Para Hougaard e Carter, ferramentas de IA podem ajudar na consistência de trabalho e, por consequência, destacar as melhores qualidades humanas
Desde a popularização das ferramentas de inteligência artificial, que demonstraram a capacidade de automatizar diversas funções humanas, há um crescente debate sobre seu impacto no futuro do trabalho. Dois pesquisadores americanos buscaram entender como a tecnologia pode influenciar a formação de líderes.
No próximo livro que irão publicar, Rasmus Hougaard, CEO da Potential Project, e Jacqueline Carter, diretora da empresa, revelam que, apesar dos riscos e desafios que a IA apresenta para diversos setores, ela pode transformar os humanos em líderes melhores. Eles apontam que a IA pode inaugurar uma “nova era para a liderança humana”, capaz de aprimorar relações de trabalho e resultados financeiros.
Com mais de 15 anos de experiência em análises corporativas, Hougaard e Carter conversaram com mais de 100 CEOs e executivos de alto escalão de grandes empresas, como Accenture, Cisco, Starbucks, Citibank, Eli Lilly, Ikea e Visa. Além disso, entrevistaram especialistas em IA e realizaram pesquisas com mais de 2.500 líderes e funcionários ao redor do mundo.
Em uma prévia publicada pela Harvard Business Review, Hougaard e Carter destacam que o uso da IA por líderes gera “grande emoção”, pois a eficiência proporcionada pela tecnologia pode melhorar a experiência humana no trabalho. Eles citam a declaração de Nhlamu Dlomu, chefe de RH da KPMG: “Com o poder e o potencial da IA, os líderes têm uma rara oportunidade de repensar e redefinir o trabalho e a liderança, tornando a experiência mais positiva para todos e melhorando os resultados financeiros.”
Uma nova era
Para os pesquisadores, as ferramentas de IA podem aprimorar a consistência no trabalho e destacar as qualidades humanas. “A IA pode atuar como um exoesqueleto para a mente e o coração de um líder. Assim como um exoesqueleto fortalece o corpo físico, a IA pode fortalecer nossas capacidades cognitivas, emocionais e sociais”, explicam.
Eles esperam que as ferramentas de IA melhorem nossas capacidades cognitivas, permitindo processar grandes quantidades de informação rapidamente e tomar decisões eficazes. Em termos emocionais, a IA pode aprofundar a compreensão sobre os funcionários e oferecer conselhos sobre o melhor caminho a seguir. No aspecto social, a IA pode ajudar a entender a dinâmica da equipe e promover um ambiente diversificado e psicologicamente seguro.
Contudo, a tecnologia, por si só, não é suficiente. Sua adoção deve estar alinhada com o desenvolvimento humano. Para os pesquisadores, confiar exclusivamente na tecnologia seria como “comprar uma Ferrari top de linha, mas ignorar a habilidade de dirigir”.
O estudo sugere que, no contexto da liderança corporativa, a IA deve ser utilizada para aprimorar percepção, discernimento e tomada de decisões, em um princípio denominado “tanto/quanto” — integrando o melhor da humanidade e da máquina na prática de liderança.
Entre as principais características identificadas para líderes dessa nova era estão a consciência, a sabedoria e a compaixão, aliadas ao uso da IA. A consciência permite que os líderes observem o cenário e desenvolvam um entendimento aguçado do ambiente. A sabedoria é a capacidade de tomar decisões baseadas em dados e experiência, sem influência do ego. A compaixão envolve a capacidade de empatizar e agir com sensibilidade em relação às emoções e necessidades dos outros.
A IA expande o conhecimento do líder, aumentando conexões e utilizando algoritmos, e não emoções humanas, para decisões que poderiam ser influenciadas por preconceitos.
O estudo revela que líderes com alta consciência, sabedoria e compaixão estão muito mais preparados para se tornarem líderes com habilidades ampliadas pela IA.
“[Eles] são excelentes em aproveitar sua força humana, tanto no fornecimento de contexto quanto na identificação de conteúdo de IA relevante para os objetivos atuais. São habilidosos em fazer perguntas perspicazes e em avaliar respostas criteriosas fornecidas pela IA. E são mestres em liderar com o coração e em utilizar insights de algoritmos de IA”, concluem Hougaard e Carter.
Por Jasmine Olga