Prompts genéricos limitam a diversidade de ideias geradas pela IA, mas especialistas revelam como transformar o ChatGPT em um verdadeiro parceiro em seus momentos de brainstorming com estratégias simples
O ChatGPT já é uma ferramenta indispensável para muita gente para tarefas cotidianas, como escrever e-mails e resumir documentos. Mas, segundo um estudo recente da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, dos Estados Unidos, quando se trata de brainstorming (técnica criativa usada para gerar ideias ou soluções para um problema, em um curto período de tempo), o desempenho da IA deixa a desejar, sobretudo quando os prompts são vagos ou pouco direcionados.
“O ChatGPT é realmente bom em gerar ideias. Mas elas são muito parecidas entre si”, disse Christian Terwiesch, codiretor do Instituto Mack de Gestão da Inovação da Wharton e coautor do trabalho, ao Washington Post.
Mas, tendo um pouco de criatividade na elaboração dos prompts, a IA consegue gerar respostas mais criativas e diversificadas. Veja a seguir algumas dicas para atingir esse resultado, de acordo com pesquisadores e engenheiros de software.
– Seja claro e específico
Para que o chatbot não dê resultados semelhantes, diga a ele que você precisa de opções muito diferentes. Segundo Terwiesch, isso pode ser tão simples quanto adicionar essa solicitação ao seu prompt ou ser específico sobre como você gostaria que os resultados variassem.
Por exemplo, se está procurando cidades dos Estados Unidos para passar as férias de verão, diga a ele que gostaria que as sugestões abrangessem diferentes partes do país.
Além disso, solicite que ele dê mais de uma resposta. Simon Willison, engenheiro de software com formação em engenharia de IA, indicou que peça 10 ou até 20 sugestões para obter um conjunto muito mais diversificado de respostas.
Grandes modelos de linguagem “dão a resposta mais mediana”, disse ele. Portanto, “sempre peça o máximo de opções possível. As primeiras seis ou sete são óbvias, depois fica interessante”.
– Use prompts de ‘cadeia de pensamento’
Se você não tiver muitas ideias para o seu prompt inicial, não se desespere. Comece com elas e, depois, vá acrescentando outras. Você pode ir passo a passo ou reunir tudo em um prompt, como “Gere algumas ideias, tente combiná-las, torne-as mais ousadas e depois refine-as”.
Allen Karns, diretor de tecnologia de IA no centro de IA generativa da Universidade Vanderbilt, chama isso de prompt de cadeia de pensamento. E, segundo ele, caso não tenha ideias, também pode recorrer à IA para obter ajuda. Você pode começar com: “Faça perguntas que me ajudem a gerar ideias para um produto infantil”.
– Interpretação de papéis
Dê à IA um papel fictício para desempenhar, a depender da situação que deseja resolver. Por exemplo, caso você queira ajuda para encontrar destinos de férias, diga que ela é um agente de viagens e você o cliente.
Você também pode lhe pedir para assumir a identidade do seu cliente-alvo e dizer: “Você é pai de uma criança de 12 anos. O que você consideraria em um brinquedo que tanto você quanto seu filho pudessem aproveitar?”
Você pode tornar o cenário tão simples ou tão complexo quanto quiser. Karns salientou que, depois de seguir essas dicas, é provável que você obtenha resultados mais diversos, criativos e mais próximos da solução do seu problema.
– Teste as ideias
Os especialistas consultas pelo WP recomendam usar a IA não apenas para gerar, mas também para avaliar e filtrar ideias, com base em critérios que você pode definir previamente.
Outra possibilidade é alimentar o modelo com sugestões produzidas por você e sua equipe e pedir que ele ajude a aperfeiçoá-las, combiná-las ou classificá-las.
Um exemplo: Aqui estão 500 ideias da minha equipe e o feedback que os clientes nos deram sobre fones de ouvido. Escolha as 30 melhores que eu deveria levar a um executivo”, sugeriu Terwiesch.
Também é possível configurar sistemas de pontuação para que a IA avalie cada proposta de acordo com parâmetros específicos. Conforme indicado por Terwiesch, você pode perguntar por que não deve fazer algo ou o que não está considerando.
Outra maneira de fazer isso é combinar testes de estresse com dramatização, acrescentou Willison. “Alguém me disse que, quando está programando, manda a máquina imaginar que é um episódio de ‘Survivor’ e que certas partes devem ser eliminadas da ilha”, disse ele. “Isso a faz argumentar mais.”
E, ele complementou que é importante iniciar um novo bate-papo porque o histórico da conversa pode alterar os resultados, e IA pode reforçar suas ideias simplesmente porque está tentando agradá-lo. Portanto, dar crédito a outra pessoa dizendo “avalie esta ideia do meu amigo” ajuda a quebrar esse padrão, argumentou Willison.
– Verifique tudo
No fim das contas, a decisão criativa mais importante ainda depende de você, afirmam os especialistas. A inteligência artificial pode agilizar tarefas repetitivas, sugerir combinações inesperadas e ampliar possibilidades, mas não substitui o julgamento humano.
Willison explicou que o bot deve te ajudar a passar pelas partes chatas com mais rapidez, criar combinações interessantes e explorar novos limites. “Isso pode ajudar você a chegar à ideia vencedora definitiva”, destacou.
Ainda assim, é fundamental fazer uma checagem criteriosa de tudo que for gerado. “Os bots ainda erram, mesmo que pareçam convincentes, alertou Karns.
Por Renata Turbiani