No início de novembro, líderes mundiais foram ao Egito para a COP27, a cúpula climática anual da ONU (Organização das Nações Unidas). A COP (Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) é uma oportunidade anual de reunir as principais partes interessadas na luta contra as mudanças climáticas e alinhar as prioridades para o próximo ano. Um dos temas em evidência da COP27, motivo de muitas discussões, foi a expansão da agropecuária regenerativa.
Um relatório de 2014 mostra que 24% das emissões globais vêm do setor produtivo, a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa depois da energia. Então, se vamos frear a mudança climática e manter o mundo dentro de 1,5°C, devemos evoluir a maneira como cultivamos. A agropecuária regenerativa faz isso, concentrando-se na saúde e na fertilidade do solo, sequestrando carbono, melhorando a saúde das bacias hidrográficas, aumentando a biodiversidade e melhorando os meios de subsistência dos produtores que cultivam nossos alimentos.
Em outras palavras, a agropecuária regenerativa não apenas reduz as emissões, mas também pode acelerar a transição para um sistema alimentar mais saudável, sustentável e equitativo. E, no entanto, a agropecuária regenerativa tem sido amplamente negligenciada quando se trata de negociações climáticas internacionais. Acredito que está na hora de isso mudar. É hora de enfrentar os desafios e explorar soluções que resultem na adoção generalizada dessas práticas potencialmente salvadoras do planeta.
Na PepsiCo, traçamos um caminho que esperamos servir de modelo para outros. Definimos metas ambiciosas e estamos adotando a agricultura regenerativa, hoje, com urgência para causar impacto em escala.
Dito isto, a transição para a agropecuária regenerativa levará tempo. Há muito trabalho a fazer para quebrar as barreiras que impedem a expansão das práticas regenerativas. Em última análise, para que a agropecuária regenerativa crie raízes, os produtores precisam de três coisas: apoio econômico, apoio social e cultural e apoio agronômico.
Suporte econômico à agropecuária regenerativa
Os fazendeiros são empresários e, embora a transição para a agropecuária regenerativa seja mais lucrativa a longo prazo, é preciso um investimento inicial e alguns anos para ver o retorno. É fundamental estabelecer programas que possam ajudar a tornar a transição um pouco mais fácil. Isso inclui ferramentas como programas de compartilhamento de custos, iniciativas para ajudar os produtores a solicitar empréstimos ou doações e defender incentivos fiscais e outras políticas que apoiem a transição economicamente.
Suporte social e cultural
Cada comunidade agrícola é única e é importante reunir toda a comunidade na jornada. Para cada safra, os produtores têm apenas uma chance por ano de obter lucro (lembrando que a segunda safra no Brasil, por exemplo, vale para uma parte do país). E cada agricultor pode cultivar apenas algumas safras comerciais por ano.
Por causa disso, muitos agricultores costumam fazer o que funcionou para eles no passado, em vez de tentar algo novo, como a agropecuária regenerativa. Se as empresas puderem mostrar a eles que essa abordagem é algo que toda a comunidade está adotando, aumentam as chances dos produtores e empresas se juntarem nessa jornada.
Suporte agronômico
Estas são novas formas de agropecuária para muitos e podem não ser compreendidas rapidamente. É importante fornecer treinamento local sobre as práticas e os benefícios que os agricultores podem esperar ao experimentá-las.
As empresas podem trabalhar com seus parceiros para fornecer treinamento relevante, localmente, sobre as práticas regenerativas mais apropriadas para o produtor rural e a região. Nos EUA, por exemplo, a PepsiCo também recebe agricultores em suas fazendas de demonstração para que possam ver como são essas práticas no campo, literalmente.
Mas o ônus não pode recair exclusivamente sobre os produtores rurais. Como líderes empresariais, é importante focar no que nossas organizações podem fazer para tornar mais fácil e atraente a adoção da agropecuária regenerativa.
Utilizando uma abordagem regional
Uma abordagem regional – reunindo as partes interessadas em uma área específica que abrange várias culturas, setores e usos da terra – pode ser altamente benéfica e impulsionar a mudança em nível de sistema, necessária para criar resiliência às mudanças climáticas. Trabalhar em uma região pode permitir a colaboração e a construção de consenso em torno de práticas de agropecuária regenerativa, destinadas a abordar os riscos específicos daquela parte de terra.
O resultado? Oferecer os resultados positivos certos para todos os envolvidos, abordando as barreiras financeiras, técnicas e sociais que os produtores rurais enfrentam ao tornar possível a mudança para a agropecuária regenerativa em toda a paisagem. Temos ampliado esse tipo de esforço nos EUA, onde já estamos obtendo sucesso, e estamos expandindo nossa abordagem regional para novas geografias.
No entanto, é importante não ser muito prescritivo. Os líderes empresariais devem fornecer orientação por meio de uma estrutura flexível. É por isso que na PepsiCo criamos um manual para nossos parceiros, e seria muito interessante que outras empresas agrícolas fizessem o mesmo.
Compartilhe suas expectativas sobre agropecuária regenerativa e a redução de emissões com seus parceiros, em toda a cadeia de valor – fornecedores, provedores de insumos, parceiros de implementação, empresas parceiras, clientes, ONGs e até mesmo governos. Compartilhe as lições mais significativas que aprendeu em sua jornada, ao mesmo tempo em que fornece uma estrutura para ajudá-los a definir, alcançar e relatar suas próprias metas de agropecuária regenerativa. E incentive outros produtores a adotarem uma abordagem proativa para mantê-los cultivando, apesar dos muitos riscos que enfrentam. Porque, no final das contas, os riscos deles são os nossos riscos.
No final das contas, há conhecimento, recursos e ferramentas. Está na hora da agropecuária regenerativa ocupar o centro do debate sobre o clima. Fazer deste momento um momento de ação, em que há um comprometimento coletivo em adotar essa alavanca crítica para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, fortalecer nosso sistema alimentar global e elevar nossas comunidades. A hora de agir é agora.
*Roberto Azevêdo é brasileiro, já foi diretor da OMC (Organização Mundial do Comércio). Atualmente, é membro do Forbes Council nos EUA e vice-presidente executivo, diretor de assuntos corporativos e presidente do conselho de administração da PepsiCo Foundation.
Por: Roberto Azevêdo