Como o metaverso influenciou a Semana de Moda de Nova York

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O futuro dos desfiles digitais está dentro do metaverso, segundo prova a Semana de Moda de Nova York. O vencedor do CFDA/Vogue Fashion Fund de 2015, Jonathan Simkhai, por exemplo, trocou o desfile tradicional por uma apresentação no Second Life, plataforma do metaverso que já existe há alguns anos, mas ressurgiu na cultura pop. Jornalistas e convidados se reuniram através de avatares personalizados livres de máscaras, cartões de vacina ou distanciamento social.

Outros estilistas também toparam o desafio. Maisie Wilen, conhecida por suas roupas com perfume 90’s, filmou as modelos por meio de captura volumétrica em uma tela verde. Os convidados foram chamados para ver a coleção através de projeções enormes, enquanto os fãs, de casa, também participaram graças à realidade aumentada. Altuzarra, Eckhaus Latta e Markarian distribuíram NFTs complementando os desfiles físicos enquanto a Imitation of Christ revelou uma coleção de NFTs e roupas, apresentados em uma experiência virtual animada. 

O conceito de desfile virtual ganhou um novo significado à medida que elementos do metaverso “se infiltram” na passarela tradicional. O futuro dos desfiles de moda virtuais parece ser ao vivo e interativo, dois elementos muitas vezes perdidos na primeira geração de desfiles digitais durante a pandemia. Enquanto cada um dos desfiles que segue esse caminho apresenta uma interpretação diferente de uma variedade de tecnologias, cada um deles se apoia fortemente na interatividade e na co-criação, sugerindo o que está por vir.

Interativo e ao vivo
No metaverso, os elementos digitais e físicos se confundem ainda mais com vários graus de imersão – da realidade aumentada aos espaços totalmente virtuais. Ao contrário de um vídeo pré-gravado convencional, uma experiência de metaverso permite que os espectadores interajam com elementos digitais. 

A grife Maisie Wilen, da fundadora e diretora criativa Maisie Schloss, foi inspirada pela oportunidade de levar as pessoas a questionar sua realidade, talvez até se sentirem um pouco desorientadas. Os mesmos vídeos que foram projetados a quase três metros de altura nas paredes também puderam ser vistos via realidade aumentada. Os espectadores trouxeram então a coleção para suas próprias casas por meio de um holograma de RA antes que clicassem para fazer a pré-encomenda.

Antes de participar do desfile virtual de Simkhai, os convidados enviaram imagens que foram transformadas em avatares e, em seguida, selecionaram qual peça de Simkhai eles queriam que seu avatar usasse. Os convidados foram levados ao espaço através de um link. Após a exibição privada, a comunidade do Second Life foi convidada a assistir ao desfile, incentivada a comprar as roupas físicas. Simkhai está planejando vender uma seleção de designs como NFTs.

Nos últimos dois anos, Simkhai usou o Zoom para exibir desfiles virtuais e sessões de culinária para “criar um senso de comunidade”. “Trata-se de apresentar a marca a um novo cliente. E para minha cliente que talvez ainda não sinta que o metaverso significa muito para ela, essa será uma boa introdução e oportunidade de descoberta”, diz ele. “Minha filosofia de design está se apoiando em dicotomias ou justaposições. Estamos todos muito obcecados em olhar para a história da moda, mas trata-se realmente de olhar para frente e para o futuro, com a Covid nos dando um empurrão”. 

Seu desfile está sendo compartilhado com o público em geral, que pode comprar e usar imediatamente os designs digitais. A marca também está introduzindo uma série de NFTs e terá encontros com compradores e jornalistas para que eles compararem as versões digitais com suas peças físicas.

“Esse novo paradigma é comparável ao advento de designs de desfiles de moda compatíveis com a TV, a web e a rede social”, diz o veterano designer e produtor de desfiles, Alexandre de Betak. A diferença é que as ondas anteriores não mudaram significativamente o formato tradicional do desfile. “No início da Covid, com os fashion films, perdemos o interesse do público porque não havia interações ao vivo. Se for apenas um filme, que pode ser exibido a qualquer momento, ninguém se importará. Agora estamos na junção de um novo fluxo, que é mais qualitativo do que antes da Covid.” 

A interatividade imediata dos NFTs dos desfiles de moda é menos pronunciada, mas sugere planos futuros ligados a projetos de NFT das marcas. As mensagens do desfile da Eckhaus Latta instigaram os participantes a dar um endereço de e-mail, anunciando que a propriedade de um de seus 10.000 novos NFTs, criados para o aniversário da marca de 10 anos, abriria as portas para o “paraíso da Web 3.0” da marca. Os benefícios incluem cunhagem antecipada para futuros NFTs, acesso a itens exclusivos e convites para eventos exclusivos para membros. Na Altuzarra e Markarian, os convidados receberam automaticamente um NFT via leitura de código QR, com eventos futuros semelhantes ou acesso ao produto proposto. 

“Foi emocionante pegar coisas que estão muito conectadas à Altuzarra, em um momento específico no tempo, e imortalizá-las como peças de arte digital que podem conectar o desfile físico ao mundo digital, criando um senso de comunidade estendido”, diz o designer Joseph Altuzarra.

A cocriação é fundamental
As parcerias são essenciais para dar vida aos conceitos do metaverso dos estilistas. As empresas de tecnologia estão ansiosas para integrar a comunidade da moda ao metaverso por causa da influência cultural da moda. Enquanto isso, os estilistas estão ansiosos por conhecimento interno que facilite o processo. Schloss, da Maisie Wilen, trabalhou com o Yahoo para capturar e produzir seus elementos digitais e físicos no desfile. 

“Queremos ter certeza de que estamos criando o tipo de conteúdo que a Geração Z deseja, incluindo experiências imersivas no estilo do metaverso”, diz Nigel Tierney, chefe de conteúdo do Yahoo Ryot Labs, que também trabalhou com Rebecca Minkoff, Christian Cowan e Charli Cohen. 

“A moda é um elemento importante da comunidade do Second Life”, diz Mishi McDuff, fundadora e CEO da marca de roupas do Second Life, a Blueberry, que gera milhões em receita vendendo moda virtual na plataforma todos os anos. Ao traduzir os designs de Simkhai para o espaço, ela conseguiu adicionar o que chama de “aptidão do metaverso” – elementos que não seriam possíveis no mundo físico. Um vestido de paetês, por exemplo, perde gradualmente seu brilho e se transforma em um body conforme a modelo desfila na passarela. No Second Life, as roupas virtuais de Simkhai custam cerca de mil Linden (a moeda do jogo), o equivalente a cerca de US$ 4. 

Altuzarra e Markarian trabalharam com o mercado social NFT Bubblehouse, criado especificamente para ser menos intimidador do que os NFTs que exigem compras usando criptomoedas e uma carteira digital. Ele é executado no blockchain Polygon, criado para ser mais eficiente em termos de energia do que o Etherium. 

“As pessoas que estão liderando a revolução atual são estilistas independentes, e o outro lado disso são os inovadores da indústria de tecnologia da moda”, diz Clare Tattersall, fundadora da Digital Fashion Week New York, uma série de eventos que começou em 10 de fevereiro, tendo o objetivo de educar a indústria a respeito das inovações na moda. 

A primeira presença das marcas de moda em desfiles virtuais “é muito reminiscente do que eles fazem fisicamente, assim como as primeiras lojas, casas e closets [virtuais]”, diz de Betak. “Por quê? A parte mais emocionante é ter menos restrições físicas e a gravidade é a primeira coisa que você não tem. Antes eu sonhava em desafiar a gravidade, e agora é a hora.”

Insiders prometem mais nos próximos meses. “Nas próximas duas semanas de moda, veremos algumas inovações empolgantes”, diz Umindi Francis, consultora de moda de luxo que agora presta consultoria em estratégias de metaverso como diretora de desenvolvimento de marca na Infinite World, plataforma de infraestrutura do Metaverso. 

Depois que a Imitation of Christ apresentar sua coleção inverno 2022 por meio de uma experiência virtual na Semana de Moda de NY, ela promoverá ainda mais sua coleção de NFTs e roupas digitais, centrada na Web 3.0, na conferência NFT LA, que acontece em 28 de março, depois de aparecer na Semana de Moda no Metaverso em Decentraland, no dia 24 de março. A coleção também será exibida na Gaba Gallery de Los Angeles. A Web 3.0 “será incrível para o que é possível em termos de criatividade e para os artistas sobreviverem”, diz a fundadora Tara Subkoff.

Simkhai não está preocupado com o risco de ser um dos primeiros a aderir. “Não posso trabalhar com medo de ser criticado, caso contrário, teria largado esse trabalho em seis meses”, diz o estilista. “Quanto maior o risco, maior a recompensa. Muitos estilistas de Nova York foram a Paris para expor suas ideias – nós estamos indo para o metaverso.”

Fonte: Vogue Business

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