Quem não mede não gerencia. Com esse desafio em mente, a Natura resolveu desenvolver, ao longo dos últimos anos, uma metodologia para mensurar em valores financeiros seu impacto social e ambiental ao longo de toda a cadeia. O chamado IP&L (Integrated Profit & Loss) foi lançado em maio deste ano e trazendo um dado novo: em 2021, a empresa gerou R$ 1,50 em benefícios para a sociedade para cada R$ 1 de receita da marca.

A Natura não divulga quanto investiu em recursos financeiros ou em capital humano para desenvolver a ferramenta. Mas, segundo Silvia Vilas Boas, CFO da Natura &Co América Latina, foi uma jornada longa e complexa porque não havia no mercado nem na academia uma referência que pudesse ser copiada. “A opção por uma metodologia interna foi por ausência de qualquer outra que pudesse endereçar o tema”, diz a executiva.

A saída foi associar-se ao máximo possível de organizações que estavam falando sobre esse assunto, para ajudar no processo de construção da metodologia.

A jornada começou entre 2014 e 2016, buscando esmiuçar o impacto ambiental da cadeia de fornecimento do óleo de palma, um ingrediente importante para produtos da Natura. “Isso nos permitiu começar a fazer boas escolhas em relação a quais eram os fornecedores que a gente queria manter e quais não estavam gerando o impacto esperado, mas podiam ser melhor desenvolvidos”, diz Silvia.

A partir de 2017, a empresa foi ampliando essa metodologia para poder medir o impacto social. Em 2020, conseguiu fazer uma combinação, mensurando cada um desses impactos da mesma forma que mede os impactos financeiros.

O desafio de não parar no meio do caminho

Silvia dá alguns exemplos para ilustrar a complexidade do trabalho que foi desenvolvido. Um deles envolve a jornada das consultoras de venda, um pilar importante da companhia em relação a capital humano – e, em geral, mulheres que não tinham uma renda formal. A empresa não calculou apenas quanto cada consultora recebe por mês, mas comparou também essa informação com padrões internacionais de renda digna no Brasil ou  no México, por exemplo.

“Se a renda da consultora é igual ou superior à renda mínima digna, ela impacta positivamente no IP&L integrado. Se esta renda é abaixo da renda digna, ela subtrai valor do IP&L integrado”, afirma Silvia.

Dentro da rede, segundo ela, há as consultoras mais engajadas, que estão na empresa há mais tempo e acima do patamar de renda digna. Por outro lado, entre as que estão começando, a grande maioria está abaixo desse patamar. Com esses dados, a empresa busca entender como acelerar a migração das consultoras para as jornadas superiores, e oferece insumos como treinamento, plataforma digital de relacionamento com os clientes e crédito.

“Se eu pensasse :‘a Natura está gerando de R$ 2 bilhões de renda para essas mulheres’, eu poderia ficar bastante feliz, concorda? E a maioria das empresas para aí. A gente quer melhorar o bem-estar dessa consultora. Essa é a diferença”, diz Silvia.

O IP&L integrado é composto por diversos indicadores, e cada um deles é medido com determinada periodicidade – mensal, trimestral, anual etc. Atualmente, a ideia é ter uma medição anual do impacto da empresa. Porém, o plano é avançar ao longo do tempo.

“O nosso objetivo é evoluir para que consigamos mensurar esses impactos a cada trimestre, como fazemos com nossos resultados financeiros”, afirma Silvia.

Processo de inovação aberta

Com a metodologia debaixo do braço, a empresa agora quer agora divulgá-la o máximo possível para ajudar outras empresas a evoluírem nesse processo. Silvia conta que têm sido feitos webinars com membros da academia e do meio corporativo – sem citar nomes de empresas -, do Brasil e de outros países onde a empresa atua, respondendo perguntas e dando dicas de como começar. Também foi desenvolvido um documento técnico com detalhes da metodologia.

“Essa jornada é uma jornada que a gente precisa que mais gente embarque. Os problemas que temos são muito complexos e não vamos conseguir resolver sozinhos”, diz a executiva.

“A grande beleza dessa metodologia é conseguirmos entender o valor das companhias como agentes de transformação. Quando você coloca valor, o mercado entende.”

Fonte: Época Negócio

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