segunda-feira,25 novembro, 2024

Como a tecnologia irá moldar o futuro do trabalho, segundo Shuo Chen

Shuo Chen é sócia e única mulher da IOVC (Innovation Overflow), onde ela se concentra nos investimentos em empresas de tecnologia em estágio inicial, com foco em SaaS (Software as a Service) e ciência de dados. Aos 30 anos de idade, a investidora integra o corpo docente da UC Berkeley School of Engineering e da Singularity University, nos Estados Unidos, além de ser CEO da Shinect, a maior comunidade asiática de engenheiros e empreendedores da região da Baía de São Francisco e Vale do Silício.

Shuo já investiu em empresas adquiridas por gigantes como Goldman Sachs, Ford, Caterpillar e outras; ajudou no fechamento de negócios com Amazon, Apple, Google, Mercedes-Benz e NASA; trabalhou na aquisição da Motorola por US$ 12,5 bilhões (R$ 64 bilhões) pelo Google; na aquisição do SlideShare pelo LinkedIn por US$ 119 milhões (R$ 618 milhões); além de fazer parte do Conselho Consultivo da Forbes China, onde aconselha sobre conteúdo e prêmios para asiático-americanos na América do Norte.

A jovem também é um dos 13 membros votantes da Comissão de Saúde Mental da Califórnia, que supervisiona a verba anual de US$ 2,6 bilhões (R$ 13 bilhões) do orçamento estadual e aconselha o governador e o Legislativo local sobre políticas de saúde mental. Com esse currículo, ela integra a lista da “Forbes 30 under 30” de 2022.

Em conversa, Shuo falou sobre as oportunidades que se abrem com as transformações tecnológicas, os investimentos em startups e como enxerga o futuro do trabalho e dos negócios.

Transformações tecnológicas e oportunidades

Para Shuo, o mundo vive o momento de transformações tecnológicas mais significativas da história moderna, algo que se reflete nas instituições financeiras e bancárias, apresentando enormes desafios e grandes oportunidades.

“Dados recentes indicam que, até 2030, 85% das posições de trabalho serão criadas por volta de cinco anos antes”, aponta a especialista. “Quando olhamos para pessoas que hoje são C-Suite em várias empresas, percebemos que esses cargos não existiam até alguns anos atrás. Na verdade, não eram caminhos de carreira que os indivíduos podiam imaginar em seguir ao concluírem a universidade”, acrescenta.

Shuo faz parte da Ecode, a maior organização sem fins lucrativos de tecnologia e empreendedorismo que fica co-hospedada entre Berkerly e Stanford, e trabalha ao lado de pessoas como o diretor de tecnologia da Microsoft e o diretor de privacidade do Google. “Diretor de privacidade, por exemplo, era um cargo que há pouco tempo não existia. Provavelmente quando ele se formou essa não era uma carreria que ele poderia planejar”, explica. 

A investidora dá o exemplo de outro colega que atua como head em Ciência de Dados – outra posição criada recentemente. “Você poderia estudar matemática ou estatística e trabalhar em Wall Street, ou até ingressar em uma empresa de tecnologia e atuar com algo relacionado, mas esse não era um campo independente”, argumenta ela.

E completa: “Quero dizer que a tecnologia permite um ritmo acelerado de mudanças. Vemos que tipos fundamentais de emprego estão mudando, quais posições estão mudando, mas, como resultado, a maneira como pensamos em investir nosso dinheiro em startups também precisa mudar”. 

Startup, investimentos e crise

Além do trabalho na IOVC, Shuo atua em salas de aula, onde ensina sobre empreendedorismo há mais de uma década. “Atualmente, vejo que meus alunos têm mais experiência com startup do que nunca. No passado, era raro que isso acontecesse, mas hoje 90% deles têm vivência empreendedora – seja no estágio ou trabalhando em seu próprio projeto de startup”, comenta. 

Seu foco é em startups de software empresarial, ou seja, startups que não estão vendendo para indivíduos, mas para empresas – Google, Apple, Nike estão na lista. “Diferentemente dos outros investidores, eu faço a seguinte pergunta: em que as maiores empresas do mundo estão gastando dinheiro? Assim, descubro quais são os produtos e serviços que elas precisam para seus negócios e invisto neles”, explica Shuo. 

Por meio do investimento nas startups, a sócia da IOVC afirma que espera ajudar funcionários em todo o mundo a “economizar tempo, trabalhar de forma eficaz e ter experiências melhores”. É isso que ela define como empresas de software em estágio inicial que estão possibilitando o futuro do trabalho. 

“Em 2021 foi a primeira vez, em muito tempo, que as pessoas passaram a olhar para o software corporativo. E quando penso na maior parte da minha carreira como investidora, muitas pessoas não gostavam desse tipo de investimento, o que para nós da IOVC é bom, já que estávamos na área antes”, diz ela. No Brasil, a presença da IOVC ainda deve começar, pois algumas empresas e startups do portfólio estão se expandindo para o país. 

Shuo sabe que o cenário de investimentos atual enfrenta os efeitos da crise econômica que se intensificou após a pandemia de covid-19, mas ela considera que essa é uma parte “natural do percurso”, seja para investidores ou fundadores, já que a economia é cíclica. “Há prós e contras, como o fato de ter que fazer mais com menos. Mas algumas das maiores empresas do mundo foram fundadas em momentos de crise, com pessoas particularmente dedicadas. O resultado pode ser uma empresa resiliente, que sobrevive por mais tempo”, acrescenta.

Contudo, a investidora pondera que a desaceleração econômica tem como efeito negativo o fato de mulheres aparecerem ainda mais sub-representadas entre fundadores de empresas.

Empreender com saúde mental

Como um dos 13 membros votantes da Comissão de Saúde Mental da Califórnia, Shuo reforça esta como uma parte importante da sua própria jornada: “Investindo em startups, sei que essas pessoas estão em empregos estressantes, com menos suporte organizacional e, por isso, é essencial falar de saúde mental, principalmente após os dois últimos anos de trabalho remoto”.

Shuo lembra que a Califórnia se tornou o primeiro estado dos EUA a estabelecer diretrizes para a saúde mental no local de trabalho. Mas ela enfatiza que, para aumentar a conscientização sobre o tema, é necessário superar os estigmas. “É como um kit de primeiros socorros mental, que diminui o tempo que os indivíduos levam para buscar ajuda”, diz.

Futuro do trabalho e dos negócios

Shuo aponta algumas tendências para o futuro do trabalho e dos negócios. Veja a seguir:

1. As pessoas costumam trabalhar em coisas paralelas: “Você pode estar trabalhando em uma empresa, mas se dedicando simultaneamente a uma startup. Então, quando percebe que está tendo sucesso, decide deixar o emprego fixo para se dedicar integralmente à startup”.

2. Barreiras de entrada para abrir um negócio diminuíram: “A idade média dos empreendedores está diminuindo. Se antes era 40 ou 50 anos, hoje é natural começar aos 30”.

3. Empreendedores mais jovens estão focados nas melhores práticas: “Você não tem anos de experiência, então precisa conversar com aqueles que estão alguns passos à sua frente. Por isso é comum fazer parte de comunidades, ter um networking em que as pessoas se apoiam”. 

4. A criatividade florescerá como resultado da automação: “É bom automatizar as partes mais chatas do nosso trabalho, otimizá-las com inteligência artificial, para investir tempo naquilo que tem mais valor, como as relações e as estratégias”. 

Redação
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