O ano que passou foi de uma revolução tecnológica: a chegada da inteligência artificial (IA) generativa –e o boom do ChatGPT, da OpenAI— firmou as bases para novas formas de interação entre usuários e o universo digital e, com isso, para novos modelos de negócio. E, se depender dos debates mobilizados neste início de 2024, o cenário parece ainda mais promissor, com produtos e serviços inovadores mantendo em alta o entusiasmo –e preocupação– com a IA.

Relatório da consultoria IDC afirma que o mercado mundial de software de IA deve pular dos US$ 64 bilhões, registrados em 2022, para quase US$ 251 bilhões, em 2027, com um crescimento anual de 31,4%. Enquanto as big techs disputam a liderança dessa corrida tecnológica, centenas de startups nascem ou crescem impulsionadas por esse movimento.

Na América Latina, dados da consultoria Distrito indicam que existem quase 500 startups ativas focadas em IA, seja generativa ou não. Juntas, elas captaram investimentos de US$ 409 milhões em 2022. Nesse universo, o Brasil se destaca como um líder regional no desenvolvimento e na inovação, concentrando 3 em cada 4 startups, seguido por Colômbia e México, segundo o relatório “Inteligência Artificial Report 2023 – Futuro da IA”.

É um mercado ainda jovem, com 70% das startups criadas após 2016. A expectativa do Distrito é a de que a avalanche de inovações lançadas em 2023 tenha impacto também em empresas nascentes nos próximos anos, impulsionadas pela enorme disponibilidade de dados aliada ao aumento na capacidade computacional.

Em toda a região, as startups estão focadas majoritariamente em soluções para o mercado B2B, tendo como modelo de negócios o Software como Serviço (SaaS) e com equipes entre 11 e 50 funcionários. “São startups que estão em estágio inicial, que ainda estão validando seus produtos e possuem times menores nesse estágio”, diz Gustavo Araujo, cofundador e CIO do Distrito. Cerca de 42% delas faturam entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões anualmente, indicando que o setor ainda está em fase de consolidação. “É esperado que, a partir do momento que essas empresas escalem, o setor passe a ser um dos grandes contratantes em tecnologia.”

Diogo Garcia, sócio-diretor e líder dos Programas de Startups da KPMG Brasil, diz que as startups contam com agilidade e capacidade de inovação mais rápida do que grandes corporações dentro do conceito “fail fast” [falhar rápido], o que as torna especialmente relevantes para o desenvolvimento da IA no Brasil.

“Elas podem explorar oportunidades em nichos diversos do mercado, adaptando soluções de IA para atender às necessidades locais”, diz Garcia. E alerta: “No entanto, é importante que as startups estejam atentas aos desafios e trabalhem em colaboração com outros players do ecossistema para impulsionar o desenvolvimento sustentável da IA no Brasil”.

Em seu relatório sobre startups que estão ajudando na implementação de tecnologias de IA na América Latina, o Distrito destaca 7 empresas. Uma delas é a Ubots, empresa criada em 2016, em Porto Alegre, por Rafael Souza depois de um período de trabalho no Vale do Silício. A startup centraliza e integra os canais de atendimento ao cliente e oferece o serviço de chatbots cada vez mais inteligentes.

“Temos um software de comunicação, e aplicamos inteligência artificial em várias jornadas da comunicação de pessoas com as empresas. O potencial é de fazer um ganha-ganha. A empresa se torna mais eficiente operacionalmente, com melhor qualidade de entrega e um NPS mais alto, e os clientes resolvem seus problemas com a empresa”, diz o CEO da Ubots, que hoje tem mais de 80 clientes de médio e grande portes.

Conheça a seguir as 7 startups de IA destacadas pelo Distrito na América Latina.

Cromai

Setor: Agtech
Fundação: 2017
País: Brasil

Por meio de visão computacional, a Cromai identifica padrões a partir de imagens coletadas no campo para oferecer diagnósticos que permitam melhor embasamento na tomada de decisões agronômicas. Em uma das soluções oferecidas pela empresa, imagens de drones alimentam a inteligência artificial, que detecta a localização exata e o tipo de planta daninha no campo. Com a localização exata dada pela IA, o humano pode agir com rapidez e eficiência na pulverização.

Segundo o Distrito, em 2022 a startup cresceu quatro vezes e atendeu mais da metade dos maiores produtores de cana do Brasil. Até o final deste ano, a empresa espera atingir um terço das mais de 400 usinas de cana do país e chegar a 1.000 produtores de soja. A empresa faz parte da lista das 100 Startups to Watch 2023 e foi finalista do prêmio de inovação promovido pela KPMG.

Colektia

Setor: Fintech
Fundação: 2018
País: Chile

Colektia é uma plataforma que ajuda instituições financeiras a criar novos modelos de cobrança digital com base em inteligência artificial e modelos preditivos, integrando novos canais de comunicação, como o WhatsApp, para contatar a base de devedores. Nubank, Claro e RappiPay estão entre os clientes da startup chilena. Com atuação em quatro países da região, a proposta da empresa é atingir uma recuperação mensal de dívidas de até 30% da carteira, com até 90% de redução de intervenção humana nesses processos. A Colektia fez parte do programa de aceleração do Google para Startups.

Munai

Setor: Healthtech
Fundação: 2019
País: Brasil

A startup Munai oferece soluções baseadas em IA para gestão de pacientes, voltadas para hospitais, operadoras e secretarias de saúde. Entre os serviços está a análise de dados do prontuário eletrônico fazendo uso de algoritmos e machine learning para gerar alertas inteligentes. Também permite identificação de falhas ou oportunidades de otimização das decisões tomadas pelo centro de comando de uma UTI, por exemplo. Em quatro anos, são mais de 500 mil pacientes atendidos em suas plataformas. Em agosto, foi selecionada pela Fundação Bill & Melinda Gates para desenvolver um projeto de inteligência artificial na área da saúde com foco no combate ao uso desnecessário de antibióticos. Conta com escritórios em São Paulo e em Miami.

Apli

Setor: HRtech
Fundação: 2016
País: México

A startup automatiza o recrutamento de candidatos, da seleção à coordenação de entrevistas, e quer reinventar a forma com que empresas escolhem seus funcionários. Parte dos anúncios de emprego é feita nas redes sociais, e o chatbot consegue reproduzir uma entrevista estruturada como a de um recrutador especializado. A inteligência artificial compara o perfil dos melhores profissionais da empresa com aqueles disponíveis no mercado e afirma que sua plataforma pode ampliar em cinco vezes o número de candidatos qualificáveis à vaga. A empresa também trabalha para que os anúncios de emprego sejam mais atraentes e ainda cuida do processo de adaptação do funcionário ao novo posto. Figurou na lista das empresas mais inovadoras do mundo da Fast Company em 2019. Opera em espanhol, inglês e português.

Cortex

Setor: Martech
Fundação: 2003
País: Brasil

A startup de inteligência de dados permite integrar informações internas com bancos de dados externos, cria dashboards interativos, constrói fluxos de trabalho e personaliza o disparo de e-mails e mensagens. A plataforma permite aos clientes monitorar a reputação da empresa em tempo real, medir o retorno sobre o investimento de campanhas e analisar tendências e concorrentes. A Cortex faz parte da Global Data Alliance e da lista de 2023 de melhores empresas para se trabalhar no Rio de Janeiro, feita pelo Great Place to Work. Entre seus investidores estão Riverwood Capital e Lightrock e, entre os clientes, estão empresas como Itaú, Basf e Microsoft.

Attus

Setor: Regtech
Fundação: 2018
País: Brasil

A Attus, que deixou a marca Attornatus em dezembro, é uma empresa catarinense de software que fornece solução com inteligência artificial para gestão de execução fiscal. Voltada para o universo jurídico, ela tem um sistema integrado com os tribunais de justiça do país, permitindo que citações e intimações eletrônicas sejam recebidas diretamente em seu sistema. Também faz uso da IA para classificar as intimações recebidas e agendar manifestações. Está entre as melhores empresas para se trabalhar de 2023 e tem entre os clientes instituições como a Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo.

Ubots

Setor: Retailtech
Fundação: 2016
País: Brasil

A startup gaúcha conta com uma plataforma própria para construção de chatbots alimentados por inteligência artificial para otimizar a relação com o cliente. Ela permite a centralização de todos os canais de atendimento e, a partir das interações, também oferece insights para melhorar a comunicação, além de contar com serviços de integração, customização e curadoria. Entre os mais de 80 clientes estão instituições financeiras e cooperativas de crédito. Em 2022, a Ubots participou da aceleradora Google for Startups e do Scale-Up Endeavor.