Conheça o movimento pelo empreendedorismo na América Latina que conquistou a Andreessen Horowitz

Gestora do Vale do Silício liderou aporte de US$ 11,5 milhões na Latitud, que fornece capacitação e recursos para fundadores latino-americanos

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Como selecionar a melhor ideia e construir minha própria startup? Depois, como divulgar meu produto ou serviço? Por fim, como constituir essa startup para que ela seja atrativa inclusive para investidores globais? Essas são perguntas específicas aos fundadores de startups. O que aparenta ser um nicho está virando um mercado promissor, inclusive no Brasil. Existem quase 35 mil startups apenas no país, segundo a base de dados da empresa de inovação Distrito.

Essa oportunidade atraiu até mesmo a Andressen Horowitz, uma das gestoras mais conhecidas do Vale do Silício. Também conhecida pela sigla a16z, a gestora liderou um investimento de US$ 11,5 milhões (cerca de R$ 58 milhões, na cotação atual) na Latitud – uma empresa de educação, serviços e investimento para fomentar o empreendedorismo na América Latina.

A Latitud foi criada pelo empreendedor Brian Requarth e pelos executivos Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko em 2020. Todos acumularam experiências no mundo dos negócios de tecnologia: Requarth criou o VivaReal, portal de imóveis que se uniu ao Grupo ZAP, depois vendido por R$ 2,9 bilhões para a OLX Brasil. A história do americano que criou o maior portal de imóveis da América Latina já foi contada em uma entrevista profunda de Requarth ao podcast Do Zero Ao Topo, a marca de empreendedorismo do InfoMoney.

Já Gina liderou expansões de grandes empresas americanas, como o aplicativo de idiomas Duolingo e a plataforma de conteúdo Tumblr. Por fim, Danilchenko foi o diretor de tecnologia da Escale, startup de aquisição de clientes, que captou mais de US$ 50 milhões com investidores.

Requarth, Gina e Danilchenko compartilhavam a percepção de que empreendedores têm dores em comum – por exemplo, como abrir uma empresa do jeito certo e como dividir a participação de cada sócio corretamente (captable). Requarth vendeu o VivaReal por US$ 550 milhões, mas a empresa perdeu US$ 100 milhões na transação por ter sido incorporada da forma incorreta.

A Latitud começou como uma comunidade de empreendedorismo, reunindo empreendedores que precisavam de ajuda com os melhores fundadores e executivos latino-americanos numa reunião de Zoom. O feedback positivo fez a Latitud expandir sua atuação, com o objetivo de resolver mais problemas do empreendedorismo, e de forma mais escalável.

A empresa tem programas de capacitação para explorar ideias (Explore Fellowship), construir empresas (Build Fellowship) e se tornar um investidor anjo (Angel Fellowship). Ao todo, 800 fundadores participaram dos dois primeiros programas. O valor levantado por suas empresas supera US$ 250 milhões, e a avaliação de mercado acumulada é de cerca de US$ 1,5 bilhão. No programa para anjos, foram 50 participantes.

Ainda, construiu plataformas para startups divulgarem suas soluções (Latitud Launch) e para empreendedores incorporarem suas empresas no exterior, maneira preferida pelos investidores, mas com um quinto de custo na comparação com fazer o mesmo procedimento sem assessoria (Latitud Go). “Construímos a comunidade, escutamos seus problemas e depois criamos soluções para essas dores, na forma de softwares que ajudam os empreendedores a reduzirem fricções vistas durante suas jornadas de negócio”, resume Requarth.

Por fim, a Latitud tem seu próprio fundo de investimentos em startups. O Latitud Fund fez cerca de 80 investimentos em startups que estão no estágio inicial (early stage), de setores como comércio eletrônico, educação, marketplaces, saúde e softwares como um serviço (SaaS, na sigla em inglês).

Os programas de treinamento são uma boa fonte de possíveis aportes: 75% das startups investidas vieram dos fellowships. Os cheques pré-semente e semente da Latitud costumam ir de US$ 50 mil a US$ 250 mil, em troca de 2% de participação.

O fundo sempre participa nas rodadas de outros fundos, sem liderar aportes. O Latitud Fund coinvestiu com mais de 40 gestoras, como a própria Andreessen Horowitz (que tem no portfólio as brasileiras Loft e Inventa) e as latino-americanas Kaszek (GetNinjas, Petlove) e Monashees (99, Rappi). “Sempre trabalhamos em conjunto, mandando e compartilhando bons deals. Nosso diferencial é termos uma comunidade com muita capilaridade de conhecimentos e de geografias dentro da América Latina. Cada investidor nosso tem sua expertise”, diz Requarth.

A Latitud conta com investidores que fundaram ou trabalharam em empresas como Cornershop, Creditas, Kavak e Rapi. Várias das startups investidas pela Latitud também têm fundadores que fizeram carreira em tais empresas.

“Na América Latina, entendemos que os unicórnios funcionam como Harvards, como faculdades de renome quando falamos de aprender sobre tecnologia. Os melhores fundadores criam autoestradas que permitem que mais empreendedores percorram o mesmo caminho mais rapidamente e atinjam lugares ainda mais altos. Como investidores, mostram confiança na construção de mais empresas e empregos”, diz Gina. O fundo é de US$ 10 milhões, e pretende fazer 100 investimentos ao todo.

Próximos passos da Latitud, e da América Latina

O investimento semente atual é a primeira captação externa recebida pela Latitud. O aporte foi liderado pela Andressen Horowitz e acompanhado por gestoras como Canary, Endeavor e FJ Labs. Fundadores como David Vélez (Nubank), Sergio Furio (Creditas) e Sebatian Mejia (Rappi) também participaram do investimento. A Latitud ainda fará uma extensão dessa rodada, com um evento para sua comunidade de empreendedores também poder investir na empresa.

“As gestoras acreditam na nossa visão de impactar o empreendedorismo na América Latina. A região teve um aumento no fluxo de capital e no número de pessoas ambiciosas e qualificadas, mas não tem infraestrutura. Muitos processos empresariais ainda são manuais. Estamos resolvendo problemas dos empreendedores para que eles possam resolver problemas da sociedade”, diz Requarth.

Os US$ 11,5 milhões serão usados primeiro para expansão do time de engenharia, produto e operações da Latitud. Depois, para construir e aprofundar soluções. Por exemplo: a Latitud Go, a plataforma para abertura de empresas no exterior, irá para outros países da América Latina. “Queremos que as pessoas não pensem em outro lugar para começar sua própria startup”, diz Requarth.

“A comunidade e os produtos criados pela Latitud, começando pelo Go, terão um grande impacto na próxima geração de grandes startups na América Latina. Estamos entusiasmados em poder participar desta missão de acelerar o crescimento de soluções tecnológicas de classe mundial feitas na região”, disse em comunicado sobre o investimento Angela Strange, sócia da Andreessen Horowitz.

O empreendedorismo tecnológico na América Latina está aquecido, com valores recordes de investimento nas startups da região. Mesmo assim, os fundadores da Latitud dizem que ainda há um grande caminho a ser percorrido.

“Quando pensamos nas maiores empresas brasileiras, quantas são de tecnologia? Nos Estados Unidos, quase todas são do setor. Basta olhar para índices de satisfação dos consumidores em diversos setores para perceber que muito precisa ser feito. Veremos eventualmente uma liderança da tecnologia entre as empresas mais valiosas da América Latina”, diz Brian. “O Brasil precisava sonhar mais grande em 2016, na minha opinião. Hoje, temos uma geração de empreendedores mais inspirada, que pensa em atacar mercados intocáveis e se tornar global. Estamos otimistas quanto ao futuro. Como empreendedores, temos de ser.”

Fonte: InfoMoney

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