A moda rápida, também conhecida como fast fashion, surgiu na década de 1990, e é considerada a segunda revolução no setor de vestuário. Empresas como Zara e H&M estão entre as que se destacaram produzindo peças que remodelaram à alta-costura com preços baixos.
O fenômeno agora é outro. A chegada da chinesa Shein no mercado mundial, e no Brasil desde 2020, já é considerada a terceira revolução por quem compreende o segmento. E estabeleceu o conceito fast fashion low price, ou seja, consumo rápido de roupas com preços baixos – mas com uma produção diferenciada das marcas tradicionais; lançando muitas novidades a cada mês, só que com pouco volume.
A varejista asiática ocupava, até o ano passado, a terceira posição no ranking de maiores vendedoras de moda no Brasil, com faturamento de R$ 8 bilhões. A título de comparação, o faturamento da Marisa — que possui cerca de 340 lojas espalhadas pelo país — foi de R$ 2,8 bilhões em 2022.
A gigante do e-commerce — que não atua no mercado chinês — cresce e se expande em todo o mundo. E anunciou há poucas semanas, após a visita do presidente Lula à China, um grande investimento no Brasil.
O objetivo, de acordo com a marca, é fomentar a indústria têxtil brasileira e contribuir na digitalização e revitalização dessa produção para que o país se torne um hub de exportação para a América Latina.
Ainda segundo o anúncio, a empresa planeja se aliar a 2 mil fabricantes brasileiros para criar aproximadamente 100 mil empregos nos próximos três anos produzindo peças com a marca Shein. O investimento inicial? R$ 750 milhões.
Vantagens da Shein aos consumidores
Com esse anúncio veio também o lançamento do marketplace para atender às demandas dos clientes brasileiros por maior variedade de produtos e categorias, bem como a redução no tempo de entrega.
Até o final de 2026, a promessa é de que cerca de 85% das vendas no Brasil sejam de produtos locais, tanto de fabricantes como de vendedores. A Shein instalou escritório no nosso país em maio de 2022 e já conta com mais de 150 colaboradores trabalhando.
A chegada da empresa no Brasil pode afetar diretamente lojas como Renner, C&A e Riachuelo. Não por acaso, as ações das empresas caíram depois do anúncio da marca chinesa. Já as ações da Coteminas, que fabrica um quinto do algodão consumido no Brasil e fechou um acordo para viabilizar as operações da Shein, subiram mais de 300%.
Há quem aposte que, no fim das contas, a chegada ao mercado brasileiro seja mais desafiadora para a própria gigante chinesa, já que, aqui, vai enfrentar um cenário de alta competitividade, instabilidade e regulação. E, claro, um sistema tributário com milhares de normas vigentes.
Vale lembrar que o varejo de moda brasileiro é altamente fragmentado — as três maiores marcas do setor detêm cerca de 20% das vendas totais. É possível que haja espaço para grandes empresas coexistirem, competirem e crescerem.
O modelo de fabricação como ativo
O que a grande maioria dos participantes do mercado brasileiro ainda não percebeu são os modelos de negócios que as empresas chinesas desenvolveram e que agora estão se adaptando ao mercado brasileiro.
Por trás das roupas baratas da Shein, tem um modelo de produção ultra-rápido e sem intermediários, que barateia o custo de manufatura. Todos os produtos que estão no aplicativo — que em 2021 foi o mais baixado da indústria da moda no Brasil, com 23,8 milhões de downloads — aparecem de acordo com o crescimento do interesse e dos pedidos pelo produto.
A companhia então fabrica mais peças das que tiveram alto volume de compras e as novas remessas chegam aos estoques sendo disponibilizadas dentro do aplicativo. E assim o ciclo continua. Dá pra dizer que é como se fosse um pedido sob demanda, só que o uso da tecnologia viabiliza e faz o negócio crescer.
Um ponto importante é que o consumo e a divulgação em redes sociais dos produtos da Shein são a espinha dorsal do negócio e do crescimento da marca. Por isso, os usuários serão cada vez mais estimulados a postar conteúdos feitos na loja física de São Paulo, por exemplo, para ter a oportunidade de ver o conteúdo compartilhado pela própria página brasileira da empresa, que já somam 9,7 milhões seguidores entre Instagram e TikTok.
A empresa chinesa informou ainda que serão cerca de 11 mil peças disponíveis e a meta da empresa é vender 90% dos estoques. Os planos de expansão são ambiciosos no país, e novas lojas chamadas de pop-up deverão surgir em outros estados nos próximos meses.
Invasão das plataformas chinesas no Brasil
Mas não é só a Shein que tem planos para o mercado brasileiro. O TikTok tem grandes chances de se tornar a principal plataforma de conteúdo e e-commerce no país graças ao número de usuários e criadores. Na China, a plataforma já é um superaplicativo com diferentes serviços, delivery e pagamentos integrados.
A Kwai segue na mesma direção e já está rodando em caráter de teste, lojas online. Muito em breve os criadores de conteúdo vão poder utilizar os vídeos curtos para descobrir produtos e finalizar a compra sem sair da plataforma.
As empresas chinesas chegam cada vez mais fortes no Brasil. E entender esses novos modelos que eles estão introduzindo será bem importante para competir ou colaborar. Assim como será muito importante entender o papel das inteligências artificiais nas nossas vidas, no varejo e nos negócios daqui por diante. Papo que fica para a próxima coluna.
Fonte: Terra