Fundador do GEF Capital Partners, Aníbal Wadih, conversa exclusivamente com o Um Só Planeta sobre a atuação e rumos da empresa, que atua com investimentos para soluções de combate à crise do clima
Em áreas da Amazônia e do Cerrado onde linhas de transmissão de energia não chegam, a luz solar estocada em baterias estacionárias e portáteis está levando eletricidade 24 horas por dia para 150 mil pessoas. Durante a vida útil desses equipamentos, 74 mil toneladas de CO2 vão deixar de ser emitidas devido à substituição do diesel de um gerador ou outro combustível poluente por uma fonte renovável. A bateria também permite que pescadores possam refrigerar os peixes, o que aumenta o potencial de renda, e que as famílias tenham acesso à tele-educação e telessaúde. A UCB, empresa que fornece essas baterias, é uma das financiadas pelo GEF Capital Partners.
Com R$ 1,7 bilhões investidos no Brasil, o GEF é hoje a maior gestora no país em investimento de impacto social e sustentável para soluções climáticas – exclusivamente com foco em clima, é a única, segundo a empresa. “Queremos ser a maior referência em investimento climático”, afirma Aníbal Wadih, fundador da gestora, em entrevista ao Um Só Planeta durante a COP28, conferência climática das ONU que este ano acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
Em outubro, o grupo anunciou um novo fundo de investimento privado para projetos ligados a três frentes: energia renovável, soluções urbanas (como reciclagem, saneamento básico e mobilidade) e alimentação (vide agricultura de precisão, fertilizantes orgânicos, bioinsumos e nutrição animal).
A empresa foi formada em 2018 após a conclusão de um realinhamento colaborativo do Global Environment Fund, fundo global com mais de 30 anos de experiência de investimentos em sustentabilidade e temas voltados ao meio ambiente. O GEF Capital Partners possui escritórios no Brasil, Índia e Estados Unidos, com dois sócios em cada unidade.
O fundo se baseia em dois princípios, segundo Aníbal: investir em soluções que tragam ao mesmo tempo benefícios climáticos e financeiros. Nem só uma ou outra, mas sim as duas juntas. As empresas financiadas entregam retornos entre 25 e 30% ao ano, enquanto geram emprego e contribuem para a redução de emissões de gases de efeito estufa. Em 2022, as empresas nas quais o fundo investe evitaram a emissão de 1.091.825,23 tCO2, tinham registrado na sua lista de colaboradores 26 refugiados e imigrantes, e em média 31% de mulheres em cargos de liderança e 40% de mulheres no quadro total de funcionários.
As empresas financiadas pelo fundo trabalham com soluções de automação, supervisão e controle para geração, transmissão e distribuição de energia; geração de energia solar e modelo de negócios disponível; locação de equipamentos hospitalares; produção e distribuição de equipamentos para agricultura de precisão; soluções de armazenamento de energia em baterias estacionárias e portáteis; geração de energia a partir de biogás de aterros; e soluções em eficiência energética verticalmente integrada.
A partir da escolha das iniciativas a serem investidas — que, ao contrário de startups, já estão minimamente estabelecidas —, após um período de estudo que leva em torno de um ano, o fundo torna-se sócio majoritário da companhia por um período entre cinco e sete anos. A média de empresas financiadas por ciclo é entre 9 e 12. Passado o período de sociedade, o GEF vende sua parte ou abre o capital na bolsa de valores. Para o próximo ano, Aníbal adiantou ao Um Só Planeta o anúncio de uma plataforma focada em um setor com dinheiro permanente, o que significa que não haverá necessidade de vender a empresa, diversificando assim os produtos financeiros da gestora.
“Dentro da indústria de investimento, o clima ainda não é visto como risco, ninguém pensa que uma fábrica em Manaus pode sofrer com a logística se o rio baixar, como está acontecendo agora. O que estamos fazendo é criar essa retórica de clima como elemento de risco no processo de investimento, porque a cada dia surge algo a mais que vai afetar as operações das empresas”, relata Aníbal. “Falo para os meus colegas do ramo que eles precisam olhar clima como risco, se não, não estamos fazendo nosso trabalho.”
Esta história foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2023, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network da Internews e pelo Stanley Center for Peace and Security.
Texto: Letícia Klein, de Dubai, para o Um Só Planeta