Continente tem sido fortemente afetado pelas mudanças climáticas, enfrentando seca extrema, inundações e ciclones

O continente africano é responsável por menos de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas tem sido fortemente afetado pelos impactos negativos das mudanças climáticas. A região conhecida como Chifre da África, por exemplo, enfrentou seca extrema no começo do ano e, agora, está lidando com inundações, situações que resultaram no deslocamento em massa da população. Já a África Austral foi atingida no primeiro semestre pelo ciclone Freddy, a tempestade tropical mais duradoura, que matou ao menos mil pessoas.

Em meio a essas crises, o Grupo Africano de Negociadores (AGN, na sigla em inglês), atualmente presidido pela Zâmbia, vai participar da COP28, que começa na quinta-feira (30), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

De acordo com Ephraim Shitima, negociador-chefe da organização, algumas das questões que serão abordadas serão a transição energética justa e o financiamento climático.

A rede AlJazeera destaca que os países africanos, muitos deles economias em desenvolvimento de baixo e médio rendimento, estão negociando oportunidades para acelerar a sua produção de combustíveis fósseis para permitir a industrialização, antes de reinvestirem esses ganhos em fontes de energia verde.

O argumento é o de que uma vez que os países ricos prosperaram por meio da queima de combustíveis fósseis, eles devem ter a mesma oportunidade. Essa posição, no entanto, tem enfrentado forte resistência por parte da União Europeia e de especialistas e ativistas climáticos africanos.

Alguns dizem que toda a produção fóssil deveria ser abandonada, pois não há provas de que nações ricas em petróleo e gás como a Nigéria tenham reinvestido a riqueza petrolífera em energias renováveis ou mesmo no desenvolvimento. Outros afirmam que a “corrida ao gás” deixará o continente abandonado com ativos que ninguém deseja, enquanto fontes renováveis como a eólica e a solar ajudarão a “dar um salto” no desenvolvimento.

“Ambos os lados do argumento estão realmente certos. A África fica vulnerável quando os preços do petróleo caem, e isso confirma o que os ativistas dizem e, quer gostemos ou não, a indústria e o comércio estão migrando para as energias renováveis, com as principais economias lançando medidas comerciais que ameaçam os países africanos”, comentou Faten Aggad, ex-conselheira climática da União Africana (UA), a AlJazeera.

E ela completou: “Estamos entre a espada e a espada. Estamos vendendo esse sonho das energias renováveis, mas quase não temos investimentos nisso. Hoje o gás é a única opção disponível para África”.

Texto: Um só Planeta