Nos últimos anos, um debate crescente sobre a possibilidade de reduzir a semana de trabalho para apenas quatro dias se instaurou. E a ideia já começou a sair do papel: em diversos países, a proposta tem ganhado destaque com empresas e governos considerando os benefícios da mudança. Na América Latina, ela começará pelo Brasil, intermediada pela 4 Day Week, organização que desde 2019 avalia novos modelos de trabalho e produtividade.
O prazo para se inscrever no programa piloto é final de agosto. Setembro, outubro e novembro começam a preparação, o treinamento e as sessões de integração com a equipe de suporte. Em dezembro dá-se o início do período de teste de seis meses – até abril de 2024.
Gabriela Brasil, diretora de Comunidade na 4 Day Week Global, conta como será a implantação deste programa piloto e como essa abordagem pode melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Os principais pontos positivos da semana de 4 dias úteis
Estudos têm mostrado que trabalhar menos horas pode, paradoxalmente, aumentar a produtividade. Com uma semana de trabalho mais curta, os funcionários tendem a se concentrar mais em suas tarefas, evitando distrações e desperdício de tempo. Além disso, o descanso adicional proporcionado por um dia a mais de folga pode resultar em maior energia e motivação no trabalho. “A Semana de 4 Dias que promovemos não é apenas sobre redução de tempo, mas mantendo 100% do pagamento por 80% do tempo em troca de 100% de produtividade. O foco está em permitir que os funcionários descansem e recarreguem, promovendo um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal”, explica Gabriela.
“Precisamos redesenhar não apenas a semana, mas também a comunicação, tecnologia, e processos. Reorganizamos reuniões, identificamos ferramentas eficientes, e construímos novos caminhos para o trabalho em equipe. É um esforço colaborativo entre gerência e equipe para focar nas atividades mais importantes e impactantes”, acrescenta.
As mudanças necessárias
É preciso de uma negociação coletiva entre empregadores e funcionários, sobre temas como flexibilidade de horários, reorganização das tarefas e responsabilidades internas, adoção de novas tecnologias e até uma mudança cultural a fim de superar a mentalidade de que mais horas de trabalho significam mais produtividade.
“É vital incentivar a experimentação de novas formas de trabalhar, dando espaço para aprendizado e adaptação. As empresas que adotam esse modelo reorganizam sua rotina, diminuindo distrações, reuniões, interrupções, e analisando e aprimorando processos. Isso preserva o foco das pessoas no trabalho mais importante e se ajusta com a experiência dos funcionários”, diz a diretora.
Sim, é possível reduzir os custos da empresa
Ao implementar a Semana de 4 dias, as empresas podem experimentar uma redução no custo em várias áreas. E isso se deve a vários fatores:
Redução de Despesas Operacionais: Menos dias no escritório podem reduzir os custos com energia, água e outros recursos;
Aumento da Produtividade: Ao focar na medição baseada em resultados em vez de horas trabalhadas, a empresa pode alcançar mais em menos tempo, melhorando a eficiência.
Melhora no Bem-Estar dos Funcionários: A semana de 4 dias promove um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o que pode diminuir os níveis de estresse e absenteísmo, reduzindo custos com licença médica.
Retenção de Talentos: Essa abordagem oferece uma vantagem competitiva no recrutamento e retenção de talentos, diminuindo os custos de atrito e contratação.
Redução da Pegada de Carbono: Menos deslocamentos e uso de energia contribuem para a sustentabilidade, o que pode ser alinhado com incentivos fiscais e uma imagem positiva da marca.
Fomento à Inovação: A Semana de 4 Dias incentiva novas formas de trabalhar, permitindo a automação do trabalho rotineiro e o investimento em práticas que compensam a longo prazo.
Diminuição nos casos da Síndrome de Burnout
A semana de 4 dias permite que os trabalhadores tenham mais tempo para cuidar de sua saúde física e mental. Com um dia extra de folga, eles podem agendar consultas médicas, praticar exercícios, passar mais tempo com a família e amigos, ou simplesmente relaxar. Isso contribui para a redução do estresse e do esgotamento, melhorando a qualidade de vida geral.
Gabriela afirma que os funcionários ficam mais felizes, o que impacta na qualidade profissional. “Cada ambiente de trabalho é único. Portanto, o que funciona para uma organização pode não funcionar para outra. O importante é manter um canal de diálogo aberto com seus funcionários e estar disposto a experimentar novas abordagens para melhorar o bem-estar no local de trabalho”. Para a diretora, investir em uma semana de quatro dias é uma” estratégia de melhoria de negócios centrada em trabalhar de forma mais inteligente, em vez de mais”. Isso inclui uma mudança de medição baseada em horas trabalhadas para a medição baseada em resultados, o que, segundo ela, pode melhorar a produtividade, a satisfação no trabalho e a lealdade à marca.
“A sobrecarga e longas horas de trabalho estão adoecendo as pessoas, e nossa abordagem visa combater essa cultura de excesso de trabalho, que infelizmente é prevalente em nosso país”, acresenta.
As diferenças em implantar a semana de 4 dias no Brasil e em outros países
A implementação da semana de 4 dias pode apresentar diferenças significativas entre o Brasil e outros países. A cultura, a legislação, condições econimocas, mentalidade e aceitação devem ser consideradas. A executiva explica que, um dos desafios no Brasil estão em contraste com a cultura de trabalho excessivamente intensa e agitada, a Hustle Culture.
“O experimento no Brasil permite criar modelos diante de nossa realidade única. Temos que considerar que a semana de 4 dias está sendo adotada de forma recente, com (ainda) poucas empresas nacionais para trocar experiências. Pensaremos na logística de como fazer a semana de 4 dias de trabalho funcionar no Brasil considerando clientes, tamanhos, padrões profissionais e a realidade brasileira, levando pra conta que nosso país é grande e em cada região vamos esbarrar com questões culturais, de contratação e de rendimento.”
Embora o novo modelo ainda seja uma ideia em desenvolvimento, os benefícios potenciais são evidentes. Aumento da produtividade, melhoria da saúde e bem-estar, estímulo à criatividade, benefícios ambientais e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal são apenas algumas das vantagens que podem ser alcançadas. À medida que a sociedade evolui e busca novas formas de organização do trabalho, é importante considerar a implementação de modelos mais flexíveis que atendam às necessidades dos trabalhadores e promovam uma vida mais equilibrada.
“Muitas empresas já poderiam ter adotado uma jornada reduzida, mas podem enfrentar o desafio de estar sobrecarregadas por reuniões intermináveis e distrações. Nosso objetivo é auxiliá-las a superar esses obstáculos, implementando práticas de trabalho mais eficientes e eficazes, para que possam colher todos os benefícios da 4 semana de 4 dias”, conclui Gabriela.
Fonte: Forbes Brasil