Ao que parece, há uma maneira correta de se vangloriar das suas realizações profissionais – e uma maneira errada
Para algumas pessoas, se autopromover é algo natural. A maioria, porém, sente um verdadeiro desconforto quando precisa se gabar de suas realizações profissionais. O problema é que esse incômodo pode nos impedir de receber o devido crédito.
Mas, se você é um tímido que tem orgulho de si mesmo, existe uma saída. Uma nova pesquisa prova que há pelo menos uma maneira eficaz de promover suas próprias realizações evitando esses sentimentos negativos.
De acordo com um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Vanderbilt, a melhor maneira de receber o devido crédito por suas conquistas é fazê-lo ao mesmo tempo em que incentiva as pessoas ao seu redor.
PESSOAS QUE FIZERAM O TRABALHO MAS NÃO SABEM COMO FALAR SOBRE ELE EXISTEM EM TODOS OS NÍVEIS, INDEPENDENTEMENTE DE GÊNERO, TEMPO DE SERVIÇO, RAÇA OU IDADE.
“Existe o que chamamos de dilema da autopromoção, essa ideia de que, quando você se autopromove, parece mais competente. Só que, em contrapartida, isso prejudica a sua imagem de cordialidade”, explica o autor principal do estudo, Eric VanEpps.
“Normalmente, essas duas forças são vistas como antagônicas. Se eu reforçar a minha competência, farei isso às custas da minha cordialidade. Por outro lado, se eu disser coisas muito boas sobre outras pessoas ou me autodepreciar, parecerei cordial, mas às custas da minha imagem de competência.”
Em uma série de estudos que examinaram diversos cenários hipotéticos, os pesquisadores descobriram que a combinação de autopromoção com elogios aos outros aumentava as percepções de cordialidade e de competência.
De fato, quando os participantes do estudo puderam escolher entre dois candidatos competindo em uma eleição primária simulada contra um colega de partido, aquele cujas declarações políticas incluíam elogios ao oponente receberam 81% dos votos prováveis.
“Ao longo da carreiras, muitas vezes nos preocupamos em reivindicar crédito por aquilo que fizemos. Essa é uma estratégia que permite que você reivindique o crédito, para que não seja preterido em uma promoção por não ter informado as pessoas sobre o que fez. Mas você também não precisa ser um lobo solitário que as pessoas odeiam porque fica com todo o crédito só para si”, explica VanEpps.
PRIVILÉGIOS E AUTOPROMOÇÃO
Quando se trata de fazer marketing pessoal, os estudos mostram que o meio é a mensagem, pois tendemos a esperar ou até mesmo incentivar a autoestima de alguns, enquanto criticamos outros pelo mesmo comportamento. Especificamente, a pesquisa mostra que os homens se dedicam “consideravelmente mais à autopromoção” do que as mulheres.
“Historicamente, os atributos positivos para as mulheres eram associados a comportamentos passivos, como ser equilibrada, tímida, acanhada”, observa a consultora executiva Meredith Fineman, acrescentando que o bem-estar com a autopromoção também pode variar de acordo com a cultura, a classe, a orientação sexual, a idade e muito mais.
“O ‘silêncio qualificado’ – aquelas pessoas que fizeram o trabalho, mas não sabem como falar sobre ele – existe em todos os níveis, independentemente de gênero, tempo de serviço, raça ou idade”, diz ela. “Muito disso está ligado a privilégios. Algumas pessoas não são ensinadas que suas ideias e o que elas têm a dizer são importantes.”
Todo mundo conhece esse tipo de pessoa exibicionista, que não cansa de falar de si mesma – o tipo que acabamos por ignorar completamente. De acordo com Fineman, é o medo de nos tornar esse tipo de gente exibicionista que nos impede de praticar essa que é uma habilidade necessária, especialmente em ambientes profissionais.
O DILEMA DA AUTOPROMOÇÃO É A IDEIA DE QUE, QUANDO VOCÊ SE AUTOPROMOVE, PARECE MAIS COMPETENTE, MAS ISSO PREJUDICA A SUA IMAGEM DE CORDIALIDADE.
“É importante encontrar alguma maneira de fazer isso e que seja autêntica para você. A principal diferença é a autoconsciência. Essas pessoas não são autoconscientes e, se você questiona essas coisas, é porque demonstra essa autoconsciência.”
Os especialistas concordam que há uma maneira correta e uma maneira errada de alguém se orgulhar em público de suas realizações profissionais, mas geralmente só percebemos isso quando vemos alguém fazendo da maneira errada.
“Quando as pessoas simplesmente saem despejando seus currículos, falando sem parar e sem perguntar nada sobre você, esses são comportamentos desagradáveis”, descreve a coach de liderança Peggy Klaus.
“Há muitos comportamentos ruins na hora de se autopromover, mas você pode contorná-los com um discurso de autoelogio adequado à situação, curto, significativo para o público e que provoque interação.”
AUTOPROMOÇÃO NO TRABALHO REMOTO
O conselho de Klaus para a autopromoção eficaz não mudou muito nos últimos 20 anos, embora tenha se tornado ainda mais importante na era do trabalho remoto e híbrido. Isso porque agora temos menos oportunidades de mostrar e contar nossas realizações aos outros.
A MELHOR MANEIRA DE RECEBER O DEVIDO CRÉDITO POR SUAS CONQUISTAS É FAZÊ-LO AO MESMO TEMPO EM QUE INCENTIVA AS PESSOAS AO SEU REDOR.
“Como muitos não estão no escritório e não têm oportunidade de conversar no bebedouro ou no cafezinho, precisamos nos certificar de que fazemos isso virtualmente”, diz ela. “Tenho incentivado meus clientes a incluir isso nas reuniões de que participam: fazer um rodízio para que as pessoas possam falar sobre um obstáculo que superaram ou um sucesso que tiveram.”
Ela tem aconselhado há décadas as pessoas a compartilhar os holofotes, porque esse é um meio eficaz de se destacar. E, embora esteja feliz em ver mais pesquisas sobre o assunto, elogiar os outros sempre foi uma prática recomendada.
Para facilitar uma melhor troca de elogios mútuos e de autoelogios, Klaus recomenda reservar um momento para saber mais sobre as contribuições que os outros gostariam de destacar e ser mais explícito sobre como – e por quais conquistas – você gostaria de ser reconhecido.
“É preciso preparar as pessoas para elas te promoverem por você”, aconselha Klaus.
Texto: Jared Lindzon