segunda-feira,16 setembro, 2024

Como Eduardo Petrelli viu no desperdício de alimentos a oportunidade de criar um Mercado Diferente

Apaixonado por esportes e alimentação saudável, Eduardo Petrelli, CEO e cofundador da Mercado Diferente, encontrou nas distorções da cadeia produtiva uma oportunidade de criar um negócio de impacto

Há quem diga que combinar paixões pessoais com trabalho é a receita certa para perder o interesse por ambos. Para Eduardo Petrelli, cofundador do Mercado Diferente, misturar as duas coisas foi essencial para o seu sucesso como empreendedor.

“Sou muito apaixonado pela alimentação saudável e comecei a estudar essa cadeia de alimentos frescos”, diz Petrelli, em entrevista a Época NEGÓCIOS. Em meio aos estudos, o empresário de 32 anos se deparou com a enorme ineficiência da cadeia produtiva: o desperdício de alimentos, por diferentes razões, é enorme, fazendo com que pelo menos um terço de tudo que é produzido no país seja desperdiçado.

Com a proposta de reduzir o desperdício, oferecer produtos de qualidade a preços atrativos e fortalecer os produtores locais, Petrelli fundou o Mercado Diferente em 2022, ao lado dos sócios Saulo Marti, Paulo Monçores e Walter Rodrigues. “Outro dado importante é que 82% das famílias na América Latina cozinham diariamente, o que gera a necessidade de itens frescos toda semana”, explica Petrelli. Já no ano seguinte, a empresa alcançou uma receita líquida de R$ 21 milhões.

Para 2024, a foodtech planeja triplicar o seu faturamento e se estabelecer como “o maior mercado online saudável do país”. Ao contrário de um supermercado online comum, que foca apenas na conveniência e urgência da entrega, a empresa busca explorar outro nicho: clientes que querem sempre ter em casa hortifruti de qualidade. A foodtech também inova ao comercializar frutas e verduras que não se adequam aos padrões “estéticos” das prateleiras.

O Mercado Diferente atua no sistema de assinaturas. Os clientes escolhem a quantidade ideal de frutas, verduras, legumes e outros produtos orgânicos que querem receber em casa semanalmente, quinzenalmente ou até mensalmente. Além do hortifruti, a plataforma também comercializa outros produtos orgânicos, como proteína animal, geleias, queijos e ovos, dentre cerca de 300 itens disponíveis.

“Um produto que seja um pouco maior, menor, tenha uma batida ou um formato diferente costuma ser rejeitado pela cadeia de distribuição. Isso vai desde bandejas que exigem um tamanho específico de frutas até itens que não são esteticamente perfeitos”, diz o empreendedor.

Outra razão para descarte dos alimentos identificada por Petrelli é a quantidade de intermediários que manuseiam o produto até o destino final. Normalmente há cinco intermediários: a cada manuseio, o produto vai perdendo a qualidade. Fatores como chuva e queda no fluxo de clientes também podem aumentar as perdas.

Empreendedor de berço

Natural de Curitiba, Petrelli teve outras experiências antes de fundar a foodtech. A primeira aventura do curitibano foi uma rádio online. Aos 22 anos, na faculdade de engenharia, decidiu apostar no segmento de bicicletas elétricas. “Sempre fui muito focado em negócios diretamente para o consumidor e com impacto na sociedade”, diz.

A empresa não deu certo, mas Eduardo não desistiu de tentar dar escala a um produto que fosse capaz de deixar marcas positivas na sociedade. Ao fazer uma pós-graduação no Vale do Silício, se apaixonou pelo universo da tecnologia e em seu potencial de impactar bilhões de pessoas.

“Durante esse período, junto com alguns amigos que também estavam fazendo pós-graduação no exterior, apresentamos ao CEO da empresa a ideia de voltar ao Brasil para fundar o aplicativo de entrega James”, conta o empresário.

Em 2016, as entregas de mercado online ainda eram muito limitadas. Com o objetivo de inverter a lógica, Petrelli lançou um aplicativo que prometia entregar apenas alguns minutos produtos de pet shop, farmácia, restaurantes e mercados.

O negócio ganhou escala, mas, com o tempo, o aumento da concorrência trouxe dificuldades para a empresa. Para se diferenciar dos concorrentes, houve uma reestruturação com foco na entrega de produtos de supermercados. Alguns meses depois, o James foi vendido ao grupo Pão de Açúcar e chegou a atuar em quase 40 cidades.

“Na época, o GPA era o maior varejista alimentar da América Latina, e aproveitamos essa força para crescer de forma mais sustentável. Nosso custo de aquisição era significativamente menor que o dos concorrentes, pois utilizávamos a base de clientes deles. Além disso, implementamos estratégias de conversão para outros serviços, como restaurantes e farmácias. Isso tornou nosso crescimento muito mais eficiente em comparação aos concorrentes”, afirma Petrelli.

A sociedade com o GPA, no entanto, mudou ao longo do tempo, levando os sócios-fundadores a saírem do negócio. Dos quase sete anos que passou dentro do James, Petrelli levou a paixão pelo varejo alimentar e a expertise sobre o setor, que mais tarde utilizaria no Mercado Diferente.

“Quando voltei a analisar o setor de supermercados, percebi que o momento era oportuno para empreender novamente. O setor, avaliado em R$ 1 trilhão, tinha apenas 2% de digitalização no pós-pandemia”, aponta o empresário. “Ao olhar para fora, vemos que os EUA já estão próximos de 10%. Na China é 20%. Esse é um caminho sem volta. Na América Latina, veremos uma digitalização sem precedentes, com potencial de crescimento de 5 a 10 vezes.”

Empreendedorismo de impacto

Mercado Diferente, cesta de entrega — Foto: Divulgação
Mercado Diferente, cesta de entrega — Foto: Divulgação

O impacto positivo na cadeia produtiva é o que motiva Petrelli a ensinar seu cliente a consumir de uma forma diferente — em vez de buscar uma solução rápida, a plataforma permite o planejamento semanal, com alterações caso seja necessário.

“Impacto é sinônimo de sucesso. O que me motiva todos os dias é ver o impacto que geramos em toda a cadeia, desde o produtor até a casa dos consumidores. Já geramos mais de R$ 20 milhões em receita para os produtores desde o início da Diferente, e aumentamos sua produtividade média em 20%. Em alguns casos, o ganho chega a ser de 40%, já que compramos itens fora do padrão, e eles preferem vender para nós. Já resgatamos milhares de toneladas de alimentos”, conclui.

O fundador também se preocupa com a insegurança alimentar no país. Em cerca de oito meses de parceria com a ONG Prato Cheio, a companhia já distribuiu 83,4 mil refeições para quem precisa. Além disso, a startup doou mais de 16 toneladas de orgânicos a serem entregues em 52 entidades.


Por Jasmine Olga

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