sexta-feira,22 novembro, 2024

Como usar a inteligência artificial na área de saúde mental?

O uso da Inteligência Artificial na área da saúde mental já vem sendo estudado há cerca de 10 anos e hoje é uma realidade nos consultórios e clínicas psiquiátricas do Brasil. Além de permitir diagnósticos e tratamentos mais assertivos, a chamada “Psiquiatria de Precisão” ainda pode reduzir os custos com medicações, segundo especialistas que participam neste sábado (4), do  Simpósio ‘Psiquiatria na Era Digital’, no Rio de Janeiro.

Especialista em transtornos como a depressão e a bipolaridade, o psiquiatra Ives Cavalcante Passos, professor de Psiquiatria e Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma que, a partir de novos estudos e da definição de normas que orientem estas práticas, a tecnologia servirá para ampliar as formas de prevenção e tratamento de transtornos como a depressão e a bipolaridade.

“Já foram criadas técnicas sofisticadas para análise de informações que ajudam na prevenção de doenças e também na seleção de tratamentos, com construção de estratégias personalizadas que possibilitam prever o desempenho do paciente”, explica o médico, que fará a palestra “Uso de IA nos transtornos de humor – oportunidades e limitações”.

Calculadoras estimam o risco de suicídio nos três anos seguintes

Dedicado ao estudo do uso das tecnologias na psiquiatria, o médico cita como exemplo a criação de calculadoras, a partir da análise de informações dos pacientes pela Inteligência Artificial, que demonstram o risco de suicídio nos três anos seguintes.

“Por meio da IA, podemos prever a ocorrência da doença, intervir precocemente para controlá-la, evitando desfechos graves, e estabelecer previamente o melhor tratamento”, explica. 

Ainda segundo Dr Passos, o novo desafio enfrentado agora é a utilização dos chatbots, em especial o ChatGPT, com prestação de informações relevantes sobre as doenças, prevenção e cuidados, disponíveis 24 horas por dia.

Aplicativos de celular ajudam ansiosos, insones e dependentes químicos

Também já existem aplicativos de celular que podem ajudar pacientes ansiosos, depressivos e bipolares, com insônia e dependentes químicos.

“O uso destes recursos não representa uma estratégia de tratamento, mas pode servir como suporte emocional. No momento, estão sendo realizados estudos científicos que orientem a evolução dos tratamentos com base na IA”, explica Passos. 

Para Juliana Bancovsky, psiquiatra e diretora médica e regulatória da Lundbeck Bauc Brasil e Cone Sul, empresa especializada em saúde do cérebro, é imperativo para o desenvolvimento de intervenções mais bem-sucedidas que se traduza o conhecimento que vem sendo adquirido em pesquisa básica, de forma a permitir a sua aplicação prática.

“A inteligência artificial vem nos ajudando a integrar as informações e as interações que ocorrem dentro e entre diferentes sistemas biológicos, o que até então era impossível de ser feito”, comenta a médica, que falará no evento sobre o tema “Do conceito à prática: o papel da IA na Psiquiatria”. 

IA analisa história familiar e pessoal, hábitos de vida e biotipo

Dra Juliana explica que a chamada “Psiquiatria de Precisão” caracteriza diferentes biotipos relacionados a cada doença psiquiátrica hoje existente, através de um modelo integrativo para a análise de informações como história familiar e pessoal, hábitos de vida e características biológicas diversas.

Para isso, os psiquiatras contam com a ajuda de técnicas de inteligência artificial, como “big data” (análise de grandes bases de dados) e “machine learning” (aprendizado de máquina). Uma vez identificados marcadores biológicos associados aos biotipos, os tratamentos – medicamentosos ou não – seriam mais bem direcionados, com aumento de chances de sucesso terapêutico e diminuição de danos. 

No campo de pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, há também aplicações práticas de IA que visam diminuir o tempo e minimizar os erros, o que pode reduzir os custos sociais e financeiros. 

Novas tecnologias também reduzem custos com tratamento

Ela explica que, atualmente, em Psiquiatria, de uma ideia até o paciente, ou seja, até que um medicamento inovador chegue às farmácias, é necessário um investimento de cerca de 15 anos em pesquisas, a um custo aproximado de 2,5 bilhões de dólares.

“É muito desafiador e as chances de insucesso são grandes, maiores do que em ouras área das medicina, justamente pelos desafios clínicos da psiquiatria”, esclarece.

Neste contexto, explica, “as novas tecnologias podem, potencialmente, diminuir os prazos e custos desse processo, mantendo a segurança dos pacientes e qualidade do processo, o que resultaria em inovações mais eficientes, em menor tempo e com um acesso mais amplo para a sociedade”.

Como usar essas ferramentas de forma ética e responsável

Especializado no tratamento de dependentes químicos e membro da Academia Nacional de Medicina, o psiquiatra Jorge Jaber, que idealizou e coordena o simpósio, destaca que o uso da IA está ampliando os horizontes da Psiquiatria, de forma definitiva e muito rápida.

“E é justamente por se tratar de tecnologias com potencial de inovação acelerado que precisamos entender os cenários e pensar no uso destas ferramentas de forma ética e responsável”, diz o psiquiatra. “O simpósio ‘Psiquiatria na Era Digital’ será um espaço onde os especialistas poderão colaborar neste debate”, argumenta o médico e mediador do evento.

O simpósio ‘Psiquiatria na Era Digital’ é promovido pela Clínica Jorge Jaber, dentro da programação da XXV Jornada de Psiquiatria da Aperj, no Teatro Fashion Mall. O evento é voltado exclusivamente para profissionais da Psiquiatria.

Fonte: Clínica Jorge Jaber, com Redação

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