Ícone da primeira fase da computação moderna, a centenária IBM vem se reinventando nas últimas décadas. O foco cada vez maior dos clientes em nuvem híbrida e uma nova cultura orientada à tecnologia no processo de transformação digital vêm possibilitando que a companhia obtenha resultados relevantes.
No último balanço trimestral divulgado pela empresa, em outubro, somente a receita de cloud computing teve um acréscimo de 11% chegando a US$ 5,2 bilhões (R$ 27,4 bi). No Brasil, como explica Marcelo Braga, CEO desde janeiro deste ano, não tem sido diferente, demanda crescente por cibersegurança e o olhar da tecnologia como investimento, e não custo, também têm impulsionado os resultados locais.
À Forbes Brasil, Braga fala sobre uma nova fase da companhia que se dará a partir de 2025 quando a IBM espera entregar seu primeiro computador quântico comercial. O executivo reforça que esse movimento é simbólico já que a tecnologia quântica começa a ser experimentada na prática.
Uma rede formada para preparar as empresas, a Quantum Network, já reúne 210 membros, dentre elas algumas brasileiras, com o objetivo de testar soluções possíveis. “Se trata de uma evolução considerável na capacidade de processamento de dados e, com ela, as infinitas possibilidades de descobrimento de inovações, ciência e negócios”, diz Braga que, em entrevista, destaca outros impactos da computação quântica e as atuais prioridades de tecnologia dos C-Levels.
Forbes Brasil – Quais têm sido as prioridades dos clientes no que diz respeito a investimento em serviços de tecnologia?
Marcelo Braga – Para o C-Level, neste momento, existem algumas. De 4 entre 5 profissionais que consultamos, a prioridade é sustentabilidade. O ESG está no topo da estratégia de muitas empresas e a tecnologia aparece como um aliado importante, principalmente na medição de impactos. Em segundo aparece a cibersegurança que ganhou força nos últimos dois anos e segue como prioridade, principalmente depois que as companhias brasileiras presenciaram ataques e tiveram a certeza que o tema é muito mais próximo da realidade do que imaginávamos. Até por que os prejuízos com ataques se tornaram tangíveis.
FB – O desenvolvimento de inteligência artificial também entra na lista?
Braga – Sem dúvida. No caso de IA observamos um protagonismo cada vez maior da tecnologia e um amadurecimento na maneira como as companhias a aplicam. No atendimento ao cliente, melhoria de processos e na evolução de conceitos como machine learning e deep learning. Mas o mais interessante nisso tudo é que deixamos de ter IA somente como aquele recurso utilizado pelo chatbot para passar a ser uma grande interface de inteligência das companhias. Em outras palavras, a IA está muito mais integrada aos negócios digitais dos clientes.
FB – A computação quântica, nos últimos anos, tornou-se uma das prioridades da IBM, quais os avanços que já temos em relação à tecnologia?
Braga – Hoje ela já é realidade. Temos um grupo de clientes e parceiros, que já chega a 210 empresas, que compõem nossa rede que chamamos de Quantum Network. Essas empresas já estão olhando as aplicações, possibilidades e como, na prática, a computação quântica pode impactar seus negócios. Percebemos, de forma muito clara, um impacto direto em alguns setores. Financeiro, óleo e gás e medicina orientada ao desenvolvimento de medicamentos, são três que se beneficiam de forma concreta da tecnologia.
FB – A meta da IBM é entregar o primeiro computador quântico comercial em 2025, isso terá um impacto também no Brasil?
Braga – Sim, sobretudo porque nessa rede também temos empresas brasileiras. Eu vejo a computação quântica como uma nova alternativa de análise de dados que vai somar ao que temos hoje. Inicialmente, ela não vem para substituir nossas transações, a forma como pagamos, por exemplo, mas ela trará uma velocidade na capacidade de processamento de dados que proporcionará desenvolvimento de novos produtos, soluções e até mesmo mercados.
FB – Quais alguns exemplos práticos que podem ter a aplicação de computação quântica?
Braga – Segurança é um deles. Se hoje ainda temos uma limitação na velocidade de identificar uma fraude e agir, com a computação quântica você evolui também na prevenção de eventuais brechas. Desenvolvimento de vacinas e medicamentos, por exemplo, que antes precisava de décadas, poderá ser feito em bem menos tempo. Descobrimento de moléculas que contribuam no desenvolvimento de uma nova bateria para carro elétrico é outro exemplo. Tudo isso será possível e vai acelerar muitas indústrias e avanços.
FB – Do ponto de vista de negócios, ela será acessível ou ainda restrita a altos investimentos?
Braga – Boa parte da computação quântica será acessível através de nuvem. É pouco provável que tenhamos muitos computadores. Ela vem sendo desenhada para ser consumida através da nuvem para que seja escalável e democrática. Ou seja, eu não restrinjo o uso apenas a grandes empresas, mas também a pequenas, médias e, inclusive startups. Deixamos de ter a ideia dos altos investimentos em data center para uma era de computação mais acessível, ela só tem razão de existir dessa maneira.
FB – O Watson, sistema de IA da IBM já está há sete anos no Brasil e é utilizado por dezenas de clientes, o que muda na IA com a computação quântica?
Braga – Considerando que a IA imita a forma humana de pensar, mas para isso ela precisa de tempo para processar e entender, a computação quântica acelera e muito essa evolução. Isso significa que na era da computação quântica a IA é outra tecnologia que dá um salto em evolução e será fundamental para essa nova fase da nossa economia digital.
Por: Luiz Gustavo Pacete