Pedro Luiz Côrtes comenta suas principais impressões sobre a recém-iniciada COP28

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP28 teve início ontem, quinta-feira (30). No discurso de abertura, foi ressaltado o compromisso de tornar o evento um marco para a agenda 2030, reforçando o objetivo de firmar negociações efetivas e acordos para mitigar as mudanças climáticas. 

A COP, que tem como principal pauta a transição energética, levanta preocupações sobre interesses conflitantes em relação às metas climáticas, uma vez que o evento é presidido por Al Jaber, CEO de uma grande empresa petrolífera. Pedro Luiz Côrtes, professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), comenta suas primeiras impressões a respeito da COP28. 

Interesses

Para Côrtes, as grandes empresas de petróleo perceberam que a transição energética é inevitável e gostariam de participar ativamente desse processo. Entretanto, seu objetivo é tentar ao máximo postergar essa mudança, de forma que coincida com o fim das principais reservas do combustível. 

“Nós não deixaremos de depender do petróleo, porque ele é fonte de uma série de matérias-primas que são usadas. Mas a ideia principal é que ele deixe de ser, aos poucos, a fonte principal de combustível”, discorre o professor.

Posição brasileira

Nos últimos anos, o Brasil perdeu seu protagonismo nas discussões ambientais. Entretanto, segundo o especialista, essa posição foi recuperada e pode ser vista em resultados. Este ano, o País apresentou uma redução no desmatamento na Amazônia. Além disso, houve também um crescimento no uso de energias renováveis, com a expansão das usinas eólicas. 

Entretanto, Côrtes aponta algumas questões controversas discutidas na semana da COP28. A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei que regulamenta as usinas eólicas off shore – que ficam localizadas no mar. “A proposta de criação do marco das eólicas, que segue agora para o Senado, incluiu um jabuti, que foi a prorrogação de subsídios para a contratação de térmica a carvão mineral”, explica. 

Além disso, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o Brasil foi convidado para integrar a Opep+, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, e a adesão do País ao bloco está sendo analisada. Para Côrtes, não existe nenhuma vantagem que justifique sua participação na organização. “Tudo que a Opep tem feito ao longo dos anos em relação à transição energética é tentar adiar ao máximo possível a substituição de combustíveis fósseis”, aponta. 

As grandes empresas de petróleo perceberam que a transição energética é inevitável – foto: Felipe Dana – Fotos Públicas

Contradição

Países como o Brasil, que são produtores de petróleo e desejam realizar uma transição energética, parecem viver uma contradição. Os países aparentam estar divididos entre realizarem a mudança de fontes energéticas ou optarem por uma segurança. Esse cenário, de acordo com Côrtes, pode ser ilustrado pelo que aconteceu na Europa, em decorrência da guerra na Ucrânia. 

O gás fornecido pela Rússia foi classificado, na União Europeia, como um combustível de transição, dentro da taxonomia de fontes ambientalmente boas. Então, vários países europeus apostavam nesse gás como um intermediário entre as térmicas movidas a óleo e carvão, ainda muito usadas, e um futuro uso das fontes renováveis. “Como o suprimento de gás foi reduzido, algumas térmicas movidas a óleo e carvão tiveram que ser reativadas em função da segurança energética”, aponta Côrtes.

Texto: Jornal da USP no Ar