29 Mt CH4. Se forem aplicadas as indicações da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) alternativa, formulada com a contribuição de várias organizações via Observatório do Clima, elas podem cair para 13,75 Mt CH4. Uma redução de 56%.

Hoje (quinta-feira dia 14), Felipe Barcellos e Silva (IEMA) e Gabriel Quintana, ambos pesquisadores do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) coordenado pelo Observatório do Clima, apresentaram as emissões de metano no Brasil em debate realizado no Regional Climate Foundations. No encontro “Towards emissions data transparency: guiding the Methane Observatory Alliance to drive local climate solutions”, ambos destacaram que é possível reduzir as emissões do poluente. O evento aconteceu na Conferência das Partes (COP29) da ONU que debate as mudanças climáticas em Baku, Azerbaijão.

Desde 2015, observa-se um aumento nas emissões de metano no país, o que reforça a necessidade de uma resposta rápida e coordenada. Em 2023, o Brasil emitiu 21,1 Mt CH4, segundo dados do SEEG. “O setor agropecuário responde pela maior parte dessas emissões com o gado de corte sendo a principal fonte do setor. Somente ela responde por 61% das emissões. Por isso, conciliar produção, produtividade e redução de metano é fundamental para o cumprimento da meta para o Plano ABC+ (plano setorial da agropecuária para baixas emissões)”, ressalta Quintana. Vale lembrar que a maior parte das emissões totais, que representam 74%, é proveniente do setor de agricultura. 

Dado o impacto significativo do metano, sua capacidade de aquecer a atmosfera pode ser até 80 vezes maior do que o dióxido de carbono (CO2), torna-se urgente buscar soluções eficazes em cada setor para diminuir as emissões e adaptar as políticas públicas a essa realidade.

“Assim como no Brasil, outros países da América Latina também sofrem dificuldades para acessar dados de emissões. Por isso, a exemplo do SEEG, outras organizações estão se mobilizando na América Latina para disponibilizar essas informações com base na melhor ciência e tecnologia de maneira ágil e atualizada. Resta, agora, os governos locais e nacionais utilizarem esses dados de maneira assertiva para reduzir suas emissões”, ressalta Barcelos.

O encontro foi moderado por Carlos Asúnsolo, Centro Mexicano de Derecho Ambiental or Camila Campillo, Nuestro Futuro, e contou com os painelistas, além do Quintana e Barcellos: Luisa Sierra, Iniciativa Climática de México, e Carolina Urmementa, Global Methane Hub. Também estiveram presentes representantes do Global Covenant of Mayors for Climate & Energy (GCoM) e do Observatorio de Emisiones de Metano de América Latina y el Caribe (OEMLAC) del Organización Latinoamericana de Energía (OLADE). 

A conversa mostrou que existem várias iniciativas nacionais dos Observatórios de Emissões (OE) buscando aperfeiçoar o monitoramento das emissões de metano para compreender quais são as melhores soluções práticas a serem tomadas para reduzi-las. As apresentações como do Brasil, do México e do Equador mostraram que as iniciativas têm cumprindo o objetivo de tornar transparentes dados de qualidade de emissões. Antes delas, faltavam informações oficiais.

O combate às mudanças climáticas exige ações coordenadas em todos os níveis de governo, com foco especial nos governos locais. Estes atores ocupam uma posição estratégica para implementar ações de mitigação com impacto significativo na redução das emissões de metano, especialmente em áreas que exigem atenção direta para esse objetivo. Agora, essas informações precisam dialogar com as políticas públicas nacionais vigentes, incluindo um papel de contribuição reservado ao setor privado.