sexta-feira,22 novembro, 2024

Como surge a cidade mais inteligente do mundo

Há alguns dias, Curitiba (PR) foi eleita a cidade mais inteligente do mundo pelo World Smart City Awards, em Barcelona, na Espanha, considerado a principal premiação do tema no mundo. Não apenas pelo reconhecimento, o sucesso da capital paranaense é inquestionável. Acompanho o caso desde 2017, quando o município deu o primeiro passo da jornada integrando o ecossistema de inovação local com a criação do Vale do Pinhão, o “Vale do Silício curitibano”, pavimentando o caminho para a discussão acertada sobre tecnologia, empreendedorismo e economia criativa.

A chegada pela primeira vez de uma cidade brasileira até o top 1 do ranking internacional é um marco bastante significativo na construção de um país que precisa ganhar excelência na prestação de serviços públicos e destaque como referência em smart cities.

Os fatores críticos para o sucesso dessa empreitada

No comprometimento com o desenvolvimento urbano e a transformação digital sustentável, Curitiba elaborou um plano que perpassou governos e governantes. E aí está o X da questão: é preciso ter um planejamento que deixe de ser uma política do governo e passa a ser política de Estado, perene. Focar na solução de problemas que impactam cidadãos e sua qualidade de vida, ser resiliente na execução das ações planejadas. Gestão com foco em resultados. Simples assim.

Mas, por outro lado, um grande desafio a ser enfrentado, se considerarmos que governos mudam de agendas e prioridades a todo momento – e por inúmeras e diversas razões, é verdade.

Curitiba e os seus gestores vêm empreendendo ações consistentes, revitalizando o plano a cada passo e aprendizado, integrando o setor público com o privado e a academia, estreitando canais de relacionamento dos cidadãos com o poder público e colocando-os no centro da tomada de decisão e, sobretudo, contando com o apoio da tecnologia em várias áreas da dinâmica urbana.

A inovação, por sua vez, foi desenhada como um processo social direcionado a beneficiar a população com projetos para tornar a cidade mais sustentável, inteligente, humana e conectada. Sim, o plano de Curitiba pode ser visto como um grande projeto social que aproximou pessoas, integrou cadeias e criou oportunidades. Resultado disso foram as inúmeras conquistas em áreas da administração pública, no desenvolvimento urbano e na qualidade de vida da população.

No âmbito da mobilidade urbana, redução do número de carros nas vias e emissões de gases de efeito estufa. A integração eficiente de ciclovias com transporte público urbano e intermunicipal, aplicativos de estacionamento e semáforos inteligentes são outros bons exemplos percebidos.

Já nos processos administrativos e na oferta de serviços públicos, houve grande simplificação e revolução digital. Iniciativas como o Wi-fi Curitiba, com internet pública gratuita em mais de 300 pontos; o e-Cidadão, base de dados da prefeitura com acesso a serviços digitais; a Agenda Online, com possibilidade de hora marcada para serviços presenciais; e a oferta de aplicativos retratam o compromisso da capital paranaense com a agenda da inovação. Outros pontos, como o Fala Curitiba, aproximaram as pessoas do processo decisório sobre investimentos na cidade. Desde 2017, a população já enviou 403 pedidos à prefeitura, via internet ou reuniões de bairro.

Curitiba foi pioneira na oferta de serviços de teleatendimento de saúde e videoconsulta, além de outros avanços importantes na área da saúde 4.1, modelo que incorpora tecnologia a práticas dos profissionais de saúde. Já a segurança pública conta com importantes recursos digitais, como a Muralha Eletrônica, um sistema integrado de monitoramento e controle da cidade. O tempo para abertura de empresas foi reduzido, e a homologação de novos negócios foi simplificada.

O meio ambiente e a biodiversidade receberam iniciativas, com monitoramento das mudanças climáticas, compromisso com energia renovável e ações de cultivo e uso integral de alimentos.

Há importantes desafios a serem superados

Desde 2018, Curitiba figura entre as cidades de maior destaque no World Smart City Awards. E como já é esperado, a melhoria da qualidade de vida atrai pessoas. Curitiba viu a sua população aumentar 22% em dez anos, e isso desafia a infraestrutura de trânsito e o meio ambiente.

Além do mais, a pressão sobre os serviços públicos pode aumentar gradativamente, assim como o crescimento desordenado pode afetar aspectos relevantes da dinâmica urbana. O grande objetivo, portanto, é usar cada vez mais dados e informações sobre o município para a tomada de decisão sobre problemas que tendem a ser cada vez mais complexos. Um desafio, tratando-se de ambientes naturalmente dinâmicos, que podem estar mudando ainda mais rapidamente.

Após o título de cidade mais inteligente do mundo, a manutenção dessa trajetória de sucesso de Curitiba dependerá da capacidade de capturar cada vez mais dados da interação das pessoas com o ambiente urbano, processá-los e extrair inteligência para ações assertivas no território. Para isso, tornam-se essenciais novas tecnologias, gestores públicos capacitados com os skills adequados para orquestrar ecossistemas complexos e uma governança pública forte.

Texto: Vinicius Brum, sócio sênior e vice-presidente da Falconi para soluções de Saúde & Farma, Saneamento, Educação e Serviços Públicos.

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