Quando uma empresa coloca o seu cliente no centro do negócio, busca ir além de satisfazer expectativas e chega a surpreender oferecendo algo que o cliente nem sabia que desejava, os desafios de entrega aumentam exponencialmente. Uma das formas mais efetivas de conseguir a excelência na criação de produtos ou serviços de alto valor agregado é unir forças com outras empresas.
Quando se observa os ecossistemas na natureza, fica bem claro que as coisas funcionam porque cada um tem a sua especialidade e o sucesso do todo é resultado do quanto cada um faz a sua parte com qualidade. Tanto uma águia quanto uma abelha voam, mas, se o desafio for polinizar, a melhor solução é fazer a parceria com a abelha, que é especialista nisso.
Hoje o combustível mais precioso para uma empresa são os dados sobre o comportamento do consumidor. Um aplicativo de entrega de comida tem mais dados sobre os hábitos alimentares de uma pessoa do que qualquer relatório que ela possa fazer para um nutricionista — e isso pode gerar informações preciosas para o seu tratamento contra o colesterol, por exemplo. Se o aplicativo de comida fizer parte do mesmo ecossistema que empresas da área de saúde ou fabricantes de farmacêuticos, os dados gerados por cada companhia poderão inspirar ou direcionar os esforços das outras em direção à inovação. As trocas de informações enriquecem o ecossistema como um todo e tornam tudo mais inteligente, gerando dados importantes para a tomada de decisão.
Por meio destas parcerias, é possível fazer saltos evolutivos significativos. A grande questão é entender que tipo de informação você precisa e se aliar a quem pode oferecer esses dados de forma fidedigna.
Outra possibilidade é entender como novos produtos, de outros setores, podem agregar valor ao seu negócio. O exemplo mais recente é o ChatGPT, a inteligência artificial que vai aprender e melhorar com o uso. Muitas empresas e alguns setores inteiros estão buscando as formas mais eficientes de usar essa tecnologia.
Por outro lado, quando as parcerias são estabelecidas de forma intencional, diretamente entre duas ou mais empresas, para formar um ecossistema, os resultados costumam vir de forma mais direcionada, específica e rápida.
Recentemente a GM fez uma parceria com a Netflix para divulgar, dentro do contexto da cultura pop, os carros elétricos. A GM está empenhada no processo de eletrificação veicular, mas esbarrou em várias ideias pré-concebidas em relação aos carros elétricos, como baixa autonomia e potência. Outro problema era fazer as pessoas começarem a achar o silêncio dos carros elétricos tão charmoso quanto o barulho dos motores. Leva tempo para mudar esse tipo de percepção, mas se virmos com frequência os EVs (sigla para Electric Vehicles) em filmes e séries, pode ser que nos acostumemos mais rápido e passemos a desejar esses carros. Por isso, a montadora vai oferecer veículos para as produções da gigante do streaming. Com a parceria, a Netflix passou a fazer parte do ecossistema de eletrificação veicular.
Outro exemplo clássico de parceria geradora de ecossistema aconteceu nos anos 1980 entre a IBM, fabricante de computadores pessoais, e a Microsoft, que tornou com seu software a utilização dos PCs muito mais amigável. A partir deste alinhamento, toda uma cadeia produtiva de informática se formou e, como sabemos, transformou a realidade empresarial e pessoal de todo mundo.
Outra maneira de formar ecossistemas de negócios é por meio de aquisições de startups que possam agregar valor ao seu negócio. O mundo das Big Techs é repleto de exemplos. Quando o então Facebook (hoje Meta) comprou o WhatsApp, ele ampliou sua atuação no ecossistema de redes sociais. Recentemente, usando como trampolim os 2 bilhões de usuários do Instagram, lançou o Threads, que se tornou a rede social que mais rapidamente conquistou usuários na história.
As lideranças empresariais — de todos os setores! — terão de dedicar cada vez mais tempo, atenção e energia em identificar parceiros, estabelecer alianças e formar ecossistemas. Isso é o que lhes permitirá desenvolver inovação no seu mercado, aumentar a capilaridade junto aos consumidores e até transformar o seu modelo de negócio.
* Rodrigo Rocha é CEO da Amil Dental, escritor e montanhista.
Fonte: Época Negocios